Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VERSUS COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: PERCEPÇÕES DA COMISSÃO ORGANIZADORA, EM FORTALEZA-CE
Milena Bezerra Oliveira, Suziane Cosmo Fabricio, Luis Fernando de Souza Benicio, Charlliane Fernandes Gonçalves Ribeiro, Itanna Vytoria Sousa Serra, Paula Jordânia Paixão de Souza, Tila Carolina Bezerra Goes

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: Por meio desse texto, socializamos as possibilidades do projeto Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), como estratégia de educação permanente, utilizada em Fortaleza-CE. Visualizando-o por meio do olhar da comissão organizadora local, que vivenciaram e, atualmente, constroem as imersões e os seminários. Referido projeto foi idealizado a partir dos Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIV), sua realização iniciou no Rio Grande do Sul, somente com estudantes de Medicina. No município supracitado, a primeira vivência aconteceu em 2002, momentaneamente houve uma pausa na execução a nível estadual, retomando em 2012, nos moldes da Política de Educação Permanente em Saúde, instituída em 2004, pelo Ministério da Saúde. É vinculado a Rede Unida e é custeado com financiamento da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), via submissão de projeto. O VER-SUS propõe vivências no cotidiano do SUS, refletindo sobre as potencialidades dos territórios e a efetivação dos princípios do SUS, contribuindo para a formação de graduandos, estudantes tecnólogos, residentes e movimentos sociais. Visa fortalecer o trabalho em equipe, o diálogo com outros protagonistas do cuidado e as diversas formas de produção de saúde, desconstruindo concepções limitadas acerca da saúde pública. Consideramos, nesse processo, a valorização de militantes para o SUS, forjando atores que busquem qualificar o sistema de saúde. Acreditamos que todas as categorias profissionais são essenciais, edificando a ideia de que as múltiplas esferas da vida são interligadas e que, dessa forma, faz-se necessário discutir acerca dos determinantes de saúde. Para este texto, pretende-se resgatar aspectos do VER-SUS como mecanismo de educação permanente, colaborando para a formação dos sujeitos supracitados. Compreendendo o princípio fundamental da epistemologia freiriana. É nesse sentido que o VER-SUS é potente, pois se pensamos a partir do contexto, no qual nos inserimos, faz-se necessário imergir em diferentes concretudes. Muitas vezes é preciso sentir para entender, apropriar-se das múltiplas realidades. Traçamos o desenvolvimento desse trabalho por meio de vivências como comissão organizadora e participante locais, do referido projeto. Além disso, utilizamos nosso acumulo teórico acerca da educação permanente, dos assuntos abordados durante as vivências e das discussões fomentadas no decorrer de nossos encontros. Durante a vigência do VER-SUS os sujeitos ficam imersos pelo período de nove e quinze dias, alojados coletivamente. A dinâmica do VER-SUS compreende visitas em instituições e espaços promotores de saúde, englobando todos os níveis de atenção, além de populações especificas como, por exemplo, tribos indígenas, assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Rede de Urgência e Emergência. Além disso, compreende-se a necessidade de partilhar, de trocar saberes; impressões; sensações. Por isso, realizamos rodas de conversas sobre os assuntos trabalhados durante o dia. Utilizamos, em todos os espaços relacionados ao VER-SUS, metodologias participativas, trabalhando em roda, resgatando as poesias, as cirandas, embalados em músicas e afetividade. METODOLOGIA: A metodologia que usamos é embasada na educação permanente, entendendo que a formação não deve ser dissociada da prática cotidiana, tampouco deve ser somente após ingressar como profissional de saúde. Todos esses processos de organização não acontecem de forma estéril, mas são momentos ricos de debates e reflexões sobre o que se pretende, sobre a melhor forma de se conduzirem os processos, sobre as respostas que precisam ser dadas à sociedade, cuidados com relações interpessoais e articulações institucionais são riquezas difíceis de traduzir em palavras. Estivemos, enquanto comissão organizadora, presentes em muitos momentos, apoiando no que foi necessário e auxiliando o andamento dos processos, cuidando de cada atividade. Decidimos que iríamos participar ativamente, com o intuito de reavaliar essa vivência, dispomo-nos a afetar e sermos afetados novamente, compreendendo que cada coletivo têm suas especificidades no modo de caminhar. Estivemos novamente imersos, não somente durante os dias da vivência, mas no processo de elaboração, nas reflexões e nas memórias necessárias para elaboração desse relatório e acessamos também nossa vivência, revivemos sentimentos e somos novamente tocados, sensibilizados para o potencial transformador do VER-SUS. RESULTADOS: Acreditamos que nossos resultados e avaliações são bastante positivas, reforçando o SUS que desejamos, o proposto pela Constituição de 1988. Consideramos que o empoderamento, assim como a consciência é um processo individual, mas que pode ser construído coletivamente. A proposta é desconstruir lentes, transformar. É incrível o quanto saímos revigorados, sensibilizados com a vivência do VER-SUS, compreendendo para além do funcionamento das unidades, mas sua dinamicidade, as pessoas envolvidas, articulando e considerando a historicidade dos espaços e dos movimentos é que conseguimos transvêr das pessoas e das instituições. O aprendizado não é dado, mas é vivencial. Essa vivência contribui, por exemplo, na ampliação da compreensão de saúde, entendendo que a saúde e seu cuidado estão além dos equipamentos e das políticas de saúde, sendo necessário levar em consideração que a natureza, a fé, a religiosidade e a crença andam de mãos dadas no processo da promoção da saúde. É difícil explicar com palavras sensações que perpassaram os sentidos, pois o amor presente no brilho dos olhos no processo do cuidado, da solidariedade, move para viver e sentir tais experiências. Nesse processo, deparamo-nos com viventes abertos a todos os momentos, pessoas que foram sensibilizadas pelas situações vivenciadas, bem como sujeitos que não se visualizaram nesse local. Vimos o companheirismo, os vínculos sendo formados, indivíduos que resignificaram seus pensamentos. Superamos os impasses, conseguimos horizontalizar as relações, interagimos com os viventes, fomos viventes. O VER-SUS é um projeto estimulador e instigante. Acreditamos que a experiência proporcionada pela vivência do VER-SUS é única. O que nós aprendemos, vivenciamos, conhecemos, compartilhamos e partilhamos não encontraremos algo similar em nenhum outro lugar. É interessante o quanto se cresce no contato com o outro profissional, o outro pessoa, o outro amigo. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Quando chegamos ao final de todas estas vivências é possível perceber o quão múltipla pode ser uma cidade como a nossa, e, o quão limitado pode ser a nossa visão dela e tantos outros aspectos. Foi de extrema importância visitar os diversos equipamentos e vidas, e conhecer a multiplicidade do potencial humano. Este foi, acreditamos, um dos maiores ganhos que o VER-SUS nos trouxe e ressaltamos a importância da efetiva participação da comunidade e dos viventes na construção e/ou fortalecimento de uma visão crítica no grupo. Surpreendemo-nos bastante, mas as vivências têm essa característica, possibilita-nos agigantar os sentimentos, partilhar as lentes, aguçar os olhares, conhecer as múltiplas realidades, estar sensível e aberto.

Palavras-chave


VERSUS; Formação Profissional; Educação Permanete.