Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Qualidade de vida relacionada à saúde bucal dos agentes de combate a endemias do município de Campo Grande – MS
Lais Marchetti Cabral Alves, Suzi Rosa Miziara Barbosa, Edilson Jose Zafalon, Alessandro Diogo de Carli, Dayane Aparecida Moises Caetado, Bruna Costa Santos

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os Agentes de Combate a Endemias (ACE) são uma classe de trabalhadores de que se destacam devido a sua atuação na promoção da saúde e na prevenção a doenças na atenção primária (PINTO e FRACOLLI, 2010). Por muito tempo, esse trabalho que hoje é realizado pelos ACE, era centralizado pela esfera federal, desde a década de 70. A partir de 1999, essas ações foram caracterizadas como ações de vigilância e passaram a ser descentralizadas e de responsabilidade municipal. Atualmente temos 5.365 ACE, que trabalham 40 horas semanais e recebem pouco mais de mil reais mensais. Suas atribuições consistem em atividades de vigilância e controle de doenças, no âmbito domiciliar e comunitário, evitando o surgimento de endemias, como por exemplo, a dengue e a Leishmaniose. Eles fazem a vistoria de residências, terrenos baldios, comércios e depósitos, averiguando se há focos de vetores transmissores de doenças, além de aplicar larvicidas e fazer a borrifação de inseticidas. Também orientam os moradores quanto à prevenção e tratamento de doenças infecciosas, bem como a vacinação de animais domésticos contra a Raiva. Apenas em outubro de 2006 foi publicada a lei nº 11.350, que descreve e regulamenta o trabalho dos ACE. Sua contratação é feita por meio de concurso público de nível médio, podendo haver contratação temporária ou terceirizada apenas em casos de surtos endêmicos. Entretanto, muitas vezes, a precarização das condições de trabalho desses profissionais, os expõe a cargas físicas, mecânicas e psíquicas  e estas são as principais responsáveis pelos absenteísmos no trabalho e pelas incapacidades temporária ou permanente que refletem de forma negativa na qualidade e/ou na ausência dos serviços de saúde prestados à população.  (NASCIMENTO e DAVID, 2008; BARBOSA et al.., 2012). Esses absenteísmos podem implicar na saúde geral da população, pois interfere diretamente na execução de suas funções, e dentre elas, no combate aos vetores que transmitem doenças, podendo levar a epidemias. Assim, manter a qualidade de vida desses trabalhadores, é fundamental. O conceito de qualidade de vida vem sendo discutido mais enfaticamente nas últimas décadas, por profissionais de várias áreas da saúde, e sofreu uma grande mudança de paradigma. Em um passado recente, a saúde era vista de forma compartimentada, entretanto, atualmente sabemos que devemos estudá-la de maneira integral, por envolver aspectos biopsicossociais. Assim, para alcançar uma vida saudável ou melhoria na qualidade de vida, é necessário que haja uma interação multiprofissional e os vários aspectos sejam considerados. A saúde bucal (aspectos físicos, estéticos, funcionais e até psicossociais) está diretamente relacionada à qualidade de vida, pois tem interferência direta na condição sistêmica de saúde de cada indivíduo. Entretanto, observa-se que esta não é tratada de uma forma adequada pelos ACE, e o conhecimento sobre a prevenção, os cuidados e o tratamento deve ser amplamente difundido para essa população. Almejamos, atualmente, elaborar um sistema de informações em saúde bucal, baseado na vigilância dos fatores de risco, na organização do sistema de prestação de serviços, na qualidade da atenção oferecida, no conhecimento das opiniões e da satisfação ou não das pessoas e das condições de saúde da população. Esse cenário começou a se transformar, pois, a equipe de saúde bucal foi incorporada à Estratégia de Saúde da Família, e, dessa forma, os cidadãos passaram a ter um maior acesso aos serviços odontológicos e a prevenção e promoção à saúde bucal foram ganhando destaque. Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi averiguar a qualidade de vida relacionada às condições de saúde bucal dos Agentes de Combate a Endemias (ACE) do município de Campo Grande – MS.  Foi aplicado o “Questionário completo para entrevistas sobre saúde bucal de adultos – EGOHID - 2008” em 138 ACE, no período de novembro de 2014 a abril de 2015. O questionário envolve quatro seções: uso de serviços de saúde bucal, atitudes e fatores de risco, condição de saúde bucal e qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Foram proporcionados seis encontros com os ACE, em que foram realizadas rodas de conversas com intuito de informar e estimular a reflexão nesses trabalhadores. Houve também dinâmicas de autoconhecimento, palestras sobre a importância da saúde bucal, com enfoque para o autoexame bucal. A educação em saúde contribuiu para a aquisição de conhecimento e confirmou sua importância para a qualidade de vida, além de sua manutenção durante o processo de trabalho. Mediante a análise dos resultados abordando o aspecto de qualidade de vida relacionada à saúde bucal, observou-se que 40,5% dos entrevistados têm dificuldades na alimentação devido a problemas bucais. Podemos verificar que essa variável nos proporciona um melhor entendimento sobre o assunto que afeta essa população e nos permite avaliar o trabalho do sistema de saúde. O relato de dor na cavidade bucal foi observado em 58,7% dos entrevistados, denotando um aumento de pessoas que valorizam esse aspecto na qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Essas, por sua vez, exacerbadas em função da má condição de higiene bucal durante o período de trabalho. Da mesma forma, 52,1% e 46,3% dos entrevistados relataram o “sentimento de tensão” e “se sentem embaraçados”, respectivamente, relacionados aos dentes, gengivas, boca e prótese. Essa variável é importante, uma vez que permite a comparação de problemas bucais com desconfortos psicológicos em diferentes grupos populacionais. Confirmando os resultados acima, 29,7% dos entrevistados têm evitado sorrir, devido à aparência de seus dentes e próteses. Aqui percebemos um quadro de inabilidade social decorrentes das condições de saúde bucal e assim podemos ter uma dimensão dos fatos que influenciam negativamente no desempenho do trabalho realizado pelos ACE. Concluímos e entendemos que a necessidade de atenção para essa população é de extrema importância e se faz urgente, pois verificamos que a qualidade de vida está aquém do esperado em função e em relação às condições de saúde bucal, confirmado pelos resultados e altas porcentagens de nosso estudo. São necessários outros estudos na área para que possamos identificar as reais necessidades e demanda de tratamento, atendendo esses usuários na intenção de modificar e melhorar a qualidade de vida dessa população específica.

Palavras-chave


ACE; agentes de combate a endemias; qualidade de vida; saúde bucal.

Referências


Pinto, AAM; Fracolli, LA. O trabalho do agente comunitário de saúde na perspectiva da promoção da saúde: considerações práticas. Rev. Eletr. Enf. dez 2010.

Barbosa, RHS et al. Gênero e trabalho em Saúde: um olhar crítico sobre o trabalho de agentes comunitárias/os de Saúde. Botucatu: Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 2012, p.751-65.

Nascimento, GM; David HMSL. Avaliação de riscos no trabalho dos agentes comunitários de saúde: um processo participativo. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v.16, n.4,out/dez. p550-6. 2008.

Lei Nº 11.350 de 5 de outubro de 2006.