Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PREVALÊNCIA DO TABAGISMO ENTRE DIABÉTICOS ATENDIDOS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE CAMPO GRANDE - MS
Beatriz Alves Marques de Souza, Sandra Christo dos Santos, Ana Maria Campos Marques

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Diabetes mellitus (DM) tem sido considerado uma das grandes epidemias mundiais do século XXI e um problema de saúde pública, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento. No ano de 2011, 12,4 milhões de pessoas foram diagnosticadas com diabetes mellitus no Brasil, e a previsão é que este número aumente para 19,6 milhões de pessoas até 2030. Dentre os tipos de DM, o tipo 2 (DM2) abrange 90% dos casos presentes no mundo e tem como causas básicas problemas, inicialmente, relacionados à atuação da insulina nos seus receptores periféricos, associados a um quadro de síndrome metabólica com consequente hiperglicemia. e está intimamente relacionado com o excesso de peso e o sedentarismo. Portanto, a população de maior risco para o desenvolvimento do DM2, são os indivíduos com dislipidemia, circunferência abdominal aumentada e consequente resistência insulínica que configuram os pacientes atendidos na prática diária de uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF). Além das causas centrais para desenvolvimento de DM2 relacionadas aos hábitos de vida temos o tabagismo definido na Classificação Internacional de Doenças (CID10) da OMS como doença crônica causada pela dependência à nicotina. O tabagista é exposto continuamente a mais de quatro mil substâncias tóxicas, o que faz do tabagismo o fator mais importante de risco, isolado para as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que engloba principalmente as doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, diabetes, câncer e outras inclusive doenças renais.  Substâncias presentes no tabaco, especialmente a nicotina, induzem a um aumento da glicemia de jejum e o desenvolvimento de resistência à insulina as quais desencadeiam mudanças nos perfis metabólicos de glicose e lipídeos, levando a hiperglicemia e dislipidemias com baixo nível de colesterol HDL.  Estas alterações podem facilitar o desenvolvimento de DM2, doença de caráter crônico que acarreta redução da expectativa e qualidade de vida e aumento da mortalidade e morbidade, decorrentes de complicações microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia) e macrovasculares (doença cardíaca isquêmica, infarto e doença vascular periférica). Estudos sugerem que intervenções são viáveis em UBSF's e promovem melhoria da saúde da população de um modo geral. Há evidências de que mudanças de estilo de vida possam ocorrer com maior sucesso quanto mais precoce sejam realizadas ações de intervenção. Assim, estudos que avaliam o perfil de usuários do serviço de saúde podem auxiliar na prevenção desses agravos.  Diante desta realidade, pergunta-se: como confrontar tal situação nos diferentes segmentos da sociedade, com foco nos indivíduos atendidos nas UBSF's e assim poder intervir na prevenção do DM2 e suas complicações, através de ações de controle. Para tanto, se faz necessário conhecer a epidemiologia do tabagismo nessas populações, assim sendo o presente trabalho teve como objetivo estimar a prevalência do tabagismo entre os diabéticos e descrever o perfil quanto a idade, sexo, tipo de tabaco, idade de inicio e grau de dependência a nicotina (Teste de Fargstron) nas Unidades Básicas de Saúde da Família de Campo Grande – MS, no período de outubro de 2014 a fevereiro de 2015 com vistas a subsidiar a implementação de ações para o controle do tabagismo, nessa população. Desenvolvimento do trabalho: Estudo epidemiológico descritivo transversal realizado no município de Campo Grande, MS. A obtenção dos dados se deu por meio do preenchimento de formulário específico pelos pesquisadores mediante inquérito aos pacientes diabético, sujeitos da pesquisa, de uma amostra cujo cálculo amostral teve por base o numero de pacientes portadores de DM2 cadastrados no Programa de Controle de Diabetes atendidos no período do estudo, composta por 408 (n) pacientes, sendo 12 de cada uma das 34 UBSF. As informações relativas ao atendimento foram fornecidas pela rede de atenção básica à saúde da região urbana do município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, com uma população de 805.397 habitantes de acordo com o Censo IBGE 2010, população ajustada para 2013 (IBGE, 2013). O preenchimento dos formulários foi condicionado à obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dos sujeitos da pesquisa. Para a confecção do banco de dados, planilhas, tabelas e avaliação estatística empregou-se o programa Excel (Microsoft Corp. Estados Unidos). O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIDERP, a coleta de dados teve início após a sua aprovação, os sujeitos da pesquisa foram convidados a participar, orientados e esclarecidos, e informados da necessidade de que o seu consentimento fosse expresso mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias, uma que foi entregue ao sujeito da pesquisa e a outra sob a guarda do pesquisador. Resultados e/ou impactos: Dos 371/408 (91%) pacientes que responderam ao inquérito  10,2% (38/371) declaram-se usuários de tabaco variando em idade de 25 a 76 anos, em media  57 anos com predomínio de 73% (28/38) no grupo etário de 50 a 60 anos sendo 25 (65,7%)  do sexo feminino e 13 (34,3%)  masculino. Quanto ao tipo de tabaco usado: 81,6% (31/38) fumam cigarro industrializado, 10,5% (04/38) fumam cigarro de palha e os demais 03 (7,9%) além do cigarro fumam cachimbo, narguilé e mascam fumo-de-rolo e 55,2% (21/38) iniciaram o uso do tabaco entre 11 a 15 anos. Em relação ao grau de dependência a nicotina em media alcançaram um escore de 4 na escala de Fargstron. Considerações finais: O percentual estimado de tabagista entre os pacientes diabéticos acompanhados nas UBSF da ordem de 10,2%, abaixo da população adulta de Campo Grande, 12,7% segundo inquérito VIGITEL 2013, o que a coloca entre as 10 capitais brasileiras com os maiores percentuais de tabagismo, portanto uma prevalência de 10,2% representa um dado a ser considerado pelo Programa de Controle de Diabetes, o esperado e aceitável seria um índice bem mais baixo, pois um dos pilares do tratamento do DM2 são as medidas não medicamentosas que visam a redução da obesidade, da ingestão de bebida alcoólica e do sedentarismo e a cessação do tabagismo com a oferta de tratamento descentralizado para as UBSF, a maioria delas oferta o tratamento além das campanhas de esclarecimento sobre os malefícios do uso do tabaco. Por outro lado temos que considerar que a omissão por parte dos pacientes tabagistas é uma realidade conforme descritos na literatura o que aponta para um percentual subestimado.  A idade media da ordem de 57 anos outro dado importante  que assinala para uma  maioria fumante há mais de 40 anos, aumento do risco de desenvolver as doenças tabaco dependentes além das complicações da doença de base. Considerando os resultados obtidos apesar de possíveis vieses metodológicos da pesquisa recomenda-se de imediato a intensificação do controle do tabagismo nessa população com ênfase que parte do tratamento e controle do DM2 é a cessação do tabagismo, desenvolvimento de pesquisas com abordagem qualitativa e operacionais.

Palavras-chave


diabéticos; DM2; tabagismo; UBSF; atenção básica; comorbidades;

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