Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O Papel do Docente-Tutor no Curso Fortalecimento de Redes de Atenção e Prevenção da Violência no Território
Vanessa Nolasco Ferreira, Amanda Vargas Pereira

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


APRESENTAÇÃO: O curso Fortalecimento de Redes de Atenção e Prevenção à  Violência no Território decorre de uma parceria entre a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde e a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, por meio do Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli e a Educação a Distância com vistas a propiciar a formação do conjunto de profissionais que atuam na atenção básica à saúde, e parceiros da escola, assistência social e conselho tutelar para aplicação de recursos para solucionar ou aperfeiçoar ações de gerenciamento, prevenção e atendimento às vítimas de violência. O mesmo foi também estruturado para fornecer aos cursistas uma visão crítica e articulada da sociedade às competências específicas da sua área de atuação seja no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Assistência Social, na Educação ou nos Conselhos Tutelares. O referido curso se justifica pelo fato de, no Brasil, nas últimas décadas, pesquisas terem demonstrado que os agravos à saúde decorrentes de violências e acidentes vem superando aqueles produzidos por enfermidades derivadas de causas naturais. Sendo assim, há uma mudança no perfil e no contexto das taxas de mortalidade e morbidade, indicando uma fase de transição epidemiológica. (SANTOS e ASSIS, 2014). Desta forma, conforme destacam as supracitadas autoras, os reflexos dos atos de violência nos sistemas de saúde apresentam uma gama de fatores complexos a serem enfrentados e, tal complexidade, suscita a necessidade de um campo de reflexões sobre a adequação da organização tradicional dos serviços de saúde. No centro dessa pauta a formação de profissionais que sejam capazes de atuar de maneira interdisciplinar, multiprofissional, intersetorial e engajada para atender às necessidades da população em situação de violência se torna mandatória. Nesse contexto, num primeiro momento, o público-alvo do Curso Fortalecimento de Redes de Atenção e Prevenção da Violência no Território foi definido como profissionais de nível superior e médio que atendem à população em situação de violência em instituições de atenção básica à saúde e escolas. No entanto, o cenário atual mostrou a importância de ampliar as discussões sobre violência para outros profissionais, por esse motivo, foram convidados a participar os profissionais que atuam nos CRAS, CREAS e Conselhos Tutelares, ampliando a noção de rede de atenção e prevenção da violência contemplando o proposto pelo Plano Juventude Viva. Na organização do curso, que é desenvolvido na modalidade a distância, privilegia-se os referências político-pedagógico do pensamento crítico-reflexivo, “fundamentado no conceito de atividade consciente, no qual as ações intencionais do docente-tutor e do aluno visam à resolução de problemas do mundo real, em diversas instâncias – técnica, interpessoal, política, social, individual e coletiva” (SANTOS e ASSIS, 2014, p. 28). E é justamente o papel do docente-tutor que a presente experiência pretende discutir. Sendo que esse profissional exerce “um papel fundamental como mediador da relação pedagógica e como facilitador do processo de ensino-aprendizagem” (SANTOS e ASSIS, 2014, p. 30) na formação do conjunto de profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde; e Parceiros da Escola, Assistência Social e Conselho Tutelar para que possam selecionar e aplicar, com discernimento, recursos de várias naturezas para solucionar ou aperfeiçoar ações de gerenciamento, de prevenção e de atendimento às vítimas de violência, tendo como referência central o significado social da ação educativa, no âmbito da saúde pública. É de destaque que o papel desempenhado pelo docente-tutor é decisivo no sentido de propiciar um ambiente favorável à aprendizagem, com estímulo à reflexão, à crítica e ao desenvolvimento de competências esperadas. Com isso pretende-se estudar de que forma o docente-tutor proporciona aos alunos uma visão crítica e articulada da violência, suas causas e encaminhamentos, bem como de que maneira estimula o desenvolvimento de competências específicas pelos alunos nas diferentes áreas de atuação profissional no Sistema Único de Saúde, na Escola, no Sistema Único de Assistência Social e nos Conselhos Tutelares. METODOLOGIA: O papel do Docente-Tutor  enquanto mediador e agente de fortalecimento de redes de atenção e prevenção à violência no território inclui: Assumir integralmente o apoio ao processo de aprendizagem dos alunos; Identificar as diferenças de trajetórias dos alunos, respeitando ritmos próprios, integrando o aluno e o auxiliando a enfrentar desafios; Desenvolver procedimentos que garantam a interação e a comunicação mediatizada, com ênfase no diálogo; Propor e avaliar estratégias didáticas diferenciadas que contribuam para o aluno organizar sua aprendizagem; Avaliar do desempenho de cada aluno no curso, promovendo ações complementares que permitam a superação de possíveis dificuldades encontradas; Analisar, selecionar e utilizar outras tecnologias, além das previstas para o curso, que possam complementar o processo de formação do aluno.   O docente-tutor para além dos conhecimentos sobre violência e saúde precisa se aproximar dos preceitos discutidos, com base em Paulo Freire e na Pedagogia Histórico-Crítica, o que representa uma ruptura na concepção pedagógica na qual a maioria das pessoas foi aluna e docente. Nesse contexto, são fundamentais para o exercício da tutoria: a atuação como um facilitador da aprendizagem; a disponibilidade para o atendimento ao aluno, buscando sintetizar as questões trazidas pelo grupo a partir de sua Consciência Imediata, introduzindo conceitos para que se passe a uma Consciência Tematizada que abrirá a oportunidade de enxergar as questões colocadas em sua universalidade, criando a Consciência Tematizadora. Impactos: Ao longo das duas edições do curso construiu-se como papel do docente-tutor trabalhar como principal ator facilitador da formação continuada de profissionais que atuam junto a pessoas em situação violência no sentindo de lhes fornecer o instrumental necessário para uma atenção adequada e ética junto a esses sujeitos bem como desenvolver, nos profissionais em formação, a capacidade de construir e fortalecer redes de prevenção à violência. Para tanto, é necessário que este profissional seja capaz de fomentar trocas de saberes e práticas entre os alunos que constituem suas turmas, incentivando leituras e reflexões, interações nos Fóruns de discussão e a realização de atividades. Como consequência dessa função é preciso que o docente-tutor ofereça aos alunos como conteúdo básico, a partir do material didático, noções de violência, políticas e redes de atenção e prevenção; estudo das relações entre família e violência; noções de violência nos diferentes ciclos de vida; discussão sobre a violência na escola; e reflexões acerca dos trabalhadores da saúde e da educação e as questões ligadas à violência. Considerações Finais:Desta forma, o processo de tutoria deve ser centrado no aluno, criando espaço para ruptura com a relação de dominação, formando profissionais e sujeitos reflexivos capazes de perceber a complexidade presente nos casos de violência. Por último, e não menos importante, é possível apontar como elemento primordial para o exercício da docência a distância a capacidade de escrita sintética e clara não deixando margem para dupla interpretação, o que representa um grande desafio visto que a tutoria-docente é exercida através da linguagem escrita, essencialmente.

Palavras-chave


educação; violência; docente-tutor