Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A vivência em uma unidade de prática profissional e sua integração com o processo de ensino e aprendizagem
Anete Maria Francisco, Haydée Maria Moreira, Ana Paula Celeotto Guimarães, Luzmarina A. Doretto Braccialli, Silvia F. Rocha Tonhom

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Unidade Prática Profissional (UPP) é uma unidade educacional inovadora nos currículos dos cursos de Enfermagem e Medicina de uma Instituição paulista, trabalhando com uma série de tarefas fundamentadas na prática profissional dos dois cursos e permitindo aos estudantes desenvolverem a capacidade de mobilizar recursos cognitivos, afetivos e psicomotores para ter um bom desempenho profissional. Caracteriza-se pela inserção do estudante em cenários reais possibilitando a aprendizagem a partir da ação através da atenção e do cuidado integral à saúde da pessoa, desde as primeiras séries desses cursos privilegiando os cenários da atenção primária. Na terceira série do curso de Medicina, a UPP3 é desenvolvida no cenário hospitalar e o foco dos estudantes deve ser os pacientes internados, apresentando integração com o cenário simulado da prática, cujas atividades são realizadas em laboratório e com pacientes simulados, e com a unidade educacional sistematizada (UES), unidade cognitiva  que utiliza a aprendizagem baseada em problemas. OBJETIVO: Tomando-se por base a proposta de trabalho da UPP3 e os marcos teóricos da aprendizagem significativa, do currículo orientado por competência e do modelo de cuidado integral à saúde, a avaliação dessa unidade buscou identificar a percepção dos estudantes e professores envolvidos no desenvolvimento da unidade com vistas a esses referenciais. METODOLOGIA: Estudo qualitativo baseado na análise de conteúdo, modalidade temática, com ênfase na abordagem da pesquisa social. Baseando-se na abordagem de amostra intencional, onde se considera os extremos de julgamentos, foram selecionados em cada grupo de estudantes, dois instrumentos que avaliaram positivamente a unidade e outros dois que avaliaram de maneira insatisfatória alguns dos campos do instrumento de avaliação, sendo que a amostra foi composta por 36 instrumentos respondidos pelos estudantes. Dentre os professores foi utilizada a totalidade dos 18 instrumentos preenchidos. Para a análise foram considerados os depoimentos dos campos “Proposta da Unidade de Prática Profissional”, “Processo de ensino-aprendizagem”, “Organização da Unidade de Prática Profissional” e “Comentários adicionais” do instrumento de avaliação respondidos no primeiro semestre de 2015. Para garantir o sigilo, os depoimentos que apoiaram as análises realizadas foram identificados por códigos alfanuméricos, E para estudante e P para professor, seguido pelo número dado a cada participante. RESULTADOS: De forma geral, a UPP3 foi positivamente avaliada como satisfatória por 100% de professores e estudantes como uma unidade educacional que apresenta “profissionais excelentes e muito comprometidos e, que mais favoreceu a aprendizagem até o momento” (E1). Após análise dos instrumentos foram encontradas as seguintes temáticas: O sentir-se médico e A importância da integração teoria e prática. A primeira temática retrata a aproximação do estudante com o seu fazer profissional. Eles apontaram que, nesta fase do curso, a UPP3 parece prepará-los “para os cenários reais do cotidiano de um profissional da saúde” (E2), para “a prática profissional que por ora é bem distante do aprendizado apenas teórico, [aumentando] o contato com aquilo que enfrentará com mais frequência no decorrer da vida acadêmica e profissional” (E3), para o “desenvolvimento de raciocínio clínico, estabelecendo uma preocupação em ter uma boa história, com uma semiologia adequada e uma propedêutica bem estudada” (E4) e para “preencher [as] lacunas de conhecimento” (E3). O professor aponta que a pertinência desse momento para os estudantes é que eles "terão contato com a realidade dos cenários hospitalares, exercitando