Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O PROCESSO DE IMERSÃO NAS UBS NA FORMAÇÃO MÉDICA EM PARNAÍBA/PI – UMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL
Paula Evangelista Ferreira, Vladimir Yuri Braga Ramos, Ana Savina da Rocha Amorim, Alessandra Tanuri Magalhães

Última alteração: 2015-11-03

Resumo


INTRODUÇÃO: A formação médica há muito apresenta um padrão flexneriano, quase estritamente bancário, onde o aluno é um ser passivo e, basicamente, receptor de conhecimento técnico. A mudança necessária se mostra um desafio frente ao tradicionalismo presente em um meio tão hegemônico e, por diversas vezes, excludente. A reestruturação das faculdades de Medicina, regulamentada pelo Programa Mais Médicos, se dá através de diversos eixos, entre eles a implantação de novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Com grande impacto a médio e longo prazo, essa medida tem como objetivo geral buscar a formação de profissionais preparados para cuidar integralmente da pessoa, mais que, biologicamente, da doença. Porém, uma oferta de cuidado integral, preconizado também pelo Sistema Único de Saúde (SUS), vai muito além do profissional médico e necessita de um trabalho em equipe multidisciplinar e horizontal. Assim, o curso de Medicina implantado na cidade de Parnaíba/PI em 2014, busca essa mudança de perspectiva na formação médica, questionando o padrão hegemônico reproduzido atualmente. A partir da vivência em dois diferentes processos de imersão em Unidades Básicas de Saúde (UBS) no município de Parnaíba/PI, através do Programa de Educação pelo Trabalho (PET) Saúde e como alunos de Medicina da Universidade Federal do Piauí, no módulo de Atenção Primária à Saúde (APS), visaram comparar e avaliar aspectos de cada experiência, ressaltando a necessidade e importância do trabalho multidisciplinar para a formação médica. MÉTODOS: O método utilizado para o trabalho foi a pesquisa exploratória em UBS do município de Parnaíba/PI e no respectivo território adscrito. Em ambos foram realizadas visitas domiciliares, acompanhados dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), acompanhamento de usuários nas unidades, além de atividades de promoção à saúde. No módulo de APS as visitas ocorreram na UBS Maria de Lourdes Rodrigues Santos, na comunidade da Pedra do Sal, e na UBS Enfermeira Samaritana Maria Monteiro, entre setembro de 2014 e julho de 2015, onde os alunos foram acompanhados por professores do curso de Medicina da UFPI, não relacionados com os serviços. A vivência com o PET-Saúde/Rede Cegonha ocorreu entre abril e agosto de 2015, inicialmente na UBS Broderville e posteriormente na UBS Samaritana, nos turnos da manhã e da tarde, em dias variados. As visitas foram realizadas por grupos de alunos de diferentes cursos, acompanhados pelo ACS e/ou pela equipe da unidade, assim como nas atividades dentro da UBS, onde contávamos também com a presença de preceptores, que eram profissionais relacionados ao serviço. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O módulo de APS, que se faz presente durante todo o curso de Medicina, possibilitou vivenciarmos durante o primeiro período, o conhecimento do território, a partir do acompanhamento do trabalho dos agentes comunitários de saúde. Esse processo possibilitou a compreensão, na prática, de como os determinantes sociais de saúde interferem no processo saúde-doença de toda uma comunidade. A partir daí novos conceitos se formaram, e a importância da avaliação do território no qual se está inserido ficou clara, propiciando assim uma oferta de cuidado regionalizada, que respeita as peculiaridades locais. No segundo período, o momento foi de conhecimento das Redes de Atenção à Saúde através da entrada no espaço físico dos serviços de saúde, principalmente das UBS, o que tornou possível a formação de uma visão ampliada dos entraves encontrados pela população na busca pelo pleno acesso à saúde, assim como a percepção de potencialidades onde poderemos atuar a fim de otimizar o sistema já existente. Durante esse semestre, além das atividades desenvolvidas nas UBS, foram realizadas visitas em diferentes dispositivos da rede, tanto da atenção primária, quanto da rede especializada e de alta complexidade. Com isso conseguimos observar, muito além da teoria, o funcionamento e a interligação dos serviços. A inserção no PET-Saúde, Rede Cegonha, se deu em um momento no qual o programa já estava estabelecido há mais de 1 ano. A busca pelo programa, e por essa rede em específico, aconteceu exatamente devido às potencialidades vistas no módulo de APS, onde a Educação Permanente em Saúde e a conexão entre os serviços se mostraram frágil. Com o PET-Saúde realizamos diversas atividades, algumas inclusive semelhantes às realizadas anteriormente, com foco nas gestantes, puérperas, recém nascidos e crianças até 2 anos. Foram feitas visitas domiciliares para acompanhamento do público alvo, acompanhamento de consulta de enfermagem e pré-natal, acolhimento na unidade de saúde e atividades de promoção à saúde. Um dos focos das ações foi à formação de um Grupo de Gestantes, onde reuníamos equipe, alunos, gestantes e puérperas em rodas de conversa quinzenais com temas de interesse do público alvo, buscando criar um canal aberto entre usuárias e equipe, possibilitando uma troca de informações produtiva para ambos os lados. A principal diferença aqui é o fato de lidarmos agora com um grupo multidisciplinar, onde alunos e profissionais de diferentes formações, como Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e Medicina, se encontram na tentativa de ofertar um serviço integral aos usuários, além de realizar uma aprendizagem coletiva e multiprofissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: No processo de imersão proporcionado pelo PET-Saúde ficou patente que apesar do módulo de APS propiciar o contato com diferentes profissionais, o fato de todos os alunos serem acadêmicos de Medicina se torna um fator limitador. Com o grupo multidisciplinar formado no PET-Saúde, diferentes visões são apresentadas, assim como diversas formas de cuidado, o que torna a experiência incrivelmente mais rica e produtiva. Um trabalho em equipe horizontal e integrado, se mostrando inicialmente desafiador. Mas, a construção do respeito mútuo com diferentes visões e saberes acabam por ser potencializador na formação de profissionais capazes de oferecer à população um serviço de qualidade, que atenda às reais necessidades, garantindo o acesso pleno e integral às políticas públicas de saúde. Entende-se por fim que a formação em saúde, e não apenas médica, deixa a desejar no sentido de expor os futuros profissionais a cenários reais de prática, onde o trabalho é realizado pelo coletivo, e não por um único profissional. Assim, um programa como o PET-Saúde se mostra transformador, com sua constante busca por formar profissionais que compreendam o verdadeiro significado de trabalho em equipe, modificando não apenas o indivíduo, mas toda a sociedade na qual ele está envolvido.

Palavras-chave


PET-Saúde; Formação Médica; Multidisciplinaridade; Ensino em saúde

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde).

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Mais Médicos – Dois anos: mais saúde para os brasileiros / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – Brasília : Ministério da Saúde, 2015

MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. / Eugênio Vilaça Mendes. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. 549 p.: il.BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria RAS - PORTARIA Nº 4.279, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2010 - Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2010.