Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O LUGAR DA CRIANÇA NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Sandro Ramos Paiva, Conrado Neves Sathler, Catia Paranhos Martins

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO DA ATIVIDADE: Este trabalho faz parte do projeto de extensão: Acompanhamento e Apoio Técnico ao Programa Nacional de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ – AB), realizado por alunos do estágio supervisionado em Psicologia Social e Comunitária da Universidade Federal da Grande Dourados. Quando se verificou o contexto da criança no espaço da Estratégia da Saúde da Família (ESF), percebe-se que elas estão dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS), juntamente com seus pais que procuram o atendimento médico. Algumas dessas crianças estão sentadas nos colos de seus pais, estão chorando e outras ficam correndo de um lado ao outro, fazendo algazarras comuns a infância. Também se verificou que elas procuram a UBS para receberem os cuidados em saúde. Essas crianças estão, geralmente, sobre cuidado de pessoas responsáveis, sejam seus pais ou cuidadores. É com essa dicotomia – medicação e medicalização -, que este trabalho se (pré)ocupa: compreender que subjetividade se forma neste ambiente. À medida que o sujeito se relaciona com o outro e com o ambiente vai se construindo uma subjetividade sadia (ou não). Segundo Vygotsky (1996), todo o desenvolvimento cognitivo se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio. Nas vivências como estagiário de Psicologia percebemos que há dezenas de crianças brincando nas UBS e esta presença sequer é notada, visto que o que se prioriza é, segundo nossas observações, a doença do adulto. Na UBS em que nos encontramos há duas equipes atuando sendo que essas crianças são pouco acolhidas. A criança depende da estrutura social, visto que todas as relações subjetivas estão totalmente relacionadas à interação com seus cuidadores e com a comunidade. A subjetividade dessas crianças depende de como estas crianças, e seus pais, são tratadas e cuidadas nesses espaços institucionais. Estes espaços institucionais são As UBS são o local prioritário de atuação das equipes de Atenção Básica à Saúde. Desse modo, desenvolve-se uma Atenção Básica à Saúde com alto grau de descentralização e profunda capilaridade no território nacional, o que a deixa sempre mais próxima ao cotidiano (BRASIL, s/d). As equipes de Atenção Básica à Saúde tem como prioridade a atuação dentro de um território específico como o objetivo de trazer qualidade de vida ao usuário, assumem a responsabilidade sanitária e o cuidado dessas pessoas. Também dentro deste território podem atuar equipes dos Consultórios de Rua, Atenção Domiciliar (Melhor em Casa) e os Núcleos de Apoio as equipes de Saúde da família (NASF), A população busca a assistência à saúde por meio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que vão até a população com o intuito de aproximar a comunidade das UBS. Esses mesmos ACS fazem visitas nas casas de cada morador de sua área, proporcionando essa aproximação. “As consultas são marcadas pelos agentes, que muitas vezes, acompanham à pessoa até ao centro de saúde. Também controla a medicação dos doentes crônicos, dão orientação sobre dengues, leptospirose, higiene básica e outros cuidados de saúde” (BRASIL, 2009). Quando as crianças acompanham seus pais na UBS ficam, frequentemente, a mercê, sem nenhuma atividade sistemática de acompanhamento. Não são atendidas, observadas ou acompanhadas, pois não há uma estrutura que as acolha. Pensamos, então, que outra saúde responderia à formação de uma criança cidadã, com saúde integral e afastada das práticas de medicalização. MÉTODO: OBSERVAR, APRENDER E ENVOLVER-SE. O brincar nas UBS não é o problema a ser investigado, mas sim como estas crianças são recebidas e qual melhor forma de se intervir com estas crianças em direção à educação, à prevenção de doenças e promoção à saúde, papéis institucionais da ESF. A relevância se localiza em colaborar com a observação de na UBS que acolhe as equipes da ESF há crianças e há uma potencialidade a ser explorada com esta presença. O Ministério da Saúde indica pelo menos três procedimentos: acolhimento, intervenção em casos de violência e promoção de cuidados (BRASIL, 2011). Dentre os procedimentos que adotamos para fazer a análise de relato de experiência utilizamos a cartografia. A cartografia é um método de estudo-intervenção do socius proposto por G. Deleuze e F. Guattari que nos convoca a uma experimentação problematizadora no acompanhamento dos processos de composição e decomposição de uma realidade ou matéria, apreendendo-a em seus índices imateriais e movimentos conectivos na produção do socius e dos modos de subjetivação (NEVES et al, 2010. P. 45). O método cartográfico permite ao pesquisador que, ao acessar seu campo de trabalho, o afete e seja por ele afetado, provocando transformações da realidade em ambos.   OBSERVAÇÃOES DO CAMPO: O ESPAÇO DA CRIANÇA O espaço especifico da criança na UBS é a puericultura. que tem como propósito acompanhar o crescimento e desenvolvimento, observar a cobertura vacinal, estimular a prática do aleitamento materno, orientar a introdução da alimentação complementar e prevenir as doenças que mais frequentemente acometem as crianças no primeiro ano de vida, como a diarreia e as infecções respiratórias (VIEIRA et al, 2012). Essas ações de assistência demonstram uma abordagem à saúde da criança, no entanto podemos pensar em ações complementares em busca da formação de uma clínica ampliada, que almejem a saúde integral do sujeito, afastando-o das práticas de medicalização. “A medicalização se refere à utilização de medicamentos em crianças com dificuldades de aprendizagem escolar e relacionamento interpessoal, encaminhados por profissionais de saúde” (Rodrigues, 2011) e não somente isso, indica uma tendência exagerada em conter comportamentos e moldar identidades via normalização biológica da população. Seguindo as propostas da clínica ampliada e da saúde coletiva, pensando na formação da subjetividade, aponta-se para o possível avanço da criança tomada como sujeito de direitos e em desenvolvimento e ao entrar nas instituições de saúde percebam-se como valiosas ao Estado e como potenciais merecedores de investimentos nobres devido ao seu próprio valor como cidadã.PONDERAÇÕES FINAIS: Este trabalho aponta para um avanço a construção até aqui realizada pelo Sistema Único de Saúde na direção da saúde integral da criança. Isto se dá na perspectiva de trazer acolhimento, educação e integração da criança não somente nos aspectos biológicos, mas, também, aos seus valores intrínsecos enquanto sujeito em formação.

Palavras-chave


Atenção Básica à Saúde, Formação em Psicologia, Medicalização da Criança.

Referências


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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

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VIEIRA, V. C. L.; FERNANDES, C.A. DEMITTO, M O.; BERCINI, L.O.; SCOCHI , M.J.; MARCON, S. S. Puericultura na atenção primária à saúde: atuação do enfermeiro. Cogitare Enferm., v.17, n 1, p.119-25. Jan/Mar 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/User-Note/Downloads/26384-96295-2-PB.pdf>. Acesso em 13 out. 2015.

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