Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Análise da prevalência de Síndrome Metabólica e fatores de risco associados em pacientes com Esquizofrenia Refratária
Fernanda Daniela Dornelas Nunes, Pedro Henrique Batista de Freitas, Jeizziani Aparecida Ferreira Pinto, Andréia Roberta Silva Souza, Richardson Miranda Machado

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A esquizofrenia é uma doença crônica, incapacitante, que afeta mais de 21 milhões de pessoas em todo o mundo. É concebida, na atualidade, como um transtorno mental persistente e complexo, caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas que incluem discurso e comportamento desorganizados, delírios, alucinações e alteração na cognição. O tratamento baseia-se, essencialmente, no uso de medicamentos denominados antipsicóticos, associados a terapias psicossociais. Cerca de 30% das pessoas que possuem esquizofrenia não apresentam melhora do quadro clínico, sendo denominadas refratárias ou resistentes ao tratamento. Os diferentes mecanismos fisiopatológicos desse transtorno podem estar envolvidos em sua etiologia. Apesar de não existir um consenso único e globalmente aceito, a esquizofrenia refratária pode ser caracterizada quando não há melhora dos principais sintomas após o tratamento com dois antipsicóticos de classes diferentes (sendo pelo menos um atípico), em doses adequadas, durante um determinado período de tempo (4-6 ou 6-8 semanas). O tratamento medicamentoso de escolha, para os casos de esquizofrenia resistente (ou refratária), é a prescrição do antipsicótico atípico clozapina. Já a Síndrome metabólica (SM) caracteriza-se por um conjunto de fatores de risco para diabetes mellitus do tipo 2 e doenças cardiovasculares, tendo como componentes centrais a obesidade abdominal, resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão. Além disso, também está associada ao desenvolvimento de doenças hepáticas, respiratórias, osteoarticulares e câncer. Em pacientes com esquizofrenia, estima-se que, aproximadamente, 34% das mortes entre pessoas do sexo masculino e 31% naquelas do sexo feminino sejam atribuídas à doença cardiovascular, o que só é superado pelo suicídio. Desta forma, apresenta-se como uma condição complexa que acarreta alto custo social e econômico para os sistemas de saúde e famílias, atingindo todas as populações do mundo. Pessoas que possuem esquizofrenia apresentam um risco aumentado para alterações metabólicas, em comparação ao da população geral. Este artigo foi elaborado com o objetivo de estimar a prevalência de síndrome metabólica (SM) e os fatores associados, segundo as variáveis sociodemográficas, clínicas e comportamentais em pacientes com esquizofrenia refratária em uso de clozapina. METODOLOGIA: Foi realizado um estudo de delineamento transversal na Região Ampliada Oeste do Estado de Minas Gerais (MG). A população foi composta por 169 pessoas que constavam no cadastro da Superintendência Regional de Saúde (SRS) dessa região, com diagnóstico médico de esquizofrenia refratária que estavam em uso do antipsicótico atípico clozapina, maiores de 18 anos, de ambos os sexos e com capacidade de entendimento. O cálculo amostral foi realizado, utilizando-se o programa OpenEpi, versão 3.03a, considerando-se uma população de 169 indivíduos para uma proporção esperada do evento de 50%, um nível de significância de 5% e margem de erro de 10%, estimando-se uma amostra de, aproximadamente, 62 indivíduos. A amostra final foi composta por todos os pacientes que compareceram ao CAPS de Divinópolis, durante o período de coleta de dados (dezembro de 2014 a junho de 2015), totalizando-se 72 indivíduos. Foram excluídas do estudo as mulheres grávidas, os participantes que não estavam em jejum e aqueles que apresentaram qualquer condição que pudesse interferir na coleta e mensuração dos dados. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São João Del-Rei, Campus Centro-Oeste Dona Lindu (UFSJ/CCO) sob o parecer 572.288. Foram coletados dados sociodemográficos, clínicos, antropométricos e bioquímicos. O processamento e a análise dos dados foram realizados por meio do programa Statistical Package for the Social Science®, versão 20.0. As variáveis foram descritas por meio de suas frequências absolutas e relativas. Para a comparação dos pacientes com e sem síndrome metabólica, foram utilizados os testes de Qui-Quadrado de Pearson e exato de Fischer. Na análise multivariada, para avaliar os fatores associados à SM, foi utilizado o modelo de regressão logística binária. Para a entrada das variáveis preditoras no modelo, foi considerado um valor-p menor que 0,20 na análise univariada. Utilizou-se o critério forward para a entrada das variáveis no modelo e para a permanência delas no modelo final foi adotado um nível de 5% de significância. Após ajuste do modelo final, foi avaliada a estimativa do OddsRatio ajustado com o respectivo intervalo de confiança de 95% (IC 95%). O ajuste do modelo foi avaliado por meio da estatística de Hosmer& Lemeshow. Observou-se prevalência de SM em 47,2% da amostra, com predomínio entre as mulheres (58,8%). Pacientes com a síndrome apresentaram percentuais mais elevados de alterações, em todos os componentes. As razões para essa elevada prevalência ainda é muito controversa, principalmente em função da possível participação dos medicamentos antipsicóticos na gênese das anormalidades metabólicas. A esquizofrenia, por si só, já representa um fator de risco para as anormalidades que compõem a SM e, neste contexto, as medicações atípicas ou de segunda-geração, estando entre elas a clozapina, possuem um papel importante na potencialização do risco. A relação precisa entre o uso de medicações antipsicóticas e o desenvolvimento de SM ainda permanece incerta, podendo-se afirmar, com clareza, que pessoas tratadas com esses medicamentos apresentam SM em uma frequência superior à da população geral. A prevalência de SM gira em torno de 4 a 26% nas pessoas que não fazem uso desses medicamentos, chegando a 69% naqueles medicados. O uso de quatro ou mais medicamentos, sobrepeso e obesidade indicaram associação significativa. Observa-se que a ingesta de vários medicamentos aumenta o risco para o aparecimento de efeitos adversos metabólicos, contribuindo, por conseguinte, para o desenvolvimento de SM. Um estudo que analisou o uso de mais de um psicotrópico (politerapia), em comparação à monoterapia, confirmou um risco aumentado para o desenvolvimento de alterações metabólicas e outras comorbidades. Deste modo, este achado deve ser visto com cuidado, considerando-se que pacientes que possuem esquizofrenia refratária tendem a utilizar um número maior de medicamentos em detrimento da gravidade da doença e de sintomas diversos. Somando-se a isso, uma relação causal mostra-se inviável de ser estabelecida, tendo em vista a natureza deste estudo. Pacientes com a síndrome apresentaram um histórico de menos internações psiquiátricas, comparados àqueles que não a possuem , sendo associado à SM na análise multivariada. A prevalência de SM foi elevada, considerando-se que esta taxa representa um valioso indicador de saúde e aponta para a necessidade de cuidado e atenção. Sugere-se que esses pacientes sejam continuamente monitorados clinicamente, tanto no início do tratamento com clozapina quanto no seu decorrer, por meio de avaliações frequentes de seu peso, circunferência da cintura e pressão arterial, bem como realização de exames bioquímicos quanto aos componentes de SM. Além disso, indica-se que eles sejam incluídos em grupos e outras estratégias de educação em saúde e de qualidade de vida nas unidades de saúde. Para isso, é necessário que esse grupo de pacientes seja visto como prioritário pelos gestores e profissionais de saúde, considerando-se a necessidade de vigilância contínua desses fatores de risco para o estabelecimento de intervenções precoces e efetivas.

Palavras-chave


Esquizofrenia; Síndrome x Metabólica; Clozapina

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