Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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SECA, EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE E O SOFRIMENTO PSÍQUICO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO
pedro marinho dos santos junior

Última alteração: 2015-11-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: No Brasil a região Nordeste enfrenta períodos de estiagem desde sua configuração geográfica enquanto território nacional. A relação entre saúde mental da população rural nordestina e o fenômeno climático da seca é uma complexa teia que envolve questões sociais, políticas, educacionais e econômicas para a manutenção e exploração da situação de crise para o beneficiamento de grupos dominantes. No SUS a Educação em Saúde é prática inerente de suas ações (BRASIL, 2007). A temática surge das observações como Residente em Saúde Mental Coletiva, na Residência Integrada em Saúde pela Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará através da proposta da interiorização do SUS em territórios de vulnerabilidade socioambiental. O presente artigo de natureza bibliográfica trata da importância da Educação Popular em Saúde como elemento de cuidado ao sofrimento psíquico decorrente da seca no sertão nordestino. METODOLOGIA: Quais as contribuições da Educação Popular em Saúde para os cuidados com o sofrimento psíquico das populações rurais nordestinas?   Persistentes tentativas de naturalizar o fenômeno das secas esconde causas multidimensionais onde pobreza,  fome e condições precárias de educação, configuram um contexto psicossocial adoecedor. A reivindicação de um olhar diferenciado sobre a região, as exigências constantes em maiores recursos financeiros para resolver problemas emergenciais, possui uma longa jornada de práticas clientelistas onde o fenômeno das irregularidades pluviométricas e as questões hidrogeológicas seriam as principais causadoras de catástrofes ambientais com impactos sociais impossíveis de serem solucionados, portanto, com o remanejamento constante de financiamento público (AB’SABER, 1999). As situações diárias de luta pela sobrevivência nos sertões nordestinos descortina um modo de vida oprimido com geração de um sofrimento psíquico do oprimido descrito por Góis (2012), revelado no alcoolismo, tentativas de suicídio, transtorno de ansiedade, depressão e desesperança. As implicações psicossociais também repercutem no comportamento fatalista onde a impossibilidade para mudanças nessas estruturas deixa o conformismo como alternativa única para lidar com a situação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A Educação Popular em Saúde surge como elemento onde a leitura do mundo, questionamento das estruturas sociais e a percepção da saúde como um bem estar comunitário. Conforme Vasconcelos (2004), ao se perceber o adjetivo “popular” inserido no conceito de Educação Popular, falamos de uma concepção política dessa prática educativa para considerar o saber anterior do educando em uma prática horizontalizada das aprendizagens.  Mas também, na organização comunitária para exigir melhores condições de saúde, na mobilização social para ampliar a acessibilidade e organização de estruturas em saneamento básico, alimentação saudável e a utilização da água como elemento primordial para a saúde. A ação no mundo necessita da reflexão com alguém para que não se perca em si mesma. Práticas surgidas no Ceará como a Terapia Comunitária e a Abordagem Sistêmica Comunitária, foram influenciadas pela perspectiva freiriana e trabalham sob o prisma do fortalecimento das redes comunitárias para o acolhimento, escuta e potencialização do ser humano. Os temas geradores podem sensibilizar para a convivência como importante esquema de fortalecimento comunitário aprendido nos círculos de cultura e rodas de conversa.

Palavras-chave


seca, educação popular, sofrimento psíquico

Referências


AB’SABER, A. N. Dossier nordeste seco. Estudos Avançados, n.13, vol 36, 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n36/v13n36a02.pdf.



Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Caderno de educação popular e saúde / Ministério da Saúde, Secretariade Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. - Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 160 p. : il. color. - (Série B. Textos Básicos de Saúde).

GÓIS, C. W. L. Psicologia clínico comunitária. Fortaleza: Banco do Nordeste. 2012.

VASCONCELOS, E. M. Educação popular: de uma prática alternativa a uma estratégia de gestão participativa das políticas de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(1):67-83, 2004.