Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
UTILIZAÇÃO DE GRUPO DE USUÁRIOS COMO FORMA DE CUIDADO EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Laura Virgili Claro, Verydiana Peruzzi Comis, Scheila Soares de Oliveira, Andreia Soares Cassol, Michele Bulhosa de Souza, Débora Schlotefeldt Siniak

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


APRESENTAÇÃO: O uso de drogas que alteram o estado mental, chamadas de substâncias psicoativas (SPA), acontece há milhares de anos e muito provavelmente vai acompanhar toda a história da humanidade. A relação do indivíduo com cada substância psicoativa pode, dependendo do contexto, ser inofensiva ou apresentar poucos riscos, mas também pode assumir padrões de utilização altamente disfuncionais, com prejuízos biológicos, psicológicos e sociais. Isso justifica os esforços para difundir informações básicas e contáveis a respeito de um dos maiores problemas de saúde pública que afeta, direta ou indiretamente, a qualidade de vida de todo ser humano (BRASIL, 2011). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% da população dos centros urbanos de todo o mundo, consomem abusivamente substâncias psicoativas, independentemente da idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo (Brasil, 2003), já o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2007), 12,3% das pessoas com idades entre 12 e 65 anos eram dependentes do álcool, em relação ao uso de maconha e cocaína 8,8% e 2,9% respectivamente, dos entrevistados afirmaram o consumo desses tipos de drogas. Diante desse quadro, o governo brasileiro tem adotado, por meio de política do Ministério da Saúde, estratégias que visam combater o avanço do uso abusivo de álcool e de outras drogas. Entre essas estratégias está a implantação do Centro de Atenção Psicossocial a Usuários de Álcool e Drogas (CAPS ad) em cidades com mais de 100 mil habitantes, com a finalidade de disponibilizar tratamento a pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, por meio de uma proposta baseada em serviços comunitários e apoiada por leitos psiquiátricos em hospital geral de acordo com as necessidades dos pacientes (PEIXOTO et al.., 2010).   OBJETIVO: O presente trabalho possui como objetivo relatar as experiências vivenciadas em grupo de usuários realizado em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.   METODOLOGIA: O cenário de relato foi um grupo de usuários, onde os encontros são realizados semanalmente nas dependências do CAPS, sendo coordenada por uma psicóloga, uma pedagoga e acompanhado por duas residentes do Programa de residência Integrada em saúde mental Coletiva, profissionais da área de enfermagem e nutrição. O grupo é considerado aberto, visto que todos os usuários que estão no CAPS no dia em que o grupo acontece, são convidados a participar. Os participantes se organizam em um círculo, para que seja possível a visualização entre todos e estimular a integração do grupo, são abordados assuntos diversos, alguns são sugeridos pelos próprios usuários e outros são previamente escolhidos pelas coordenadoras do grupo, entre os assuntos já abordados, os que mais instigaram o diálogo e de maior interesse pelos frequentadores do grupo foi depressão, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), retomar os estudos, recaídas, o que desejam para o futuro, consequências do uso e abuso de álcool e outras drogas.   RESULTADOS: As sessões possuem em média uma hora de duração, o número de participantes varia entre 10 e 15 participantes, em sua maioria do sexo masculino, sendo todos adultos com dependência ou em álcool ou em outras drogas ou de ambos. Nesse sentindo, estudos afirmam que mulheres procuram menos os serviços de atendimento a usuários de álcool e drogas do que os homens, por razões como o estigma social em relação ao papel da mulher e por conta de o próprio perfil de usuário da mulher ser diferente do homem. Em estudo qualitativo realizado com mulheres da Unidade de Tratamento de Alcoolismo do Instituto Philippe Pinel no Rio de Janeiro, observou que 90% das mulheres declararam beber em âmbito privado e que se comportam de forma diferente quando bebem no âmbito social. Dado que pode indicar que mulheres conseguem esconder a dependência por mais tempo e que, por conta da forma como a sociedade vê a mulher alcoolista, há maior preocupação em relação à autoimagem ao expor-se a um tratamento em que terá que se deparar com outras pessoas (PEIXOTO et al., 2010). Durante a realização do grupo é construído um ambiente de forma acolhedora para que o participante sinta-se seguro para falar sobre os seus sentimentos e expor opiniões, a equipe explora as potencialidades dos usuários com a finalidade de elevar a autoconfiança e autoestima, que são fundamentais no processo de reabilitação. Alvarez et al.., (2012) descreve que a tecnologia de grupo é um recurso que vem sendo usado por profissionais de saúde, pois os auxilia a aliviar sentimentos de solidão e isolamento social, possibilitando troca de experiências e reflexão. A utilização de grupos requer a criação de um ambiente em que seus integrantes possam compartilhar suas experiências e sentimentos com a certeza de serem compreendidos pelos outros participantes. Ao oferecer apoio emocional e informações/orientações, estes grupos possibilitam a percepção da situação real que estão vivendo, por meio do conhecimento de dados mais concretos sobre o problema e diminuição das fantasias a ele relacionadas, ajudando-os no enfrentamento da crise vivenciada. O grupo oportuniza aprender novos comportamentos em clima de compartilhamento e aceitação. Por isso, apresenta-se como um excelente recurso terapêutico para lidar com pessoas que vivem situações de crise, tendo como objetivos promover coesão e apoio, elevando a autoestima e a autoconfiança de seus participantes. É perceptível no relato dos usuários que muitos se sentem fortalecidos ao frequentar o CAPS, pelo convívio com os profissionais e colegas de tratamento, por isso, a valorização das atividades em grupo, que propõem e facilitam a interação social, é fundamental para atender os propósitos da atenção psicossocial, devendo-se atentar para que essas sejam espaço tanto de construção material, como a realização de alguns produtos; quanto subjetiva, propiciando o diálogo e o convívio social (NASI & SCHNEIDER, 2011).   CONSIDERAÇÕES FINAIS: O grupo busca trabalhar a redução de danos com os usuários, diante disso são utilizadas estratégias para que eles possam compreender algumas situações que ocorrem a partir das escolhas individuais, crenças e atitudes, o que possibilita maior aproximação entre profissionais e usuários, fortalecendo esse vínculo para que todos possam expressar seus pensamentos. Os profissionais precisam estimular o diálogo e debate sobre diversas temáticas que provoquem a ideia de mudança do estilo de vida, redução de situações de sofrimento e promoção do autocuidado aos usuários. 

