Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA OS USUÁRIOS DO SUS NA SALA DE ESPERA DO AMBULATÓRIO II DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JÚLIO MÜLLER
Daniele Merisio Raimundi, Edilene Gianelli Lopes, Ilma Paula Lotufo, Izabel APARECIDA AMORIM PINTO, Tamiris Maranho Arruda, Carla Gabriela Wunsch, Maria Auxiliadora Maciel Moraes, Jéssica Dias Ferreira

Última alteração: 2015-12-09

Resumo


O Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM) é essencialmente público, situado em Cuiabá e atende pacientes referenciados pelo SUS. Atualmente é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) que presta serviços de assistência terciária, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade. Além disso, oferece serviços de apoio ao ensino, pesquisa extensão para a formação profissional em saúde na área hospitalar. Destaca-se o Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do Adulto e Idoso, com ênfase em Atenção Cardiovascular (PRIMSCAV), que está inserido no HUJM, desde 2010. Devido à manutenção de um campo de prática focada na área assistencial, com participação ativa dos residentes na reestruturação dos serviços e inovação da prática de enfermagem no âmbito ambulatorial, criou-se a consulta de enfermagem, juntamente com a Educação em Saúde com enfoque cardiovascular para os usuários no Ambulatório II. Com a implantação do Sistema Único de Saúde e a Estratégia de Saúde da Família, houve um maior impacto na questão da educação em saúde para a população brasileira, permitindo o profissional enfermeiro tornar-se agente facilitador da transformação do contexto de saúde na qual o usuário está inserido, com objetivo de favorecer o empoderamento, emancipação e a responsabilidade tanto pela sua saúde individual quanto coletiva. Somado a isso, os educandos transformam-se em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado e ao lado do educador, igualmente sujeito do processo, possibilita tornar o indivíduo ativo, crítico, independente, consciente e responsável pela sua aprendizagem (FREIRE, 1996). Cabe aos profissionais respeitarem e discutirem sobre os saberes, tanto os populares advindos da realidade do usuário quanto os da demanda clínica, no contexto da instituição de saúde. Assim, os profissionais juntamente com os usuários interagem e compartilham da compreensão e de construção do conhecimento sobre saúde em conjunto. Atualmente, alguns autores defendem que a saúde deve ser entendida dentro de um contexto dinâmico e complexo, considerando fatos intermediários, como época, momento histórico-cultural, pois a condição normal e patológica torna-se imprecisa para cada usuário que experiência o processo de adoecimento (CAMGUILHEM 2002). Considerando esse entendimento sobre saúde, para além de ausência de doença, propõe-se relatar a experiência da prática de educação em saúde com ênfase na atenção cardiovascular realizada no Ambulatório II em sala de espera, no período de março a setembro de 2015, pelas residentes de enfermagem do programa PRISCAV, tendo a duração máxima de 35 minutos por cada atividade. As temáticas abordadas partiram das demandas dos usuários e são relacionadas ao quadro epidemiológico regional/nacional e alguma patologia específica que são atendidas no ambulatório, bem como sobre o cuidado em saúde. Para dinâmica da condução do processo educativo utilizou-se de metodologias ativo-participativas, cuja proposta é inserir o máximo os usuários no processo de trocas de saberes e conhecimentos. Utilizou-se de cartazes com desenhos, rodas de conversa, maquetes, mitos e verdades sobre saúde e doença, instigando a participação sobre o tema discutido, permitindo tempo hábil para que eles perguntassem e respondessem os questionamentos levantados. Nesse resumo contabilizou-se o total de 20 (vinte) práticas de educação em saúde realizadas durante os períodos de março a setembro de 2015, correspondente as duas primeiras rodadas de campos de estágio das alunas residentes no Ambulatório de Cardiologia, este situado no Ambulatório II do Hospital Universitário Júlio Muller. A quantidade programada para a prática de educação em saúde no ambulatório ocorreu em uma média entre uma a três atividades por semana. Reunindo nessas programações um total de 265 usuários participantes. No final de cada atividade entregou-se uma ficha para a avaliação da atividade com perguntas direcionadas sobre o que se discutiu durante a atividade como: “De que forma essa atividade contribuiu para sua vida?”, ou “O que você gostaria que fosse falado em outro momento?”