Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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As implicações do VER-SUS: comissão local de organização e gestão municipal
DOUGLAS MARCOS PEREIRA DE PAULA, LUCAS RODRIGUES REIS

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Um dos desafios enfrentados hoje na área da saúde é realização do trabalho interdisciplinar. Segundo Faria (2009), o processo de trabalho em equipe, integral e eficiente gera diversos indicadores positivos para a prática dos serviços. Entretanto, a formação acadêmica e profissional na área da saúde, que se transformou num processo de alta complexidade, em virtude do acelerado crescimento dos conhecimentos disponíveis e dos limites do alcance da especialização como recurso para atribuir núcleos de saberes para as diferentes profissões, já não dá conta deste trabalho em equipe. Sendo assim, é perceptível a distância do discente da prática multiprofissional e interdisciplinar, para além, o estudante está inserido no contexto de fragmentação entre ensino e serviço. Dentro das ações que buscam a mudança nos modelos de ensinar saúde, o projeto de Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) propõe o cotidiano do SUS como ferramenta de ensino-aprendizagem, possibilitando aos estudantes uma aproximação com a realidade do sistema e utilizando a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) como prática transformadora do trabalho dentro dos serviços de saúde. Sua organização local se dá pelo protagonismo estudantil. Estudantes, geralmente membros de Coletivos Estudantis, que organizam e fazem gestão do projeto. Sendo assim, são estes os responsáveis por criar uma comissão local de organização, composta por estudantes, universidades e representantes das secretarias municipais de saúde entre outros. Este relato dará ênfase na organização do projeto trazendo o estudante enquanto protagonista desta ação. METODOLOGIA: A primeira edição do projeto em um município do interior de Minas Gerais foi recebida com grande zelo e apreço. O primeiro contato com o Gestor do Município que possui 90 mil habitantes foi estimulante e estavam presentes seus apoiadores, representantes de faculdades locais, profissionais de saúde, gestor hospitalar, gestor da Atenção Primária e as Referências Técnicas do Município. Nesta reunião, foi esclarecidos e amostrados todo material sobre o VER-SUS, os objetivos e seus impactos para a vida acadêmica dos estudantes e para o município,  bem como o estudo sobre a Rede de Atenção à Saúde realizado pela comissão. Ao final desta reunião, O gestor assinou o termo de consentimento, comprometimento e apoio a organização do projeto. A primeira edição se inicia. Neste Momento diversos foram os desafios: falhas de comunicação entre Rede Unida e estabelecimentos orçados, site da plataforma hospedeira do projeto,  entre outros. Contudo, um grande desafio identificado  foi a participação da Secretaria Municipal de Saúde no processo organizativo. O Gestor municipal e as referências técnicas mantiveram ausentes em todo momento. Chamados o tempo todo  para colaborar com os problemas inerentes a logística, formação, informação acerca do município estes, se mostraram impossibilitados de amparar a comissão local a qual fazem parte. Ora pelos compromissos inadiáveis, ora por delegarem a comissão – os estudantes – a “autonomia” das decisões. Finalizada a primeira edição. A devolutiva, fase em que os estudantes conversam com os representantes da Secretaria Municipal de Saúde, o Gestor Municipal e as referências técnicas não demonstram satisfação pela justificativa de que o VER-SUS pudesse ter como proposição um projeto de intervenção para o município. Dessa forma, a  possível segunda edição, seria submetida à uma análise mais “seletiva” de aceitação do projeto no município ou não, visto que os representantes da secretaria buscavam intervenções a curto prazo, porém a perspectiva do projeto é formar permanentemente os estudantes. RESULTADOS: Iniciado os trabalhos para segunda edição do projeto no município. A comissão de organização convidou profissionais de saúde do município, usuários e a faculdade local para fazer parte dessa segunda vivência. Com o estudo e projeto pronto foi marcada uma reunião com o Gestor municipal e referências técnicas. Nesta reunião, já não fazia parte todo o corpo da Rede de Atenção a Saúde. O Gestor avaliou o projeto como negativo, sem propósito e ônus para o município fazendo duras críticas à organização, ao modo de formação e ao uso dos recursos públicos dizendo não concordar com outra edição no município e rever esta formação tentando buscá-la para os profissionais já nos serviços. Diante da negativa de uma nova edição, profissionais de saúde se retiram da comissão de organização ficando com os estudantes a tentativa de resgatar o projeto no município. Dessa forma, os estudantes, alguns participaram enquanto viventes, escreveram uma carta de exposição dos motivos onde citaram as mudanças no processo formativo acadêmico com a participação do VER-SUS e sua importância enquanto mudanças no modelo biomédico centrado  curativista. Pautaram o Conselho Municipal de Saúde expondo estes motivos, depoimentos, vídeos e historicidade do projeto e os conselheiros revogaram a recusa de uma nova edição do projeto no município.  Sendo assim, solicitou a assinatura do termo de compromisso, comprometimento e apoio do Gestor municipal,  bem como acompanhamento e orientação de todo o processo de organização. Com a assinatura, o VER-SUS foi viabilizado. Contudo, e devido os entraves dessa ação, a Secretaria Municipal de Saúde em nome da “autonomia do sujeito”, abandonou os estudantes desafiando-os ainda mais nas tomadas de decisão para que houvesse a segunda edição do projeto com  êxito e efetividade. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Organizar o VER-SUS é uma tarefa complexa e que demanda de muitas habilidades, articulação política e, sobretudo o protagonismo estudantil. Durante o processo de organização, foram necessárias diversas vezes uma intervenção do funcionamento do Sistema de Saúde Local: suas interações, limitações e composições. Se na primeira edição, não havia clareza sobre todo o funcionamento da Rede de Atenção a Saúde e houve o “abandono” da parte gestora, foi possível imaginar desafios maiores, tanto na comunicação – no que se refere na amistosidade, quanto no processo organizativo. Sendo assim, nesta segunda edição, mesmo com os diversos impedimentos, explícitos – como portas abertas ao único hospital da cidade - e implícitos como a informação dos serviços sobre a chegada dos viventes, sempre sendo solicitada à comissão de organização uma autorização da Secretaria Municipal de Saúde. Estas ações não-ação, tornaram mais longínquos os caminhos para obter uma vivência plena dos serviços de saúde. Ao mesmo tempo em que desestimulou a comissão de organização local, fortaleceu a luta, emancipação dos estudantes enquanto atores do próprio percurso de formação e que deseja um SUS possível. Percebemos o quanto é frágil a Gestão Municipal no que se refere ao conhecimento, à produção acadêmica acerca dos serviços, desconhecedora das novas tecnologias tanto duras, leveduras quanto as leves, ou seja, relacionais. Contudo, a Academia também é carente na integração ensino-serviço-comunidade tratado em diversos textos como estudo Quadrilátero da Formação para Área da Saúde: ensino, gestão, atenção e controle social de Ceccim e Feuewerker (2004).

Palavras-chave


VER-SUS, Educação Permanente, Protagonismo Estudantil