Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
A participação popular no SUS fortalecida pelas redes sociais da internet
Paula Chagas Bortolon, Monique Miranda, Sarah Rubia Batista, Rita de Cássia Machado da Rocha, Nilton Bahlis dos Santos

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


APRESENTAÇÃO: Solidariedade e resgate de autonomia são algumas das palavras que podem descrever o que se vê e vive, relacionado a saúde, em redes sociais online. Nestes ambientes, cidadãos trocam experiências sobre suas questões de saúde, o que traz uma reflexão sobre a lógica médica dominante, fortemente caracterizada por práticas autoritárias, ainda centradas na doença e não nos indivíduos e na coletividade. Considerando a necessidade de fortalecer os direitos da população no tocante à participação social no SUS e a importância de ampliar a informação e a reflexão das pessoas sobre questões de saúde a partir de seus próprios olhares sobre um problema, este trabalho busca discutir como a internet e, mais precisamente, as redes sociais na Internet, podem vir a ser espaços de empoderamento político da população para a saúde. METODOLOGIA: Para responder ao proposto, foi realizada uma revisão aleatória da literatura que tratasse dos temas: internet, web 2.0, redes sociais, controle social e participação social no SUS, políticas de saúde. Concomitantemente, foram exploradas redes sociais da internet, como blogs e grupos do Facebook, a fim de verificar experiências práticas que dialogassem com os achados teóricos, conforme apresentados a seguir. Apesar do desenvolvimento tecnológico e das tentativas de construção de modelos de participação popular para a saúde, os paradigmas da prática ainda recaem sobre estratégias que atinjam determinados objetivos, definidos por um dos polos da relação, como os gestores, os pesquisadores, os profissionais de saúde. Isto ocorre em função do tipo de abordagem adotada, fortemente marcada pela fala central especializada, autorizada por quem tem o poder de dizer e de interpelar os atores sociais e que procura ditar os modos como os cidadãos adoecem, morrem e cuidam da saúde. Assim, as políticas de saúde constantemente tornam-se verticalizadas e hospitalocêntrica e, apesar dos pensamentos e atitudes contra hegemônicos, não incorporam de fato a participação da população nas discussões sobre saúde. A saúde, para tentar superar este padrão, deveria ser entendida como uma dimensão da vida, como um bem maior individual e coletivo, conceitualmente construído e defendido por pessoas da comunidade, considerando seus contextos, suas experiências e o seu ponto de vista. Toda esta lógica é passível de questionamento quando pensamos em gente conectada no ambiente online, através de redes sociais virtuais. RESULTADOS: Na internet, as redes sociais ganham potência e uma nova dinâmica, uma vez que a possibilidade de conexão aumenta, fazendo com que os vínculos sociais se mantenham vivos e possam ser ativados muito facilmente, independente da distância física, geográfica ou cultural entre as pessoas. Assim, as práticas tornam-se distribuídas, coletivas, colaborativas e emergentes, bem diferentes do modo como estávamos acostumados. Mas, não raramente, observa-se que as instituições da área da saúde, apesar de possuírem perfis na web e manifestarem em seu discurso a importância da horizontalidade na relação com os usuários e trabalhadores, demonstram, na prática, que ainda há uma lacuna no que tange ao aproveitamento da internet em toda a sua potencialidade, que de fato poderia trazer um novo panorama na informação e participação efetiva dos usuários no cotidiano da atenção à saúde e nos processos políticos de construção do SUS. Uma rápida análise de perfis de blogs e páginas do Facebook de unidades básicas de saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio), selecionadas aleatoriamente em meados de julho de 2015, corrobora esta afirmação: o teor dos posts, no Facebook e nos blogs, era, basicamente, sobre eventos e atividades das unidades básica e da SMS-Rio, além de algumas informações sobre saúde e questões de articulação e reivindicação de entidades de trabalhadores da saúde. Do mesmo modo, os blogs tinham poucos e antigos posts, sem nenhum comentário de pessoas da comunidade. Isto mostra que a utilização das redes sociais da internet por instituições de saúde ainda não entendem estes espaços como locais de colaboração entre cidadãos e profissionais de saúde, não sendo pensados como estímulos a interação com a população e permitir que suas questões sejam pautadas a partir de seus próprios saberes. Por outro lado, não é difícil achar na internet redes de cidadãos, especialistas e não especialistas, engajados em causas da saúde com ações que se mostram efetivas no enfrentamento de problemas ou, ao menos, no reconhecimento de uma causa e apoio pelo compartilhamento de vivências. O que acontece é que a internet inverte e supera a lógica atualmente predominante ao ampliar a possibilidade de participação popular, impulsionando práticas colaborativas e criando mecanismos de inteligência coletiva, que é justamente a inteligência distribuída por toda parte, assim entendida, uma vez que ninguém sabe tudo mas juntos sabe-se alguma coisa. As comunidades virtuais aparecem justamente como o ambiente no qual as pessoas se unem pela afinidade de interesses, conhecimentos e projetos em um processo mútuo de cooperação e troca.Neste cenário, as realidades são construídas como processos emergentes, de cima para baixo, por meio de processos de sincronização que trazem consigo a validação social. Os processos de emergência na internet ocorrem quando componentes simples, como pessoas comuns, se unem para desenvolver um grau de inteligência superior, por meio de ações baseadas em regras simples que são capazes de gerar estruturas complexas. Um exemplo disto é o intenso ativismo que a internet propiciou a partir da formação de vários grupos online em defesa do parto natural e humanizado no Brasil. Estas redes funcionam não só como espaços de informação, ajuda e apoio, majoritariamente entre mulheres, como também são um canal de articulação entre gestantes e profissionais de saúde, parteiras e doulas. Além, é claro, de serem um local para organização de manifestações e de controle social na formulação de políticas públicas em torno da humanização do pré-natal e  do parto. As redes sociais da internet potencializam a possibilidade da população enfrentar seus problemas e questões de saúde, produzindo conhecimento coletivamente. Uma parte aprende com a outra e ambas podem ser beneficiadas com isso (população e técnicos). Por isso, estes ambientes aparecem como espaços de empoderamento político, uma vez que ali as pessoas podem questionar-se sobre o modelo biomédico da medicina, a medicalização da vida, o reconhecimento da sabedoria popular, a saúde como um ato de cuidado, a participação e o controle social e refletir sobre o complexo da saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Para as instituições de saúde, gestores e profissionais, fica a reflexão sobre a necessidade de incorporar as novas tecnologias da internet, aproveitando-se todos os seus recursos e, principalmente, incorporando sua lógica, que tudo tem a ver com integralidade, universalidade, descentralização e participação. Ademais, para aproximar a população do sistema de saúde é necessário criar novos hábitos culturais, que encurtem as distâncias de saberes e permitam a construção coletiva de conhecimento em saúde.

