Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Gerando Arte: A inserção da pintura corporal como ferramenta de empoderamento e vínculo em um grupo de gestantes
Renata Marques da Silva, Laura Denise Reboa Castillo Lacerda, Laura Santos Neitsch, Leo Fernandes Pereira, Leticia Martins, Vanessa Baldez do Canto

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A gestação é uma das experiências humanas mais complexas, abarcando múltiplas dimensões da vida da mulher e de seu desenvolvimento humano. É uma vivência individual, única e cada gestação possui características diferentes. Muito embora apresente este caráter singular e subjetivo, a gravidez também se caracteriza como um evento social, que envolve e mobiliza, direta e indiretamente, as pessoas que convivem com esta mulher, estendendo-se assim, a toda a sociedade. Novas tendências que apontam para as discussões em torno do Parto Humanizado e seguem práticas atípicas não observadas anteriormente no cuidado profissional com a mulher; ou ainda a valorização de algumas atividades e cuidados antigos, que são reconsiderados quando levados a estudos baseados em evidências clínicas. Estas práticas são utilizadas para promover a humanização, o acolhimento, o reconhecimento, aumento da auto-estima e vínculo da gestante com o processo de gestar. Observamos que ao longo das consultas pré natal e dos grupos de gestantes de um Centro de Saúde (CS) do município de Florianópolis-SC, sempre existiu a busca e a necessidade, muitas das vezes não identificadas, por algo que fosse modificador e impressionante no processo de identificação com a nova condição feminina de ser mãe. A auto-afirmação e a necessidade de estabelecer vínculo com o bebê se estenderia também ao pai, e a todos que compõem a rede de apoio da gestante. Desta forma, a experiência gestacional, marcada pela insegurança, incerteza e dúvidas, faz com que a gestante necessite tecer uma teia de relações, visando o apoio afetivo e o suporte social, tão caros neste momento da vida da mulher. Assim, o estreitamento dos laços com as pessoas próximas, tais como o marido, o companheiro, o namorado, a família, profissionais de saúde e, até mesmo com outras gestantes, auxiliam sobremaneira na necessária adaptação que a gestação impõe. O acompanhamento pré-natal é uma importante ferramenta para o enfrentamento das dificuldades que marcam o processo de gestar, sendo fundamental para promover a troca de experiências, a compreensão das vivências, abrindo espaço para que a mulher expresse suas angústias e seus receios. Existe uma história mundial de uso da pintura em barrigas, a origem dessa prática ainda e desconhecida. Várias equipes e profissionais, voltados para o parto Humanizado no Brasil, têm oferecido em seus grupos ou em atendimento individual a opção das gestantes visualizarem seu bebê de um modo artístico através da Ultrassom (USG) Natural ou outro tipo de desenho ou pintura na barriga, com temas geralmente relacionados à gravidez. Na cidade de Florianópolis identificamos grupos que realizam a USG Natural em suas parturientes, sendo esta prática possível no sistema privado. A Pintura Corporal tem uma variedade de linguagens artísticas para registrar um dos períodos de maior singularidade e sensibilidade, que é a gestação. Fotografias, músicas, mandalas e diversas delas conversam entre si para tentar traduzir o momento inicial da maternidade.  E, no que diz respeito à arte, a criatividade e o novo não podem ficar de fora. Nosso trabalho circunda o universo de mulheres que são usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) de um CS do município de Florianópolis. O objetivo do trabalho foi proporcionar uma vivência de empoderamento sobre o corpo e estreitamento de vínculo mãe/bebê por meio da expressão artística de pintura na barriga, conhecida como USG Natural, e pela fotografia em mulheres que participam de um grupo de gestantes de um CS do município de Florianópolis. DESENVOLVIMENTO:No ano de 2014 criou-se o grupo de gestantes Beija Flor com o intuito de oferecer um espaço de discussão, acolhimento, arte, movimento e corporalidade, onde