Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ANÁLISE DE DISCURSO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
João Carlos Gomes Fabrini, Conrado Neves Sathler, Catia Paranhos Martins

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


INTRODUÇÃO: Este relato de experiência é um recorte do Projeto Extensão "Acompanhamento e apoio técnico ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ AB)" e foi se delineando durante as Supervisões do Estágio Supervisionado em Psicologia Social e Comunitária da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). A experiência na Atenção Básica na cidade de Dourados nos fez compreender que o Agente Comunitário de Saúde (ACS) se tornou essencial para a promoção e prevenção de saúde (PINTO e FRACOLLI-2010), com orientações e aconselhamentos aos usuários, assim gerando uma melhora na qualidade e agilidade dos atendimentos na Unidade Básica de Saúde (UBS). Com toda essa importância, o trabalho do ACS veio com muitas responsabilidades e marcado pela crescente demanda de serviços, por conta do grande aumento de população em determinadas regiões da cidade. O aumento de população e de famílias cadastradas têm causado uma sobrecarga de trabalho, pois o território não foi redimensionado. Assim, o mesmo ACS que era responsável por atuar em uma determinada região, com um número de família previsto teve que se flexibilizar para atender o aumento da demanda. Isso veio com um enorme prejuízo para o Agente e para o serviço. Com essa sobrecarga de trabalho ocorreram muitos pedidos de afastamentos de suas funções por conta de forte carga emocional, além de problemas físicos por conta da locomoção a pé em grandes áreas de atuação, com ruas de terra e exposição ao sol com altas temperaturas. Com os afastamentos ocorreram diversos problemas com as áreas sem cobertura de responsabilidade da UBS. Nossa atuação é orientada pela análise do discurso e objetiva compreender mais sobre o trabalho do Agente de Saúde e assim podemos aprofundar o conhecimento sobre esse profissional e a importante tarefa que tem na Atenção Básica à Saúde. Buscamos ouvir a opinião do Agente sobre o SUS, o local de trabalho, o que poderia se feito para mudar, as maiores dificuldade e os prazeres na realização de seu trabalho. DESENVOLVIMENTO: É necessária uma investigação de como superar as dificuldades enfrentadas pelos ACS, e quais são seus sofrimentos, queixas e sugestões de como seria possível uma melhor forma de realizar seu trabalho. E, também, como fazer para um melhor reconhecimento de sua função para os outros profissionais e para usuários. Na atividade em andamento temos acompanhado os ACS durante a realização de sua função (em visitas domiciliares, nos programas oferecidos pela UBS, como o HiperDia e Puericultura, entre outros). Durante as visitas que os ACS realizam através do acompanhamento é verificado como é seu trabalho, como são realizados atos e conversas com os usuários, como são feitas as orientações e encaminhamentos e as dificuldades encontradas. Ao término das visitas, são realizadas conversas informais para entender o que o ACS pensou sobre a visita realizada, o que ele tem a dizer sobre essa visita, se teve dificuldade, qual tipo, como poderia ser resolvida, se é um problema com o usuário ou com o sistema de trabalho da UBS. O trabalho também é realizado por meio de escuta e análise nas rodas de conversa (reuniões de equipe e momentos informais) dos ACS com os usuários e com os demais colegas de trabalho da equipe da UBS. Através da escuta e das conversas entre eles foram adquiridas muitas informações concretas sobre o que realmente estão pensando sobre os serviços, seus superiores, gestores, equipes e usuários. Notamos a ausência de qualquer menção sobre o Conselho Gestor da unidade ou, ainda, sobre o Conselho Municipal de Saúde. RESULTADOS: Durante o tempo de estudo sobre os ACS foram levantadas varias teses e notamos vários problemas encontrados tanto na UBS, como também dificuldades encontradas que extrapolam o próprio poder da Estratégia da Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2012). Um dos problemas encontrados na unidade de saúde é a falta de materiais para a realização do trabalho do ACS, como papéis, impressoras, computadores, internet e meios de locomoção. Além de problemas matérias há também a sobrecarga de trabalho devido aos muitos pedidos da equipe e também da chefia, além do alto número de famílias a serem visitadas. Outro problema observado foi à falta de reconhecimento, visto também em outros lugares (LEVY, MATOS, TOMITA, 2004). O ACS se refere a sofrimento, pois sabe que o seu trabalho tem uma grande importância, mas não se sente reconhecido, tanto pela equipe quanto pelos usuários. Embora tenha todas as dificuldades o ACS consegue realizar sua função com muita competência. Questionado um ACS sobre o que acontece quando o usuário a quem ele teria que entregar um encaminhamento não está em casa. Ele me responde que faz o possível para que a pessoa não perca a consulta, realizando varias visitas a essa residência tanto a noite, como em feriados ou em dias e horários que não estão em sua carga horária. Em outras visitas foi visto como os usuários confiam nos ACS, contando coisas pessoais, e problemas da vida. Isso mostra como o ACS tem um papel fundamental nas vidas de usuários, que se sentem muito feliz ao receber a visita, e enxergam o ACS como um amigo. Também é notável o conhecimento que o ACS tem sobre os usuários, ele sabe qual usuário necessita de uma atenção mais especial, quais sofrem violência, quais têm problemas com família e parentes, quais estão passando dificuldades financeiras e várias outras coisas. Eventualmente, encaminhamentos são perdidos e famílias mais trabalhosas são negligenciadas devido ao excesso de trabalho do ACS, este problema não é assumido pela ESF ou pela Secretária Municipal de Saúde com problemas administrativos, mas tomados como problemas a serem resolvidos pelos ACS de forma individual. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O que podemos observar é que ocorre uma falta de atenção e investimento no profissional que tem uma função primordial para a saúde da população. Além disso, destacamos a falta de materiais e de reconhecimento, tanto por parte dos usuários, como dos outros funcionários que trabalham na UBS, bem como dos gestores. Somamos ainda as dificuldades em atender as demandas impostas, a sobrecarga tanto emocional quanto física. Fica também notável que não foi dada a devida atenção ao grande crescimento populacional e a distribuição de vagas de ACS na própria UBS, assim a não redistribuição e o mau dimensionamento das microáreas sobrecarrega e prejudica de várias formas os serviços da Atenção Básica de Saúde.

Palavras-chave


Psicologia da Saúde, Atenção Básica à Saúde, Integralidade

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Série E. Legislação em Saúde). PINTO AAM, FRACOLLI LA. O trabalho do agente comunitário de saúde na perspectiva da promoção da saúde: considerações práxicas. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2010 out/dez;12(4):766-9. Available from: <http://dx.doi.org/10.5216/ree.v12i4.7270> Acesso em 07 out.2015/ LEVY, Flávia Mauad; MATOS, Patrícia Elizabeth de Souza; TOMITA, Nilce Emy. Programa de agentes comunitários de saúde: a percepção de usuários e trabalhadores da saúde. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 20, n. 1, p. 197-203, Feb.  2004 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2004000100036&lng=en&nrm=iso>. access on  08  Oct.  2015.