Tamanho da fonte:
Disciplina de “Promoção e Educação em Saúde” : Metodologias Ativas na formação em nível de pós-graduação de profissionais da área de saúde
Última alteração: 2015-10-29
Resumo
APRESENTAÇÃO: Este trabalho descreve os pressupostos teóricos e a experiência educacional, baseada em metodologias ativas, de organização curricular da disciplina “Promoção e Educação em Saúde”, do curso de pós-graduação stricto senso Mestrado Profissional em Saúde da Família (MPSF) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Fiocruz – Mato Grosso do Sul. O delineamento se afasta do modelo de transmissão-recepção de informações e tem por objetivo uma dinâmica de reflexão sobre as questões abordadas buscando promover mudanças de atitudes no ambiente de trabalho dos alunos. METODOLOGIA: A “promoção em saúde” está vinculada a “educação em saúde” por integrar essa perspectiva com fatores ambientais diversos, como os Determinantes Sociais em Saúde. Nas ações de promoção as mudanças serão em nível organizacional, e nas de educação em nível individual, sendo que ambas se ligam ou convergem para o reconhecimento de que são os sujeitos que movimentam as organizações. As principais abordagens sobre educação em saúde podem ser delineadas como “modelo preventivo” e “modelo radical”. O preventivo baseado nos princípios da biomedicina, com o intuito de prevenir doenças se estabelece no Behaviorismo e no individualismo. Centra-se em uma mudança de hábitos individuais que estariam provocando a falta de saúde. Nesse sentido, culpabiliza o indivíduo e o responsabiliza pelas mudanças necessárias. As críticas a esse modelo são principalmente por não considerar a influência de aspectos sociais e as características individuais, estabelecendo que dadas as informações necessárias, todos mudarão seus hábitos, sendo portanto responsáveis em caso de não assumirem essa postura. Esse modelo pode ser entendido no âmbito da educação como baseado em uma perspectiva “bancária” , que segundo Paulo Freire, usando uma metáfora, considera os educando como recipientes vazios que serão preenchidos pelo professor que é o detentor do conhecimento. O educador é o protagonista do processo. Em contraposição, Freire propõe a perspectiva libertadora/problematizadora baseada no diálogo entre educador e educando, superando as contradições que surgem no ato de conhecer e sendo assim, negando o homem como ser desvinculado do mundo e esse como uma realidade que prescinde dos homens. A perspectiva de educação libertadora coaduna-se com o “modelo radical”, que se estabelece considerando uma conscientização do indivíduo de forma crítica. Compreende a ação educativa em grupos, pois considera que a troca de ideias e o diálogo propicia a mobilização coletiva impulsionando as mudanças necessárias. Há uma relação igualitária entre educador e educandos, sendo que os conhecimentos dos indivíduos, suas crenças e costumes são levados em consideração no processo de ensino-aprendizagem, sem imposições, no sentido da construção de sentidos. A proposta de uma promoção em saúde que supere o modelo tradicional prescritivo de educação em saúde (considerando esta um dispositivo potente para viabilizar a promoção da saúde), baseado no modelo biomédico, é um desafio que impõe questionamentos. Há muitas reflexões sobre os modelos de promoção e de educação em saúde, e os desenvolvedores desses processos são formados em cursos que, tradicionalmente, não contemplam competências da área educacional, e provavelmente, repetem modelos de ensino que vivenciaram, com grande possibilidade de manterem um processo bancário de ensino. Considerando a necessidade de uma reflexão sobre esses aspectos, o MPSF oferta, em sua estrutura curricular, a disciplina obrigatória de 45 horas-aula (3 créditos), de “ Promoção e Educação em Saúde”, que já foi ministrada por três vezes, desde a implantação do curso, com o objetivo geral de : Discutir as questões teóricas e abordagens práticas da promoção e educação em saúde, com ênfase na Estratégia de Saúde da Família (ESF); e de incentivar os alunos do curso do MPSF a aprofundarem o conhecimento teórico e despertar seu interesse para a aplicação de ações de promoção e