Palavras-chave


redes sociais; internet; participação popular; controle social;

Referências


1. Oliveira, V. C. Comunicação, Informação e Participação Popular nos Conselhos de Saúde. Saúde e Sociedade, v. 13, n. 2, pág. 56-69, 2004.


2. Moraes, I. H. S; Gómez,  M. N. G. Informação e informática em saúde: caleidoscópio contemporâneo da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 3, pág. 553-565, 2007.


3. Santos, N.B. dos, 2006. Utilização de Comunidades Virtuais como organizações de base do SUS. , pp.1–31. Disponível em: http://www.next.wiki.br/repositorio/content/43


4. Santos, NB; BRITO, JX. Da Validação por Intermediários à Validação Social. VII Esocite - Jornadas Latinoamericanas de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias, 2008. Disponível em: http://arquivos.NEXT.ICICT.FIOCRUZ.br/content/27 Acesso em: 19/07/2014


5. Parto do Princípio. Site. Disponível em: http://www.partodoprincipio.com.br/#!sobre/cjg9 Acesso em: 20 de julho de 2015.


6. Reparto-me. Comunidade do Facebook. Disponível em: https://pt-br.facebook.com/repartome/posts/832897620085898 Acesso em: 15 de julho de 2015.


7. Eu quero parto normal. Página do Facebook. Disponível em: https://pt-br.facebook.com/euqueropartonormal Acesso em: 13 de julho de 2015.