Palavras-chave


grupo terapêutico; reabilitação; caps

Referências


BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD. Prevenção ao uso indevido de drogas: Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. Brasília: Ministério da Justiça, 2011.

 

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Secretaria de Atenção a Saúde, Coordenação Nacional DST/AIDS. A política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.

 

CARLINI, E.A.; GALDURÓZ, J.C.; NOTO, A.R.; CARLINI, C.M.; OLIVEIRA, L.G.; NAPPO, S.A.; MOURA, Y.G.; SANCHEZ, Z.V.D.M. - II levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil:  estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país - 2005. São Paulo: Páginas & Letras, 2007. v. 01. 472 p.

 

PEIXOTO, C.; PRADO, C.H.O.; RODRIGUES, C.P.; CHEDA, J.N.D.; MOTA, L.B.T.; VERAS, A.B. Impacto do perfil clínico e sociodemográfico na adesão ao tratamento de pacientes de um Centro de Atenção Psicossocial a Usuários de Álcool e Drogas (CAPSad). J. bras. psiquiatr. 2010, vol.59, n.4, pp. 317-321.

 

ALVAREZ, S.Q.; GOMES, G.C.; OLIVEIRA, A.M.N.; XAVIER, D.M. Grupo de apoio/suporte como estratégia de cuidado: importância para familiares de usuários de drogas. Rev Gaúcha Enferm. 2012, vol.33, n. 2, pp. 102-108.

 

NASI, C.; SCHNEIDER, J.F. O Centro de Atenção Psicossocial no cotidiano dos seus usuários. Rev Esc Enferm USP. 2011, vol.45, n.5, pp. 1157-63.