Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Assentamento Ambrósio: um instrumento de transformação social - relato de experiência do VER-SUS Centro Sul Piauiense
Edirlane Soares do Nascimento, Leydiane Gleici Oliveira Medeiros

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


APRESENTAÇÃO: O VER-SUS - Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde - surgiu da necessidade de estimular a formação de trabalhadores para o SUS, comprometidos eticamente com seus princípios e diretrizes, e que se entendam como agentes sociais e políticos capazes de promover transformações na sociedade. O referido projeto é uma proposta do Ministério da Saúde, em parceria com a Rede Unida, a Rede Governo Colaborativo em Saúde/UFRGS, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Conselho de Secretários de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), e o apoio da Organização Panamericana da Saúde (OPAS). O projeto objetiva realizar estágios de vivência para que estudantes universitários tenham a oportunidade de vivenciar a realidade do SUS e, qualificar-se para a atuação no sistema de saúde. Diante disso, os estágios de vivências constituem, portanto, importantes dispositivos que permitem aos estudantes desenvolver o senso crítico através de debates a cerca da realidade do SUS e experimentar um novo espaço de aprendizagem que é o cotidiano de trabalho das organizações de saúde, entendido enquanto princípio educativo e espaço de desenvolvimento de processos de luta dos setores do campo da saúde, possibilitando a formação de profissionais comprometidos ética e politicamente com as necessidades de saúde da população. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi relatar a relevância de vivenciar na prática a participação social e cultural de um assentamento durante a imersão no VER-SUS Centro Sul Piauiense, versão 2015.2. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência, com abordagem qualitativa, e caráter descritivo. Sendo assim, o projeto VER-SUS Centro-Sul Piauiense teve uma duração de 12 dias, compreendidos entre 03 e 14 de agosto de 2015, na cidade de Picos-PI, constituído também de visitas técnicas nos dispositivos de saúde das cidades de Oeiras e Ipiranga do Piauí, contando com a participação de 16 viventes, 04 facilitadores, 04 acadêmicos e 01 professor que compunham a comissão organizadora, totalizando 25 participantes da área da saúde e outras áreas afins, de instituições de ensino superiores públicas e privadas. Durante a imersão participávamos de seminários, oficinas, devolutivas e vivências em que eram compartilhados conhecimentos sobre gestão dos sistemas, estratégias de atenção, exercício de controle social e processos de educação na saúde. Assim, a vivência deu-se no assentamento Ambrósio no dia 05 de agosto de 2015, localizado na localidade de Geminiano, distante pouco mais de 10 km da cidade de Picos. Durante a experiência, fomos recepcionados pela dona Gorete e seu esposo Francisco Canindé que são considerados militantes responsáveis por forte participação popular juntamente com a comunidade tratando de interesses que vão desde a saúde, questões agrárias e entre outras políticas públicas na microrregião. Escutamos dos mesmos como se deu o processo de formação e construção do presente assentamento, quem foram as primeiras famílias a habitarem e se alocarem nessas instâncias, os principais desafios e conquistas da população em todo o processo de fazer saúde. RESULTADOS: O assentamento Ambrósio começou a ser construído aproximadamente nos anos de 1987, com a montagem de “piques” realizados por posseiros que chegavam à área para poderem se instalar ali. Através dos relatos dos moradores, o referido assentamento, possui atualmente uma faixa de 220 famílias e logo após a instalação dos posseiros e suas respectivas famílias, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) passa então a tomar frente das regulamentações e delimitação dessas terras, o que acabou conferindo um processo de aceleramento de construção das casas. Um aspecto muito importante e que chamou bastante atenção foi de que a população da localidade são pessoas simples, com pouco grau de instrução, mas que possuem e utilizam de conhecimentos empíricos para a busca da promoção e manutenção de sua saúde, através do conhecimento/saber popular buscando sempre coletividade na comunidade. Diante disso, pudemos perceber que, apesar das conquistas, existem dificuldades inerentes, principalmente no tocante à saúde da comunidade, um exemplo, é o Posto de Saúde Agrovila Ambrósio, construído pela própria população do assentamento Ambrósio, e que, não dispõe de uma boa estrutura física, falta recursos (físicos e humanos) e serviços de qualidade para a comunidade. No presente posto o atendimento é realizado até o momento da vivência apenas 2 vezes por mês, em que este é composto por uma equipe de 01 médico (realiza atendimento uma vez por mês), 01 técnica em enfermagem, 01 enfermeiro e 01 agente comunitário de saúde, observando ainda que os usuários dos serviços de saúde e a própria equipe de saúde necessitam e reivindicam por um profissional de Educação Física para realizarem práticas corporais planejadas e supervisionadas pelo mesmo, o que resulta no ato da enfermeira realizar algumas práticas com a população em virtude da ausência do profissional capacitado. A própria equipe do posto de saúde relatou que necessitam de um médico gastroenterólogo e um obstetra, uma vez que a demanda para esse tipo de serviço segundo eles, é muito grande. Observamos ainda que o serviço primário quando o mesmo não consegue suprir a necessidade da comunidade, esses são assistidos por outra unidade de saúde, que fica localizada em Cacimbinha, que é um ponto de continuidade do assentamento, o que nos faz refletir sobre ainda ter o que melhorar. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Torna-se relevante salientar que para os viventes se aproximem do cenário de lutas, das conquistas e desafios inerentes ao SUS, a vivência deverá proporcionar e/ou criar essa oportunidade aos participantes, para que estes possam enraizar as discussões sobre o trabalho em equipe, gestão, atenção à saúde, educação e controle social, o qual demonstra claramente os objetivos operantes do VERSUS, em que o leque de atividades oferecidas deve ser amplo e diversificado. Possibilitando refletir as características dos territórios vivenciados/visitados, com suas demandas singulares. Diante disso, podemos considerar que a potência de aprendizagem que habita no cotidiano da saúde, bem como nos dispositivos sociais de geração de saúde como as associações, conselhos participativos, grupos e a cultura local são imprescindíveis para uma maior aproximação e reflexão a cerca do SUS. Isso reforça a ideia de que a presença dos movimentos sociais e assentamentos no projeto VERSUS contribui significativamente para a reflexão crítica dos participantes, viventes, acadêmicos por meio de uma ótica diferenciada, o que nos faz reconhecer o assentamento como um forte candidato e instrumento de transformação social, ou seja, um importante dispositivo de articulação comunitária para e no fazer saúde, contribuindo para uma efetivação mais consistente do nosso SUS.

Palavras-chave


Assentamento; Participação Popular; SUS

Referências


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