a gestante e toda sua rede de apoio tem a opção de práticas ainda não convencionais ao pré-natal, mas efetivas no processo de humanização,identidade e vínculo mãe/bebê. Um das propostas que surgiram no grupo foi a realização de pintura corporal, USG Natural, que foi realizada durante uma reunião do grupo de gestantes em um parque municipal na área de abrangência do CS, registrando isso com fotos que foram entregues aos participantes. A pintura corporal é oferecida geralmente no último trimestre, onde através da palpação obstétrica identificamos a posição e altitude do bebê, seguindo então para o desenho e pintura da barriga e mandalas, com demais símbolos, formas e cores que se identificam com a mesma, povoando de imaginação e alegria o universo da gestante. IMPACTOS:Observa-se maior autoconfiança e diminuição da ansiedade no período que se acerca do parto. Seguindo os preceitos do SUS que segue equidade, universalidade e gratuidade. Original dos campos da sociologia e antropologia, a coleta de narrativas sobre o processo saúde-doença tem sido objeto de muitos estudos contemporâneos do campo da saúde e mostram que as relações sociais ou mais precisamente, as redes sociais definem a forma como a doença é compreendida, expressada e vivida pelos sujeitos. Informa também sobre como os tratamentos propostos são avaliados, experimentados, modificados, aceitos ou abandonados, revelando a importância da mudança do olhar dos profissionais sobre a participação dos usuários no processo de produção do cuidado. A saúde não deve se restringir ao tradicional conceito de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, mas deve ser abordada também no contexto cultural, histórico e antropológico, onde estão os indivíduos que se querem ver saudáveis ou livres de doenças. Um dos maiores desafios neste tipo de atividade é conseguir sair da verticalidade das relações para a horizontalidade, essa circularidade deve permitir acolher, reconhecer e dar suporte necessário a quem vive determinado tipo de situação. Isso proporciona maior humanização nas relações. Todas as pessoas carregam uma bagagem de vida, onde existem conhecimentos, crenças, religiões, sentimentos, valores, emoções, etc. De nenhuma forma nosso conhecimento tem valor maior que o que elas têm, colocando em uma escala hierárquica. Todos estão no mesmo ponto de partida, depende da forma como vivemos, padrões sociais e culturais, a estrutura em volta para que desenvolvamos conhecimentos específicos semelhantes ou talvez diferentes, mas não menores em valor. Por isso, consideramos o processo de aprendizado dessa experiência fecundo, emanando histórias de vida, experiências, crises, vínculos, carinho, ou seja, um processo de cuidado em saúde diferenciado e replicável em outros contextos. CONCLUSÃO:O desenho de linhas de cuidado pode ser entendido como um fio condutor que dá continuidade ao cuidado, de modo a permitir a articulação entre as ações de saúde. A organização da assistência à saúde, pautada pela lógica das linhas de cuidado pode ser um passo importante na direção da integralidade, da humanização e da interdisciplinaridade, superando a tão conhecida fragmentação do cuidado e a desarticulação entre os diversos níveis de atenção em saúde. A arte entra dentro desse contexto como uma ferramenta fundamental para aproximação e vínculo das gestantes no objetivo de empoderamento da mesma no processo de maternagem. A expressão artística de desenho e pintura em gestantes reflete a potencialidade do plano relacional paciente/profissional, onde as reflexões devem ser conduzidas diariamente na condição de cada profissional de saúde. Somente a participação efetiva pode garantir o sucesso de um trabalho e o assumir das conquistas. Dito isto, é imperativa a busca de ações e estratégias para reduzir a distância entre o conhecimento científico e tecnológico que de forma geral se sobrepõe ao profissional de saúde com suas intervenções à aplicação humanizada da Assistência na promoção do auto cuidado e a saúde das pessoas.

Palavras-chave


Grupo de gestantes; Promoção da saúde; Terapia alternativa