Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Formação Docente em Saúde: espaço de aprendizagem para a docência no ensino superior
Rosana Ap. Salvador Rossit, Gabriele Carlomagno Vilanova, Sylvia Helena Batista

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Entende-se que a aprendizagem implica em redes de saberes e experiências que são apropriadas e ampliadas pelos sujeitos em suas relações com os diferentes tipos de informação. Essas relações revelam complexidade, diversidade e possibilidades de transformação. A formação significa a construção de conhecimentos relativos a diferentes contextos: sociais, culturais, educacionais, profissionais. Desfaz-se a ideia do formar-se como algo pronto, que se completa e/ou finaliza, assumindo-se uma compreensão de formação como processo permanente. Essas definições revelam que a formação docente compreende um processo de aprendizagem ancorado na intencionalidade, em saberes, experiências, crenças, que são utilizadas nas relações sociais, trazendo as possibilidades de transformação, troca e superação. Aprender é poder mudar, agregar, consolidar, romper, manter conceitos e comportamentos que vão sendo (re)construídos nas interações sociais. É nesses movimentos de transformação que se elabora as possibilidades de intervir no mundo, questionando o estabelecido, concordando ou não com as opções coletivas e contribuindo com alternativas de superação. Os docentes do ensino superior raramente são preparados com formação didática e pedagógica para o exercício da função docente, prevalecendo a cultura de que basta o conhecimento e a expertise em determinado campo do saber para tornar-se professor. Demanda-se assim, a necessidade de se planejar e implementar processos ativos de aprendizagem, que fomentem a autonomia, criatividade e criticidade nos espaços de formação docente. Este desafio exige tomar como objeto de reflexão e problematização a formação na perspectiva de preparar docentes do ensino superior para o enfrentamento das demandas e características de aprendizagem dos estudantes do século XXI. O trabalho tem como objetivo relatar a experiência da disciplina Formação Docente no âmbito da pós-graduação stricto sensu, na área de Saúde. A disciplina Formação Docente em Saúde do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde, UNIFESP/Santos-SP, parte do princípio que o preparo para a função docente não significa apenas a instrumentação técnica, mas também uma reflexão crítica desta prática e da realidade onde esta se realiza. As reflexões críticas ao longo do curso trazem um caráter ético, político e interprofissional sobre o que é a educação e o papel docente. O planejamento de disciplinas requer a escolha apropriada da metodologia, alinhada aos conteúdos a serem ministrados, a preparação do ambiente para desenvolvê-lo e a mediação do processo de ensino e aprendizagem, delineando caminhos para atingir objetivos educacionais e avaliar o desempenho. Considerando que a formação docente deve privilegiar interações de troca, favorecendo a proximidade, o diálogo e o trabalho coletivo, a disciplina constitui-se num espaço de reflexão e construção de conhecimentos, valorizando a experiência prévia, avaliando de forma crítica as experiências vivenciadas e o papel docente no ensino superior. METODOLOGIA: A disciplina, organizada em dez encontros presenciais e momentos de produção extraclasse, visa o desenvolvimento de competências para o exercício da função docente. Os conteúdos são desenvolvidos em equipes interprofissional, leituras, estudos dirigidos, atividades práticas e preleções dialogadas. As metodologias ativas de ensino e aprendizagem são utilizadas na perspectiva da problematização. Valoriza-se as aprendizagens compartilhadas, significativas e colaborativas. Os pós-graduandos são avaliados a partir de leituras, produções individuais e coletivas, análise crítica do referencial teórico, participação nos processos de ensino e aprendizagem, preparação e desenvolvimento de oficinas de metodologias ativas e do planejamento de uma ação educativa em saúde. As turmas são compostas por 30 pós-graduandos nos níveis de mestrado e doutorado. Priorizou-se o desenvolvimento de competências para a função docente, que se constituiu, entre outras atividades planejadas, da experimentação de dez metodologias ativas de ensino e aprendizagem, da análise e da avaliação dessas vivências, com o intuito de refletir sobre o lugar das estratégias de ensino e dos recursos pedagógico na construção do conhecimento. Diferentes cenários de ensino e aprendizagem foram planejados para a organização e o desenvolvimento do oficinas, que foram conduzidas a partir de temas relevantes do binômio saúde e educação.  Cada equipe foi constituída por seis integrantes de profissões diferentes, que elegeram um tema, definiram os objetivos de aprendizagem, selecionaram a metodologia ativa a ser utilizada e planejaram as oficinas que foram conduzidas com todos os pós-graduandos da turma. Cada oficina teve a duração de 60 minutos. As oficinas constituem-se em espaços de reflexão e aprendizagem compartilhada, no sentido de estabelecer relações entre: objetivos de aprendizagem, competências a serem desenvolvidas, metodologia selecionada e estratégias de avaliação. Após a vivência em cada oficina, avaliou-se de modo coletivo e por pares, a aplicação das metodologias, com feedback imediato quanto as potencialidades, fragilidades e sugestões no sentido de aprimorar a formação docente. RESULTADOS: Como resultado, ressalta-se o planejamento detalhado, cuidadoso e minucioso de cada oficina de experimentação, organizadas a partir do tema escolhido. As estratégias metodológicas foram selecionadas e alinhadas aos objetivos de aprendizagem. Os pós-graduandos ocuparam um papel ativo na construção do conhecimento e no desenvolvimento das competências delineadas para a formação docente. Destaca-se que o ‘aprender a fazer’ evoluiu para o ‘aprender a aprender’ e para o ‘aprender a ser’ docente. O pós-graduando teve a oportunidade de trabalhar em equipe interprofissional, planejar oficinas de metodologias ativas e testar estratégias de avaliação formativa. Acredita-se que o docente não só ensina para avaliar, mas avalia para ensinar. Assim, a avaliação formativa gera significados no cotidiano e no ambiente de aprendizagem, a partir das reflexões críticas de um contexto real e prático. Para avaliar a experiência de formação docente em saúde, aplicou-se um instrumento em  Escala Likert com as dimensões de organização da disciplina, conteúdos abordados, desempenho dos docentes responsáveis e auto-avaliação do desempenho discente, apresentados com quatro níveis de percepção: concordo totalmente, inclinado a concordar, inclinado a discordar e discordo totalmente. Os resultados mostraram alto índice de satisfação por parte dos pós-graduandos e no espaço aberto do instrumento foram relatados espontaneamente potencialidades, fragilidades e sugestões. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que a disciplina de Formação Docente em Saúde, além de trazer uma abordagem interdisciplinar e interprofissional no binômio saúde e educação, rompe com a fragmentação do ensino, revela a importância do planejamento na prática docente e no uso de metodologias ativas de ensino, aprendizagem e avaliação no âmbito da pós-graduação. Assim, articulou objetivos e maneiras de ensinar e avaliar, resultando em um comprometimento ético, político e social na formação e no desenvolvimento de competências para os futuros docentes do ensino superior na saúde.

Palavras-chave


ensino; formação docente; planejamento; metodologias ativas

Referências


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