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A EXPERIÊNCIA DE UM EVENTO ENTRE A SABEDORIA COLETIVA E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Última alteração: 2015-10-27
Resumo
APRESENTAÇÃO: Uma das questões constituintes do movimento da Reforma Sanitária, foi a compreensão de que a produção de conhecimentos na área da saúde não era apenas a produção de um saber “científico”, construído nas Universidades e organizações de pesquisa. Ela seria, também uma produção de conhecimento produzida como resultado da experiência prática da população na área da saúde, isto é, o que chamamos de Sabedoria Coletiva. Ocorre no entanto, que a especialização e desenvolvimento tecnológico crescente da área da saúde, e o desenvolvimento de estruturas hiper centralizadas, levaram a que se processasse uma separação entre a sabedoria coletiva e o conhecimento científico. A Internet e a consequente explosão da quantidade de informações em escala global, provocada pela interligação em escala, criou condições para que se recolocasse o conhecimento de uma nova maneira: Com o acesso a todo tipo de informações e as mais variadas formas de conhecimento e educação, relativizou-se a importância da estrutura de produção de conhecimentos nos padrões da ciência institucionalizada e ampliaram-se as possibilidades de crítica a seus resultados; Com a criação de novas formas de produção de conhecimento, através de processos coletivos e de colaboração online, se impulsionou a construção de novas metodologias e práticas; Ao evidenciar o caráter coletivo da produção de conhecimento, se colocou em cheque a organização da cultura vigente e de controle do patrimônio intelectual; Viabilizando uma alternativa à avaliação dos pares (de especialistas), através de múltiplos processos de validação social. Ao construir um espaço de comunicação horizontal, a Internet criou condições para que esta sabedoria coletiva se expressasse, saindo do espaço localizado onde aparece e, transformando-se em parte de um processo mais complexo de produção de conhecimento; permitindo a ciência e o processo de conhecimento que não se restrinja mais a cientistas e pesquisadores profissionais. O surgimento de ambientes virtuais extremamente complexos, construídos pela Internet, colocam em questão as formas tradicionais usadas pela academia para a “comunicação científica”. Paralelamente aos processos centralizados e estruturados em tecnologias de controle, através de mediadores, surgem processos de produção de conhecimento emergentes, estruturados em redes sociais, comunidades virtuais e práticas de educação em rede. Isso traz como alternativa aos processos de validação por “pares”, diversas formas de validação social. O Grupo de Pesquisa "Tecnologias, Culturas e Práticas Interativas e Inovação em Saúde", que tem como laboratório de experimentação o Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas da Fiocruz (Next Fiocruz), desenvolve uma linha de pesquisa para estudar as novas formas de produção de conhecimento que emergem na educação, pesquisa e saúde, conforme as redes sociais se tornam mais complexas e diversificadas. Esse trabalho se propõe a apresentar uma reflexão sobre a experiência da organização de um Congresso na Internet pelo Next/Fiocruz: a I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura. A organização deste congresso virtual surgiu por ocasião da organização da Semana Nacional Ciência, Cultura e Saúde, pela “Rede Saúde e Cultura”, projeto do Ministério da Cultura (Minc) em parceria com a Fiocruz. A Rede Saúde e Cultura teve como um dos seus principais objetivos a promoção da qualidade de vida através da ampliação de ações integradas entre saúde e cultura e teve como proposta principal promover o diálogo entre diferentes atores das áreas da saúde, cultura, educação, meio ambiente, desenvolvimento científico, tecnológico e social, bem como entre ativistas dos movimentos sociais ligados à saúde e cultura. METODOLOGIA: A ideia inicial era criar um site para divulgação de um evento físico, no qual fosse possível administrar as inscrições no Congresso. Porém, quando isto estava sendo pensado, considerou-se criar um evento de forma a permitir uma experiência via Internet, ampliando o espectro de suas atividades e o seu alargamento para além do evento físico planejado. Dessa reflexão resultou a proposta de realização da “I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura”. Enquanto a “Semana Nacional Ciência, Cultura e Saúde”, foi organizada em modo presencial, no período de 3 a 5 dezembro de 2012, as atividades da I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura, realizada pela Internet, ocorreram no período de 8 de novembro a 21 de dezembro de 2012. Além do debate virtual sobre os trabalhos apresentados, foi organizada uma mesa redonda online - , ou e-Mesa - intitulada “Práticas e ações culturais nas redes” através de uma sessão do Google Hangout, e transmitida via Youtube e gravada. Participaram desta e-Mesa, pesquisadores da Espanha, Portugal e do Brasil. RESULTADOS: O evento se realizou via rede social da Internet, por um dispositivo que vinha sendo criado pelo Next/Fiocruz para a Rede Saúde e Cultura, e se propôs a explorar as possibilidades de sincronizar processos de expressão da sabedoria coletiva com os processos próprios das atividades acadêmica e de pesquisa. Ele teve como objetivo mapear, registrar e discutir atividades culturais, de alguma forma registradas, divulgadas ou armazenadas na Internet, que pudessem contribuir com a promoção e a pesquisa relacionada à cultura, saúde e ao bem estar social, e avançar na reflexão sobre novas formas de produção de conhecimento e de patrimônio intelectual. Pretendendo se diferenciar dos eventos acadêmicos habituais, a "I Conexão Internacional de Saúde e (Ciber) Cultura" abriu espaço para expressão e debate de diferentes saberes e se propôs demonstrar e dar voz ao espírito contestador, dinâmico, criativo e reflexivo, presente na cultura da Internet. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Este congresso respondeu as necessidades que se colocam atualmente, referentes à popularização da Ciência, entendida como um processo ampliado e emergente de produção de ciência a partir de dinâmicas sociais e ao germinar de novas práticas culturais na área de Saúde. Com este evento foi possível experimentar a possibilidade de reunir em um mesmo evento, pesquisadores, educadores, profissionais, técnicos, e ativistas das áreas da saúde, da cultura e da Internet e estudar formas de viabilizá-la; além de de experimentar uma série de questões relacionadas a novas formas de produção e validação de conhecimento e de utilizar, de forma alargada, formas de organização criadas pela academia. Isto é, estudar novas formas de pensar e construir um “congresso científico”. Além disse, a experiência permitiu vivenciar algumas das diversas oportunidades do uso integrado das redes sociais, associados à academia e à participação direta da população. Tão importante quanto foi a possibilidade de consolidar uma forte percepção de que a validação social pode ajudar a ampliar os campos de ação da pesquisa científica e seus resultados.
Palavras-chave
Cibercultura; Saúde, Novas Formas de Produção de Conhecimento; Congresso Acadêmico.