Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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OS RUÍDOS DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL: DESENHANDO AÇÕES PARA O CONFORTO ACÚSTICO COM VISTAS À HUMANIZAÇÃO
Joshiley Coelho Guindo de Aquino, Ednéia Albino Nunes Cerchiari, Dioelen Virgínia Borges Souza de Aquino Coelho

Última alteração: 2015-11-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Em consequência dos avanços das tecnologias, surgiram equipamentos que ocasionaram nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), progressos relacionados à redução da taxa de morbidade e mortalidade entre os prematuros e recém-nascidos (RN) de muito baixo peso. Entretanto na “bagagem” desses novos equipamentos, embora de suma importância para alertar a equipe das mudanças que ocorrem nos pacientes relacionado a sua condição clínica, os mesmos emitem sons que podem interferir na saúde e qualidade de vida do RN, familiares e profissionais de saúde. Podemos caracterizar uma UTIN como um ambiente que recebe diversos estímulos e tensões de diversas fontes, sendo os mais comuns de fontes sonoras produzidos pela circulação de pessoas, conversas entre os profissionais de saúde, alarmes dos equipamentos de suporte de vida e outros. Em relação aos danos que podem afetar os profissionais de saúde, caracterizam-se por: hipertensão arterial, alteração no ritmo cardíaco, cefaléia, distúrbio do sono e do humor, perda auditiva, irritabilidade, estresse e fadiga, cansaço físico e mental, baixo poder de concentração e insatisfação com o trabalho. Todos estes sintomas podem influenciar o desempenho desse profissional, podendo induzir ao erro e consequentemente comprometer a segurança do paciente, visto que na UTIN são atendidos RN em situação crítica os quais necessitam de cuidados intensivos e tomadas de decisões rápidas pelos profissionais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica para UTIN, um ambiente com níveis de pressão sonora de até 40 dB de dia, com redução de 5 a 10 dB à noite. Logo a Academia Americana de Pediatria sugere que os níveis de ruído a que o RN é exposto não ultrapassem os 58 dB, assim também considera a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). METODOLOGIA: Trata-se de um relato de experiência, que busca desenhar as ações dos profissionais de saúde frente aos níveis elevados de pressão sonora e as “tensões” na UTIN do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU/UFGD), observados no mês de agosto a setembro de 2015. O HU/UFGD é referência à maternidade de alto risco, tendo suporte a UTIN com dez vagas para atendimento aos neonatos nascidos na macrorregião de Dourados. O turno de trabalho é dividido em manhã, tarde e noite. Em cada turno a equipe é composta por dois enfermeiros, um médico neonatologista, um fisioterapeuta, cinco a sete técnicos de enfermagem sendo a relação deste profissional de enfermagem por paciente e de 1:2, totalizando de nove a onze profissionais fixos na UTI em cada turno. A UTIN conta também com o apoio de outros profissionais como secretária administrativa, auxiliar de limpeza, psicóloga, fonoaudióloga, assistente social assim como outras especialidades médicas pediátricas. RESULTADOS: Em relação as fontes produtoras de ruído, as que mais se destacaram foram: alarme dos aparelhos e equipamentos em geral, conversa, excesso do número de profissionais, tom de voz alto, abrir/fechar a porta da UTIN, arrastar objetos e equipamentos, abrir e fechar a portinhola da incubadora, aparelho de aspiração, campainha do telefone, vazamentos de ar no painel dos leitos e no blender dos respiradores mecânicos e sons externos como o ar condicionado central. Os profissionais que trabalham neste setor, o consideram como muito ruidoso, relatam desconforto e danos à sua saúde, com sinais e sintomas que se estendem em alguns casos, até após sua jornada de trabalho, sendo a irritabilidade, cansaço físico e cefaléia os mais referidos. Estes sinais estão em conformidade com outras literaturas, nas quais, profissionais pesquisados sinalizam a irritabilidade e o cansaço físico e mental, dificuldade de concentração, repercutindo no desempenho do trabalho e memória do ruído (zumbido). Sendo assim, há uma importância de medidas de baixo custo, como educação continuada das equipes de trabalho sobre a prevenção de ruído ambiental e saúde auditiva, assim como ações educativas baseadas no comportamento relacionado às atitudes e hábi­tos dos profissionais de saúde, não na reprodução das ações de outros sujeitos, mas sim na reflexão, conscientização e saber científico. Contudo, os profissionais que compõem a equipe de saúde da UTIN do HU/UFGD, têm procurado se esforçar no atendimento imediato frente ao choro, à agitação, ao suave tom de voz, cuidado na manipulação dos móveis, responder rapidamente aos alarmes. As referidas ações são presenciadas de forma sensata por muitos profissionais através do diálogo, que buscam ensinar não apenas na transferência do conhecimento, mas na capacidade de aprender por meio de exemplos e do reforço vicário entre as relações interpessoais tanto com os outros quanto com o ambiente em um modelo recíproco. Por outro lado, existem aqueles que na preocupação de manter a preservação de níveis sonoros reduzidos, tem se posicionado frente à equipe de trabalho com discursos pedagógicos autoritários caracterizando seu ato de inculcar fundamentado na fórmula “é porque é” configurando assim como um discurso de poder, pois, ao se erguer, a “voz da sabedoria” silencia a voz do aprendiz. Vale destacar que o trabalho em grupo, mediado pelo diálogo entre profissionais da saúde, libera a quebra da tradicional relação vertical que existe entre eles e os sujeitos de suas ações, tornando um algoritmo individual e coletivo, permitindo a construção da consciência coletiva e o encontro da reflexão pelo qual os homens ganham significação, enquanto sujeitos, e conquistam o mundo para sua libertação, autonomia e transformação. É nesse espaço de atenção, que pode edificar-se também, uma rede para a formação de profissionais com vistas á promoção da saúde e da pedagogia problematizadora, a fim de contribuir efetivamente na melhoria da qualidade de vida e na sua formação como cidadãos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conforme resultados apontados acreditamos que a  realização de formação continuada junto às equipes multiprofissionais, é uma estratégia apropriada considerando a reorganização das práticas assistenciais das equipes com foco na educação em saúde auditiva bem como a redução dos níveis sonoros altos, os quais cooperam à redução das “pressões” que se debruçam sobre as UTIN, logo significa a pos­sibilidade de gerar um ambiente de trabalho pacífico, melhor qualidade de vida das equipes multiprofissionais e bem estar dos neonatos. Sendo assim, para romper com as determinações do método tradicional e a transmissão vertical do conhecimento presentes nos cursos de formação continuada, vale resgatar o método de educação em saúde na abordagem através do diálogo e do discurso pedagógico como métodos ativos e reflexivos porque dá a chance de expressar o pensamento e experiências pessoais do grupo, assim como o uso das capacidades mentais para reflexão, análise, julgamento, defesa de ideias e proposta de soluções diante dos problemas.  Agradecimentos: à equipe do Serviço de Neonatologia do HU/UFGD e ao Programa de Mestrado Profissional de Ensino em Saúde da UEMS.

Palavras-chave


ruído; recém-nascido; educação em saúde.

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