Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
“CRISE GLOBAL, FORÇA DE TRABALHO EM SAÚDE E OS DESDOBRAMENTOS PARA ATENDER UMA POPULAÇÃO QUE ENVELHECE”
Liliádia da Silva Oliveira Barreto
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: O estudo tem sua base formulada no trabalho e formação de recursos humanos para o SUS refletido a partir da experiência e construção do conhecimento realizado no acompanhamento em sala de aula com alunos e supervisores de estágio e na participação em diferentes programas de formação de profissionais de saúde em Programa de Residência Multiprofissional em Saúde e no acompanhamento do Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde – PET- Saúde da Família e Pró – PET/Saúde. Destaca-se aqui o acompanhamento também de atividades realizadas com alunos idosos que retratam em suas falas o cenário das desigualdades sociais e das necessidades de saúde ainda não contempladas no modelo proposto de formação profissional em saúde para o SUS. O objetivo geral é discutir o cenário da crise global da força de trabalho em saúde e seus reflexos para a formação de recursos humanos em saúde para o SUS considerando o processo de envelhecimento no mundo. Estimativas formuladas pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015) indicam que nas próximas décadas a população mundial com mais de 60 anos vai passar dos atuais 841 milhões para 2 bilhões até 2050, tornando as doenças crônicas e o bem-estar da terceira idade novos desafios de saúde pública global. Em 2020, o número de pessoas com mais de 60 anos será maior que o de crianças até cinco anos, notando que 80% dos idosos viverão em países de baixa e média renda. Estudos que discutem o tema apontam a saúde como um elemento de preocupação mundial. No século XXI, fomentam-se novas configurações para a formação dos profissionais de saúde sobre parâmetros nos quais está presente a saúde global que, se configura na principal razão pela escassez severa da Força de Trabalho em Saúde (FTS) gerada pela má distribuição acentuada dos profissionais de saúde em todo mundo, especialmente em países periféricos onde a demanda por necessidades de saúde se distanciam da proposta de formação e alocação destes profissionais. Documentos[1] que demonstram haver uma crise global da força de trabalho em saúde caracterizam-na por um conjunto de problemas relacionados às necessidades sociais contemporâneas formado por um déficit global de mais de 4 milhões de profissionais de saúde em todo o mundo (WHO, 2006). Segundo a Aliança Global Health Workforce (GHWA) essa escassez é agora de mais de 7 milhões. Com as informações relatadas pela GHWA há um déficit global de 12,9 milhões de trabalhadores de saúde estimada para 2035 em relação ao limiar de 34,5 profissionais de saúde qualificados por 10.000 pessoas. As desigualdades sociais se refletem nas necessidades de saúde da população com carga de doenças e epidemias não assistidas demograficamente em todas as regiões do continente convivendo com novos e complexos problemas de saúde identificados pelas contradições de suas formas atingindo a todos e rompendo barreiras entre países ricos e pobres. METODOLOGIA: Pesquisa bibliográfica, fundamentada no método crítico dialético, de abordagem qualitativa. O marco temporal reflete as mudanças ocorridas no mundo do trabalho em saúde na contemporaneidade e seus desdobramentos com registros apresentados no Relatório Mundial da Saúde (WHO, 2006) e em estudo liderado por Julio Frenk e Lincoln Chen realizado nos EUA em 2010 em comemoração aos 100 anos de existência do Relatório Flexner sobre a Educação dos Profissionais de Saúde para o Século XXI. Para a discussão da formação profissional de recursos humanos em saúde voltada para o SUS, utiliza-se de documentos e registros legais que se apresentam pela Portaria/MS nº 1996 de 20 de agosto de 2007 que dispõe sobre novas diretrizes e estratégias para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS). No eixo transversal apresenta dados da realidade sobre o processo de envelhecimento no mundo e os agravos decorrentes desta crise para o enfrentamento das necessidades de saúde. RESULTADOS: Quanto à formação de recursos humanos em saúde, a legislação do SUS orienta formação para um conjunto de competências a ser desenvolvidas como eixo estruturante do processo formativo. Propõe em todo Brasil desde 2003 com a criação da Secretaria de Gestão pelo Trabalho em Saúde (SEGTS), tanto nas escolas de saúde em diferentes níveis de formação, quanto nos espaços de atuação profissional ações com vistas à mudança do modelo tradicional, orientado historicamente na perspectiva clínica e hospitalar com enfoque apenas no tratamento de doenças, a construção prevê ações e programas ministeriais que proponham substituição do currículo tradicional. Propõe ações coletivas de promoção de saúde para que se façam presentes práticas de saúde voltadas para o processo de envelhecimento numa ação preventiva e promocional contínua e de educação permanente entre profissionais e alunos de saúde ampliando discussões intergeracionais que integre esta realidade em seus modelos e na leitura das mudanças propostas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Embora se estime aumento da população idosa em todo mundo e no Brasil na proporção de 35% do total da população, doenças crônico-degenerativas e distúrbios mentais já têm determinado, atualmente, maciça utilização dos serviços de saúde. O desenvolvimento de doenças, incapacidades e dependência têm sido mais frequentes dentre aqueles de baixa renda que, no entanto, não têm conseguido garantir a assistência social e de saúde que demandam. Ações preventivas devem ser coordenadas por unidades básicas de saúde, priorizando necessidades locais. Atualmente, perto de 40% do tempo vivido pelos idosos brasileiros se dá sem saúde. Isso coloca a questão da importância de uma vida mais longa com melhor qualidade para os sobreviventes. O aumento projetado da esperança de vida aos 60 anos leva a um envelhecimento do grupo de idosos, ou seja, a um crescimento mais acentuado dos muito idosos (mais de 80 anos), entre os quais se encontra a maior proporção de deficientes, portadores de doenças crônico-degenerativas, pessoas com dificuldades para lidar com as atividades do cotidiano entre outros [1] Segundo registros da OMS no Manual para Monitoramento e Avaliação de Recursos Humanos de Saúde (2009) “Uma série de fóruns de alto nível sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio relacionados com a Saúde (12), o relatório de estratégia de recursos humanos de saúde da Iniciativa Conjunta pelo Aprendizado (13), a principal publicação da OMS, Relatório mundial de saúde 2006: trabalhando juntos pela saúde (4), as resoluções das Assembleias Mundiais da Saúde sobre desenvolvimento de pessoal de saúde (14), e o lançamento da Aliança Mundial sobre o Pessoal de Saúde (15), assim como certos mecanismos de parceria regional, tais como a Aliança de Ação Ásia-Pacífico sobre Recursos Humanos de Saúde (16), fizeram parte de um grupo de atividades internacionais chamando a atenção de decisão e intervenientes nacionais, regionais e internacionais, incluindo os órgãos de comunicação social, a sociedade civil e o público em geral, para a importância vital de recursos humanos de saúde em todo o mundo, especialmente a crise de RHS na África subsaariana” (p.05). Disponível em http://www.redxlasalud.org/index.php/mod.documentos/mem.detalle/id.1128/lang.pt.
Palavras-chave
Palavras-Chave: Crise da força de trabalho em saúde. Formação para o SUS. Inovações na Educação em saúde. Saúde global. Processo de Envelhecimento.
Referências
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