Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Aprendizagem colaborativa na Comunidade de Práticas: interação e autonomia para a qualificação do trabalhador do SUS
FERNANDA FERREIRA MARCOLINO, Thiago Petra, Juliana Rodrigues Vargas, Felipe de Oliveira Lopes Cavalcanti

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


APRESENTAÇÃO: No âmbito da formação pedagógica dos trabalhadores da saúde pública observamos que, a partir do universo de possibilidades advindas das novas tecnologias de comunicação e informação, ainda há dificuldades existentes no desenvolvimento de novas abordagens educacionais ou no uso dinâmico e potente destas tecnologias. Partindo de uma discussão acerca dos conceitos de educação permanente em saúde e aprendizagem colaborativa, o objetivo deste relato é analisar o ambiente de cursos da plataforma colaborativa Comunidade de Práticas do Ministério da Saúde, a partir das suas possibilidades de interação e autonomia do aprendiz. DESENVOLVIMENTO: A CdP foi criada com a proposta de se constituir como dispositivo de encontros, de compartilhamento e de reflexões, reunindo tecnologias de informação à prática de saúde na Atenção Básica. Foi lançada no dia 7 de março de 2012, durante o I Fórum Nacional da Atenção Básica, em Brasília/DF. Inicialmente, o foco da plataforma era o de promover o sentido de comunidade e o aprendizado entre os participantes até que, em 2014, a organização da IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família criou uma dinâmica no evento que movimentou a plataforma virtual. O evento valorizou as experiências cotidianas e estimulou o protagonismo local dos milhares de trabalhadores, gestores e usuários do SUS e reuniu quase 4 mil relatos de experiências em saúde de todo país. Nesse mesmo período também foi incorporado um espaço estruturado e específico para o processo de ensino e aprendizagem: o ambiente de cursos, com a proposta de cursos co-instrucionais. A CdP desenvolveu uma estrutura que permite a valorização da contribuição do aluno. O material é disponibilizado e, em cada apresentação, há o espaço de interação assíncrona. Não há um fórum isolado do que é discutido, e as interações são diferentes em cada material disponibilizado. Outro ponto estimulado é a abertura dos cursos, por meio do uso da licença Creative Commons, que permite que o aluno possa baixar e replicar em outros ambientes, podendo modificá-lo, com base no movimento REA (Recursos Educacionais Abertos). Por último, o aluno tem a autonomia de participar do curso conforme seu tempo. Enquanto uns realizam todo o processo em poucos dias, outros podem acessar este ambiente em meses. Não há uma motivação para a linearidade do curso, o que podemos considerar como uma experimentação de abertura e autonomia não tão comuns nos cursos tradicionais e outros AVAs. Como curso co-instrucional, o aluno é o sujeito de sua aprendizagem e cria redes com outros alunos e o próprio ambiente. Para estimular o protagonismo do aluno e o acesso a outros espaços, existe a figura do facilitador, o qual não é o de tutor nem de professor. Seu papel essencial não é o de ensinar ou responder as dúvidas sobre o conteúdo técnico apresentado aos educandos do curso, mas de auxiliá-los no uso da metodologia proposta com suas ferramentas, além de incentivá-los a trocar experiências e conhecimentos sobre as temáticas apresentadas, de uma forma horizontal, promovendo o protagonismo do aluno e da rede e a produção do conhecimento coletivo. É importante frisar que em todo o contexto da CdP, com ambientes de comunidades, perfis sociais, ambiente para compartilhar relatos de experiência e um chat público, os cursos são mais uma oferta de aprendizagem. Assim, como se explora a interação, a colaboração e o compartilhamento de práticas dos trabalhadores, a CdP também se coloca a frente de uma discussão de educação problematizadora e conectada. RESULTADOS: O primeiro curso da CdP foi lançado em fevereiro de 2014 e, até outubro de 2015, há oito curso abertos com temáticas envolvendo as práticas integrativas e complementares, as doenças crônicas, além da facilitação em ambientes de aprendizagem colaborativa, a qual é exercida na CdP. Esse modelo inovador, aberto e dialógico, nos apresenta como desafio a baixa taxa de concluintes. No conjunto de todos os cursos, a Comunidade de Práticas teve 20.107 participantes (até o dia 15 de outubro de 2015) e média de 16,15% concluintes. Estes números são apenas uma “fotografia” dentro de uma lógica aberta de educação. Entretanto, entre os concluintes a avaliação se revela positiva e pode ser evidenciada em comentários registrados. Alguns relatos de avaliação evidenciam a constituição da aprendizagem significativa, no que se refere à construção de sentidos para o objeto do conhecimento. O conteúdo do curso relaciona-se aos conteúdos prévios do aluno, exigindo dele uma atitude favorável capaz de atribuir significado próprio ao conteúdo que assimila. Também, é imprescindível incorporar o ensino e o aprendizado ao cotidiano do trabalho, no sentido de provocar a reflexão e as mudanças nas práticas, alinhado ao referencial teórico da Educação Permanente em Saúde. Desse modo, o conteúdo do curso e as atividades dos facilitadores problematizam o próprio fazer e colocam as pessoas como atores reflexivos da prática e construtores do conhecimento e de alternativas de ação, ao invés de receptores. Outro ponto importante é eleger a equipe como ponto de interação, de modo a evitar a fragmentação disciplinar. A possibilidade de troca de experiências entre os profissionais teve impacto positivo para os participantes do curso e esteve presente em algumas avaliações, evidenciando a potência da construção conjunta e o apoio entre pares. As tecnologias de comunicação e informação propiciam um alto poder de interação entre os participantes, rompendo com a ideia de espaço e tempo, o que era distante pode se tornar perto. A dimensão do tempo e do espaço é instituída a partir das necessidades, dos interesses e da vontade dos aprendizes, ampliando as possibilidades da educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A partir dessas citações, podemos considerar que a CdP se coloca no desafio de estimular a aprendizagem colaborativa, adotando  uma abordagem significativa, dialogando com a realidade do profissional da saúde. Em cada conteúdo disponibilizado, cria um espaço de interação, que não é destacada em um fórum separado (que prevê uma síntese de todo o material disponibilizado). A interação, a troca, e a abertura do ambiente são evidenciadas pelos relatos, que revela a colaboração no processo de aprendizagem. Como uma plataforma de colaboração aberta, a abordagem pedagógica da CdP incita o usuário a se colocar numa postura de responsabilidade de sua própria aprendizagem. Num formato experimental, é preciso avaliar outras questões, como esta influencia para a autonomia do trabalhador da saúde no âmbito virtual, ou dos próprios coletivos que se formam na CdP; se há, de fato, uma utilização de todas as ferramentas e espaços oferecidos; se há uma transformação do profissional em sua prática.

Palavras-chave


comunidade de práticas; educação à distância; aprendizagem colaborativa

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