Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
ENVELHECIMENTO HUMANO NO CONTEXTO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES DAS METODOLOGIAS ATIVAS
Scheila Marcon, Estela Fátima Lunkes, Fátima Ferretti, Letícia de Lima Trindade, Lucimare Ferraz

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: O envelhecimento populacional é um fenômeno que está acontecendo de forma acelerada em todo o mundo. Em 2020 o Brasil será o sexto país no mundo em número de idosos. Essa mudança no perfil demográfico acarreta consequências sociais, culturais e epidemiológicas. Nesta perspectiva, a Política Nacional do Idoso (1994) aponta para a inserção, nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto (BRASIL, 1994), o que é reforçado pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006) (BRASIL, 2006). Porém, mesmo com a criação de políticas, cabe salientar que a família é a principal responsável pelo cuidado do idoso e no contexto familiar a criança elabora como se relacionar e cuidar dos idosos, bem como, reflete sobre o processo de envelhecimento. Nesse mesmo sentido, a escola revela um espaço de aprendizagem, que pode contribuir com essa relação e na construção do conhecimento, atitudes e valores das crianças. Trabalhando nessa direção, o uso de metodologias ativas possibilita aos sujeitos, maior sensibilização, mobilização e mudanças de atitudes (BRASIL, 2011), valorizando os conhecimentos já existentes, embasados em atividade lúdicas e contextualizadas (MAIA et al.., 2012). Esta atividade é oriunda do componente curricular Ensino e Inovação em Saúde do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Ciências da Saúde e foi desenvolvida por mestrandas do Programa, com a tutoria dos professores, tendo como objetivo relatar a experiência de intervenção realizada com crianças do ensino fundamental sobre o processo de envelhecimento. A intervenção foi realizada no primeiro semestre de 2015 e contou com a participação de 17 crianças do terceiro ano do ensino fundamental do Núcleo Escolar Municipal Vida e Alegria de Formosa do Sul/SC, em quatro momentos distintos, conforme os objetivos traçados e mediante contato prévio com a professora para reconhecimento do perfil dos alunos. O pressuposto central da atividade esteve embasado na exploração e utilização dos conhecimentos prévios dos alunos em relação à temática trabalhada, em um movimento contínuo de problematização. Neste contexto, o primeiro momento da intervenção foi para o acolhimento, informações sobre atividades e apresentação dos alunos e mestrandas, com o relato de convivência com idosos. No segundo momento, foi realizada uma oficina com recortes e produção de painel, mediada pela pergunta: “como você vê a pessoa idosa?”. Os alunos foram divididos em três grupos e cada grupo foi tutorado na realização das atividades pelas mestrandas e pela professora da turma. Após, apresentaram o painel confeccionado e, nesse momento foram exploradas as questões relacionadas às limitações comuns aos idosos, suas experiências e como as crianças podem reconhecer estratégias de cuidado e/ou auxílio aos idosos. Atualmente, a velhice está associada a doenças, a desvalorização social e a conceitos negativos. Conforme Luchesi; Dupas; Pavarini (2012) a criança que desenvolve atitudes positivas em relação a velhice, poderá ter uma preocupação maior com o cuidado ao idoso. Trabalhando nessa perspectiva, as metodologias ativas são pertinentes para promover o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, que assumem o papel de protagonistas de seu conhecimento e não apenas receptores de informação (MELLO; ALVES; LEMOS, 2014). A oficina é uma estratégia que promove o pensar, o descobrir, embasada na construção e reconstrução de saberes (ANASTASIOU; ALVES, 2006), contribuindo para o despertar de atitudes favoráveis em relação aos idosos. O tema seguinte abordado foi a importância do uso, armazenamento e descarte correto dos medicamentos e como as crianças podem ajudar os idosos nesse processo. Utilizaram-se caixas de medicamentos vazias, distribuídas para os alunos manusearem e verificarem o nome do medicamento e data de validade. Vários questionamentos surgiram em relação a temática, demonstrando a curiosidade e a busca pelo conhecimento dos mesmos. No terceiro momento, como forma de assimilar os conhecimentos trabalhados, utilizou-se como estratégia o que se denominou de “circuito do conhecimento”. Em um papel pardo desenhou-se um circuito com casas, em que foram inseridas perguntas sobre os temas abordados. Os alunos jogavam o dado, e conforme a numeração, avançavam no circuito. A atividade lúdica gerou vários questionamentos e interação. No final de todo o processo os alunos ganharam um certificado de “amigo (a) de idosos”. O quarto momento foi a avaliação da proposta, no qual evidenciou-se a satisfação das crianças em discutir o tema, apesar de distante do espaço de debate de sala de aula, e potencialidade das metodologias ativas para envolver as crianças nas atividades propostas. Durante todo o processo da intervenção, falas importantes emergiram as quais foram organizadas e categorizadas. A primeira refere-se à representação de sentimentos em relação aos idosos, relatados nas falas: “carinho, amor, felicidade”, “não troco minha vó nem por um milhão de dólares. A segunda categoria que emergiu, foi relacionada ao cuidado com os idosos: “ensinam a gente abotoar a camisa, daí quando ficam velhos, a gente que tem que ajudar abotoar as deles”, “eu ajudo meu vô que não pode caminhar porque tá perdendo a memória”. Também apareceram as atividades que os idosos realizam: “minha nona joga dominó”, “são muito trabalhadores”. A última categoria relaciona-se com as condições de saúde: “vovô usando bengala porque não consegue ficar de pé”, “a nona não tem dente”, “meu vô não pode trabalhar”, “comem comida diferente porque tem diabete”, “ficam deficientes”. Conforme Luchesi; Dupas; Pavarini (2012), as atitudes começam a ser formadas precocemente e o modo com que a criança vê o idoso e o processo de envelhecimento pode ser modificado ou mantido. Corroborando com os autores, a proposta de intervenção caminhou no sentido de despertar nas crianças atitudes positivas em relação aos idosos, estimulando a reflexão e trabalhando a partir do protagonismo destas. As atividades implementadas possibilitaram aos alunos a ressignificação e o aprendizado relacionado ao cuidado do idoso e a processo de envelhecimento. As crianças participaram de forma ativa em todos os momentos, demonstrando curiosidade e interesse pela busca do conhecimento. Esses resultados foram garantidos por meio do uso de metodologias ativas, com a valorização do conhecimento prévio dos alunos, implicando-os de forma positiva na construção dos saberes. A experiência vivenciada com a intervenção no contexto escolar também proporcionou as mestrandas a aproximação com a educação básica e o desenvolvimento de habilidades para o trabalho com metodologias ativas.

Palavras-chave


idoso; ensino fundamental; metodologia

Referências


ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (org). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para a estratégia de trabalho em aula. 6.ed. Joinville: UNIVILLE, 2006.

BRASIL. Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília, 1994.

BRASIL. Portaria n. 2528/GM de 19 out. 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Brasília: Ministério da Saúde. 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Metodologias para o cuidado de crianças, adolescentes e famílias em situação de violência. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

LUCHESI, B. M.; DUPAS, G.; PAVARINI, S. C. I. Avaliação da atitude de crianças que convivem com idosos em relação à velhice. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 33, n. 4, p. 33-40, dez. 2012.

MAIA, E. R.et al. Validação de metodologias ativas de ensino-aprendizagem na promoção da saúde alimentar infantil. Rev. Nutr., Campinas, v. 25, n.1, p. 79-88, jan/fev. 2012.

MELLO, C. de C. B.; ALVES, R. O.; LEMOS, S. M. A. Métodos de ensino e formação em saúde: revisão da literatura. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 16, n. 6, nov/dez. 2014.