. Essa informação teve como principal finalidade melhorar a dinâmica e o atendimento pelo serviço de enfermagem, a partir das sugestões dos usuários. Perguntas como “O que você acha que precisa melhorar?” “O que você gostaria que fosse falado em outro momento?” contidas no questionário passaram uma ideia ambígua induzindo as respostas para a insatisfação em relação ao sistema de saúde público, aos serviços governamentais. Deste modo, levantou-se a necessidade de reformulação das questões que envolvem a opinião do usuário sobre a roda de conversa. Com a reformulação das perguntas edificamos o nível de satisfação dos participantes, com questionamento como: “De que maneira você avalia a realização desta conversa?” A totalidade (100%) dos usuários considerou ótimo, e um usuário escreveu ao lado da pergunta a seguinte frase: “Está de parabéns”.“Qual sua sugestão para que possamos melhorar a maneira de realização desta atividade?” E as respostas foram: “Nenhuma.” “Com mais frequência.” “Pra mim vocês foram ótimas e não precisam, pois foram perfeitas.” “Tá bom do jeito que tá.” “Está ótimo. Continua se puder.” “Mostrar mais imagens para facilitar a compreensão das pessoas”. No entanto, algumas facilidades e dificuldades se mostraram importantes no processo de aperfeiçoamento deste trabalho. Dentre os aspectos facilitadores estavam à receptividade dos usuários que se encontravam dispostos e cooperativos diante das atividades propostas, além disso, o trabalho contava majoritariamente com a participação da enfermeira preceptora assistencial tanto na elaboração das educações em saúde quanto na execução das mesmas. Outro ponto positivo foi o apoio da instituição com a preparação de materiais impressos e dos profissionais para sua elaboração. Contudo, as dificuldades estavam presentes na estrutura física das salas de esperas, apresentando-se como corredores que não comportavam todos os usuários dificultando maior abrangência das atividades, bem como a interrupção intermitente das chamadas para as consultas agendadas no ambulatório II. Outro e significante achado dificultador foi a pouca participação das demais áreas da saúde nas atividades, restringindo o conhecimento das abordagens temáticas propostas. Infere-se que a contribuição da Educação em Saúde no âmbito da sala de espera da instituição hospitalar ocorreu de forma positiva, principalmente, por quebrar a dicotomia existente entre cura/prevenção, saúde/doença, curativo/preventivo. Contribuindo também com êxito para a formação em saúde dos profissionais enfermeiros, constituindo-se uma base no pensamento crítico sobre a realidade e tornando-se possível pensar em educação em saúde como formas de se reunir e dispor recursos científicos para implementação do saber. Deste modo, visou alcançar a saúde e a educação como um direito socialmente emancipatório, a partir de construção coletiva na troca de experiências singulares em saúde.

Palavras-chave


educação em saúde; enfermagem; formação

Referências


CANGULHEM, Georges. O normal e o patológico. 5a ed. Rio de Janeiro: Florense Universitária, 2002.

CECCIM, Ricardo Burg; FERLA, Alcindo Antônio. Educação e Saúde: ensino e cidadania como travessia de fronteiras. Trab. Educ. Saúde, v. 6 n. 3, p. 443-456, nov.2008/fev.2009. Disponível em: <http://www.revista.epsjv.fiocruz.br/upload/revistas/r219.pdf>.  Acesso em: 10 ago 2015.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MEYER, Dagmar E. Estermannet al. “Você aprende. A gente ensina?” Interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da vulnerabilidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(6):1335-1342, jun, 2006.

MIRANDA K.C; Lima, BARROSO M.G.T. A contribuição de Paulo Freire à prática e educação crítica em enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2004; 12( 4 ): 631-35.

PEREIRA, Adriana Lenho de Figueiredo. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(5):1527-1534, set-out, 2003.