Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
O território e as redes vivas de saúde numa comunidade flutuante no Amazonas
Júlio Cesar Schweickardt, Ana Paula Portela
Última alteração: 2015-10-30
Resumo
APRESENTAÇÃO: O presente trabalho propõe uma investigação sobre um espaço muito diferenciado no território amazônico, que é uma comunidade flutuante denominada Catalão. Esse é um território verdadeiramente líquido, pois as casas foram construídas sobre troncos de madeira e, portanto, se deslocam de acordo com o ciclo das águas dos rios. A comunidade se localiza no município de Iranduba, na margem direita do rio Negro, próximo de Manaus. Possui uma estrutura de energia, escola, saúde, coleta de lixo e transporte. A comunidade já existe há 35 anos têm 106 casas e conta uma associação que cuida dos interesses dos moradores. Nesse caso, podemos problematizar se essa comunidade poderia ser considerada ribeirinha, pois esta não está na margem das águas, mas está sobre ela e permanece nela de acordo com o movimento da seca e da cheia do rio Negro. A proposta se insere num projeto maior que busca fazer a relação entre a territorialidade de grupos sociais com os territórios e as redes vivas de saúde na Amazônia. O objetivo desse projeto é compreender a dinâmica social da comunidade na relação com o território e a formação de redes de saúde. A temática é relevante porque apresenta um território específico da região, que vive dentro dos padrões de sociabilidade associada à dinâmica dos rios. Interessa-nos descrever e analisar o processo de construção de redes no território líquido, que se transforma na mudança das estações de chuva e seca e que caracterizam a Amazônia. Território e Redes O território e as redes se fazem na vida cotidiana das pessoas para responder às necessidades de saúde, tanto as informais quanto a do Sistema Único de Saúde – SUS. No entanto, entendemos que a saúde está também relacionada com as questões ambientais, sustentabilidade, educação, participação social e gestão. Assim, é compreensível que a identidade social desse grupo tenha uma relação com a dimensão da organização social e com as noções de espaço e lugar. Na Amazônia, as territorialidades ganharam dimensões variadas porque agregaram questões ambientais, culturais, diversidade étnica, processo de ocupação da terra, movimentos de afirmação de algumas tradições e invenção de outras. Assim, temos um território em constante movimento e dinamismo, agregando a isso a gestão das políticas públicas sobre esse mesmo espaço. Por outro lado, não podemos esquecer que o território é desigual e campo de disputas, portanto heterogêneo. Considerar o território na Amazônia como dinâmico e complexo nos conduz à necessidade de termos políticas de saúde com estratégias diferenciadas, com um olhar atento para as especificidades e nuances que esse espaço apresenta. Nessa perspectiva, o território amazônico se constitui num espaço geográfico de múltiplas relações sociais e de poder que exige uma gestão e uma produção de cuidado que se movimente como os banzeiros e as águas, pois o rio nunca é o mesmo quando se tem o olhar atento e perspectivo. Neste sentido, norteiam esta proposta algumas questões: Como estes sujeitos constroem sua identidade nesse espaço social? Como os moradores acessam os serviços da rede de saúde? Quais as redes de saúde que são acessadas por esses sujeitos no território vivo? Como a política de saúde identifica e compreende esse grupo social? Qual a noção e uso do território dos moradores? Como os serviços de saúde e suas equipes têm olhado para estes sujeitos? Em outro ângulo, qual a percepção das pessoas sobre o cuidado ofertado pelos serviços de saúde? Como a promoção à saúde se relaciona com as práticas e o espaço social? Como esses sujeitos constroem o seu cuidado? METODOLOGIA: Os referenciais teóricos do estudo serão norteados pela discussão das redes vivas e micropolítica do cuidado propostos por Merhy (2007), Franco e Merhy (2013) e Gomes e Merhy (2014). As referências de território vivo Merhy (2007) e Passos, Kastrup e Escóssia (2009); Ferlaet al. (2015). Além disso, utilizaremos como referencial a produção das pesquisas do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA, especialmente em relação à educação permanente em saúde e a regionalização, organizada por Schweickardtet al. (2015). A metodologia será de pesquisa participante com a participação ativa dos comunitários em todos os momentos da pesquisa, portanto, a pesquisa é de natureza compartilhada. Os comunitários serão convidados a participar da pesquisa como pesquisadores e participar ativamente da construção do conhecimento. Realizamos atividades com a comunidade, portanto já estão na nossa rede de colaboração. Por outro lado, realizaremos uma prospecção com os profissionais de saúde da rede de saúde para que possamos nos aproximar das percepções desses sobre a comunidade. O recurso do diário de campo será utilizado como uma forma de cartografar o território de vida dos moradores do Catalão. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados desta pesquisa pretendem contribuir com as políticas públicas e com o próprio movimento dos comunitários tanto no aspecto da identidade como da participação social na saúde. A pesquisa contribuirá com o mapeamento de um território específico na Amazônia, com a proposta de dar visibilidade às diferentes territorialidades aos diferentes grupos sociais. Desse modo, o presente trabalho traz a contribuição para o debate sobre os territórios sociais e as redes de saúde na região Amazônica.
Palavras-chave
Território, Gestão, Saúde Coletiva, Amazônia
Referências
FERLA, Alcindo Antônio; ROCHA, Cristianne Maria Famer; DIAS, Míriam Thaís Guterres; SANTOS, Liliane Maria dos (orgs). Redes vivas de educação e saúde: relatos e vivências da integração universidade e sistema de saúde. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2015.
FRANCO, Túlio Batista; MERHY, Emerson. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013.
GOMES, Maria Paula Cerqueira; MERHY, Emerson (orgs). Pesquisadores IN-MUNDO: um estudo da produção do acesso e barreira em saúde mental. Porto Alegre: Rede Unida, 2014.
MERHY, Emerson. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia e ESCÓSSIA, Liliana da (Orgs). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.
SCHWEICKARDT, Júlio; SOUSA LIMA, Rodrigo Tobias; CECCIM, Ricardo; CHAVES, Simone; FERLA, Alcindo Antônio. Educação Permanente em Gestão Regionalizada da Saúde: Saberes e Fazeres no Território do Amazonas. Porto
Alegre: Rede Unida, 2015.