habilidades e raciocínio clínico" (P9), sendo essencial para a "formação do estudante, [já que] propicia a vivência prática e a interação com a teoria, sob supervisão e em grupo de discussão" (P15). Nessa fase do aprendizado a UPP é muito valorizada e a anamnese e o exame físico ganham outra dimensão, pois “acredit[am] que a UPP traz um cenário real e com pacientes reais, [e nesse sentido o estudante] aprende a ser mais cuidadoso e atencioso, aprende a fazer uma boa anamnese e aprende a examinar um paciente da forma correta. Além disso, é importante [devido ao] contato com doenças que nunca tive[ram] o interesse de aprender e como [as] presenciam [na prática, os estudantes se sentem motivados e] incentiva[dos] a querer saber mais e como tratá-la da maneira adequada” (E8). Julgam ser “essencial para a formação de médicos, pois ensina a comunicação com os pacientes” (E8), “saber abordar o paciente e acompanhante, tão importante para ser médico” (E9). Outro aspecto positivo apontado foi o comprometimento dos professores/facilitadores em orientá-los no processo de aprender, percebendo-os “mais estimulados, preparados, qualificados e interessados” (E4), “ajudando na interpretação de sinais e sintomas, no esclarecimento de dúvidas e na construção de raciocínio clínico, [apontando] as necessidades propostas para o terceiro ano” (E7). A segunda temática refere-se à integração dos cenários de prática com os cenários simulados e teóricos. Os estudantes apontaram que o exercício do ser médico da UPP3 se aproximou bastante da teoria apresentada na unidade sistematizada, uma vez que “muito do que é visto na UPP pode ser levado para as discussões na UES” (E5), permitindo estabelecer e “fixar o que foi aprendido na UES, com essa integração melhorando o processo de aprendizagem” (E5). A integração teoria e prática também foi avaliada positivamente em relação às atividades realizadas no cenário simulado, abordando “os temas mais recorrentes dos cenários reais, permitindo estudo aprofundado e auxiliando nos casos que aparecem na UPP” (E6), sendo que “as lacunas de conhecimento descobertas no LPP [puderam] ser sanadas antes que elas aparecessem na UPP, contribuindo para a articulação do aluno no cenário real”(E3), isto é, para a articulação teoria e prática. Os professores avaliam de modo positivo esse cenário de aprendizagem como o "local mais adequado para apontar erros e acertos" (P11), assim como "fortalecer o trabalho em grupo” (P10). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os estudantes consideraram a UPP3 de grande eficácia na aprendizagem principalmente nesta fase da formação médica. A integração entre as unidades de prática, real e simulada, foi destacada com sugestões de aumento de atividades no cenário simulado. Um ponto importante foi que o cenário real facilitou uma aprendizagem significativa em relação à história clínica e proporcionou o desenvolvimento de habilidades para a realização de exame físico. Entretanto, percebe-se que os estudantes se voltam para uma prática biologicista e medicalizante, já que o foco passa a ser o ambiente hospitalar. Momentaneamente, os depoimentos parecem retratar um cuidado objetal, a doença, a internação, não havendo referências ao sujeito que está acamado, doente. Apesar deste fato, destaca-se a importância do cenário hospitalar para a formação médica, e, ao mesmo tempo, há um reconhecimento de todo o processo da UPP desde a primeira série do curso. Apesar de o cenário hospitalar estar focado no cuidado objetal – a doença – articulam uma comunicação adequada com o paciente e seu acompanhante. Em relação ao processo ensino-aprendizagem foi destacada a integração da UPP com a UES por meio dos casos clínicos discutidos em cenário real e os problemas de papel, além da forte integração e adequação do LPP. Quanto ao papel do professor foi sinalizado ser fundamental para o processo, já que a maioria é comprometida, qualificada e interessada.

Palavras-chave


avaliação qualitativa; avaliação de programa; cenarios de pratica