Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Rede Cegonha no Estado de Mato Grosso do Sul: análise dos indicadores de mortalidade e morbidade
Patricia Marques Magalhães, vera Lucia Koadjaoglanian, MARA LISIANE DE MORAES DOS SANTOS

Última alteração: 2015-12-03

Resumo


A atenção pré-natal no Brasil, há décadas vem sofrendo alterações e implantando políticas públicas de saúde cujo principal propósito é a melhoria da qualidade assistencial prestada ao binômio mãe-filho. Diante desta preocupação o Governo inicia alterações nas redes assistenciais, desde a implantação do Programa de Saúde da Família até a organização das Redes de Atenção. Desta forma, em 2011 é lançada a Rede Cegonha (RC), que prioriza a atenção desde o planejamento familiar, passando pela atenção pré-natal até os cuidados integrais da criança até dois anos de idade. A formulação e a execução de políticas públicas para a saúde materno-infantil no Brasil instituiu-se a partir da década de 1970, com objetivo de reduzir a morbidade e mortalidade destes grupos. (CARNEIRO, 2013; DA GAMA AZEVEDO, 2006). A Rede Cegonha é uma estratégia instituída no Sistema Único de Saúde que tem o objetivo de organizar uma rede de cuidados que garanta atenção integral às mulheres. O direito ao planejamento sexual e reprodutivo e à atenção humanizada ao pré-natal, parto, puerpério e atenção humanizada ao abortamento. Tem o intuito de garantir também à criança o direito ao nascimento seguro e humanizado e ao acompanhamento até os dois anos de idade, assegurando acesso para um crescimento e desenvolvimento saudáveis. (CAVALCANTI, 2010; DA SILVA, 2011). O problema que constitui o fio condutor para deste estudo e análise dos indicadores de saúde associados à Rede Cegonha (RC), antes e após a sua implantação no estado de Mato Grosso do Sul. Por ter participado da implantação da Rede Cegonha nas equipes de Estratégias de Saúde da Família em um município deste Estado e estar à frente da coordenação da Atenção Básica, houve a necessidade de investigar o que ocorria em todo o estado com a implantação da RC e proceder a uma comparação entre as diferentes macrorregiões de saúde, verificando se ocorreu ou não a melhoria de indicadores de saúde e, por acreditar que esta estratégia, pode alavancar avanços na saúde materno-infantil. Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo analisar a implantação da Rede Cegonha no Estado de Mato Grosso do Sul, através da análise dos indicadores de mortalidade e morbidade materno-infantil antes e após a implantação da Rede Cegonha. No estudo foram comparados indicadores da Matriz Diagnóstica da Rede Cegonha, dos municípios de Mato Grosso do Sul. As análises foram feitas separadamente por Macrorregião de Saúde, sendo elas quatro Macrorregiões: Campo Grande (34 municípios), Corumbá (2 municípios), Dourados (33 municípios) e Três Lagoas ( 10 municípios). Para o estudo foram coletados dados de dois períodos distintos, antes e após a implantação da Rede Cegonha no Estado: janeiro de 2011 a março de 2012 e janeiro de 2013 a março de 2014, correspondendo respectivamente aos períodos de 1 ano e três meses antes e 1 ano e três meses após a implantação da Rede Cegonha no Estado. O período de abril de 2012 a dezembro de 2012 foi excluído por corresponder a nove meses (período de uma gestação), durante o qual houve a implantação da estratégia Rede Cegonha no Estado. A construção do banco de dados foi através de informações coletadas no DATASUS, banco de indicadores do Estado, na homepage oficial da Secretaria Estadual de Saúde. Os dados analisados foram os indicadores de atenção da Rede Cegonha: número de sífilis congênitas notificadas e números absolutos de óbitos materno, infantil e neonatal. A Rede Cegonha foi implantada em todos os 79 municípios de Mato Grosso do Sul, propondo ações inéditas frente a assistência materno-infantil, como a distribuição dos testes rápidos e alocação de recursos a todos os munícipios. Observou-se que o número de casos de sífilis congênita notificados obteve um aumento de 78,98% no período posterior a implantação da Rede Cegonha em Mato Grosso do Sul, com 157 casos confirmados no período anterior e 281 casos após sua implantação. A macrorregião de Três Lagoas foi a que obteve um aumento de 100% dos números de casos quando se comparado os períodos analisados. Logo em seguida a macrorregião de Dourados apresenta o segundo maior aumento com 86 casos notificados. A macrorregião de Campo Grande tem o maior número absoluto de casos notificados após a implantação da Rede Cegonha (176 casos), mas apresentou um aumento de 67,62% quando comparados seus períodos estudados. Corumbá foi à macrorregião que anterior à implantação da Rede Cegonha não apresentava nenhum caso de sífilis congênita, mas após a implantação confirmou três casos. Em Mato Grosso do Sul, houve uma queda de 46,51% no número absoluto de óbitos maternos, com a redução de 43 para 23 casos confirmados no período avaliado, a Macrorregião de Corumbá foi quem apresentou a maior redução, zerando o número de casos que antes à implantação eram de sete casos confirmados.  Dourados teve uma redução de 50% nos óbito maternos, seguida da macrorregião de Três Lagoas (42,86%) e Campo Grande uma redução de 21 para 15 casos, com uma variação de 28,57%. Referentes aos óbitos infantis houve uma queda em 2,76% no Estado, sendo que foram registrados 54 óbitos a menos nos períodos analisados. A macrorregião de Corumbá foi quem apresentou a maior queda (8,47%), seguida por Campo Grande e Dourados. Os óbitos neonatais foram o que apresentaram uma maior variação, sendo que houve uma redução de 54 óbitos nos períodos analisados, com uma variação a menor de 11,39%, chamando a atenção para Macrorregião de Campo Grande que apresentou uma redução de 14,56%. Corumbá apresentou uma menor variação com apenas 4,44%. A guisa de conclusão, considerando a Rede Cegonha, como uma política de saúde orientada ao pré-natal, parto, nascimento e acompanhamento da criança até os 2 anos de idade, considerando os números encontrados, tal política ainda necessita de maior envolvimento da equipes de saúde, mudanças de práticas assistenciais de saúde e facilidade do acesso e qualidade do atendimento. Os resultados finais do estudo serão encaminhados à Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES/MS), a título de conhecimento, para auxiliar no entendimento e auxílio de novas estratégias ou manutenção das já existentes para a afetividade da Rede Cegonha.

Palavras-chave


Políticas Públicas de Saúde; Avaliação de Programas e Projetos de Saúde; Mortalidade Materna; Mortalidade Infantil

Referências


CAVALCANTI, P.C.S. O modelo lógico da Rede Cegonha. 2010.25 f. - Departamento de Saúde COletiva do Centro de Pesquisa Ageu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, recife, 2010.

CARNEIRO, R.G. Dilemas antropológicoas de uma agenda de saúe pública: Programa Rede Cegonha, pessoalidade e pluralidade. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v.17, n.44, p. 49-59, 2013.

DA GAMA AZEVEDO, V. N.; LIMA, F.A.S. Importância do pré-natal na prevenção da Sifilis congênita. Revista Parene de Medicina, v.20, n.1, 2006

DA SILVA, L. C.F.P. et a. Novas leis e a saúde materna: uma comparação entre o novo programa governamemtal Rede Cegonha e a legislação existente. rev. Ambito Juridico, v.16, n.93, p 1-15, 2011.