educação em saúde no cotidiano do trabalho na ESF. A abordagem metodológica apoia-se na perspectiva educacional problematizadora e busca, por meio de metodologias ativas, desenvolver um processo de ressignificação do agir em saúde, que supere o modelo prescritivo e normativo, comum aos profissionais da área da saúde. Sua ementa contempla os seguintes aspectos: Processo Saúde-Doença. Promoção e conceito ampliado de saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde. Bases conceituais e metodológicas da educação em saúde. Diálogo entre a ciência e a cultura popular. Referenciais pedagógicos da interface saúde/educação. As metodologias ativas são compreendidas como estratégias que privilegiam os pressupostos da educação problematizadora, centrando o protagonismo do processo de aprendizagem no aluno, respeitando sua história de vida e cultura e estimulando-o a refletir sobre essa dinâmica nas ações de promoção e educação em saúde, desenvolvidas em seu cotidiano profissional. Ao longo desses 3 anos, como desdobramento de atitude crítico-reflexivo dos docentes e discentes, esta disciplina vem sendo reconstruída, conforme potencialidades e fragilidades vivenciadas na oportunidade de sua oferta. Este processo compreende processo avaliativo constante (formativo) e, até o momento, abordou as seguintes questões: i) Processo de construção individual e coletiva do conceito inicial do grupo sobre "Promoção da Saúde" e "Educação em Saúde", que consiste em uma proposta escrita individualmente sobre o conceito e posterior discussão em grupo com uma síntese registrada por escrito. Em seguida, os estudantes assistem vídeos como forma de conflito cognitivo sobre os conceitos construídos. ii) Interpretação e registro escrito sobre charges representativas do pensamento de Paulo Freire transpondo as situações para questões relacionadas a promoção da saúde e educação em saúde. iii) Leitura de texto sobre cultura, com discussão sobre “cultura e o paralelo com o ambiente de trabalho que cada mestrando vivencia” e posterior registro escrito relativo a reflexão individual da seguinte questão: Você leva em consideração a cultura do grupo com o qual trabalha? Exemplifique uma situação. iv) Elaboração individual, com registro escrito, de uma Situação Problema (SP) relacionada à realidade (assistência, gestão, etc.) dos cenários de práticas dos estudantes-trabalhadores, contextualizando-a com o processo de promoção e educação em saúde. Algumas SPs são escolhidas pelo grupo para processamento e discussão. v) Apropriação do referencial teórico sobre Mapas Conceituais, método utilizado para o processamento e discussão em grupo sobre as SPs escolhidas. vi) Elaboração individual, com registro escrito, de uma proposta de intervenção, considerando a SP já elaborada, baseada nos princípios da Andragogia e da Aprendizagem Significativa. vii) Respostas ao questionário de Avaliação da disciplina RESULTADOS: Com base nas observações dos professores, elaborações escritas e orais relativas as propostas de atividades e respostas dos questionários de avaliação da disciplina bem como dos efeitos percebidos decorrentes da experiência educacional, relacionam-se como resultados: a percepção de maior autonomia dos alunos na busca de identificação de situações em seus ambientes de trabalho que necessitam de transformações; disposição para interpretar os condicionamentos de tais situações em um enfoque cultural, histórico e social, além de predisposição a iniciativas de mudanças em seu campo de atuação profissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A disciplina “Promoção e Educação em Saúde” pode ser desenvolvida baseando-se em metodologias ativas e pressupostos da educação problematizadora conforme delineado por Freire. Há necessidade de esclarecer e discutir o propósito das metodologias adotadas pois geram insegurança em alguns alunos, que consideram que não são passadas informações. A esse respeito indicamos e adotamos o desenvolvimento de uma auto- avaliação compartilhada com o grupo em que é possível identificar mudanças entre os conhecimentos e posturas no percurso da disciplina.
Palavras-chave
educação; pós graduação em saúde; metodologias ativas