Resumo
São considerados Cuidados Integrados iniciativas de cooperações intersetoriais, entre prestadores de cuidados tanto da área social como da saúde, com disponibilização de cuidados de forma contínua, sem interrupções, a pessoas vulneráveis e com múltiplas necessidades. Eles contribuem para a solução de diversos problemas, como as ineficiências na gestão dos recursos disponíveis, listas de espera inaceitáveis, baixa qualidade na prestação dos serviços e a insatisfação do paciente. Os modelos de Cuidados Integrados revelam diferenças entre os países não apenas em termos e definições, como também em nível de organização e financiamento e, principalmente ao nível da avaliação da qualidade e dos impactos destes cuidados. OBJETIVO: Analisar o conhecimento produzido sobre os modelos de Cuidados Integrados em âmbito nacional e internacional. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa, cuja questão norteadora foi: Como está a construção do conhecimento sobre os modelos de Cuidados Integrados, em âmbito nacional e internacional? Critérios de inclusão: textos completos, com livre acesso a bases de dados nos idiomas português, inglês e/ou espanhol; e estudos que abordem os modelos de cuidados integrados. Critérios de exclusão: citações que não atendem ao objetivo da pesquisa. Não houve restrição quanto à data de publicação. Foram utilizadas as seguintes bases de dados nacionais e internacionais: Índice Bibliográfico Español de Ciencias de laSalud (IBECS ); a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); MedicalLiteratureAnalysisandRetrieval System Online (Medline) e a biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). E incluídos editoriais, teses, dissertações e/ou estudos que abordam a temática relevante ao alcance do objetivo da revisão. RESULTADOS: Resultaram 91 estudos e, a partir da análise crítica dos resumos, foram selecionados 23 estudos que atendem aos objetivos propostos. Dos estudos utilizados dezesseis (69,56%) eram artigos, seis (26,10%) monografias e apenas um documento jurídico (4,34%). A maioria das publicações se deu entre 2004 a 2009. A leitura dos estudos analisados permitiu a sistematização dos estudos em 04 categorias: Origens e definições, sobre este tópico foram encontrados 8 estudos (18,4%); Estrutura institucional e proposta de cuidados, foram identificados sobre este tema 10 estudos (23,0%); Financiamento foram analisadas 8 (18,4%) referências e o custo, a análise ocorre por meio de 5 estudos. A categoria origens e definições mostram o modelo o NHS ContinuingHealthcare foi desenvolvido no Reino Unido, Cuidados Continuados Integrados em Portugal, Kaiser e All-Inclusive Care (PACE) nos Estados Unidos, System ofIntegratedCare for OlderPersons (SIPA) e o ProgramofResearchtoIntegrate Services for theMaintenanceofAutonomy (PRISMA) no Canadá. Surgiram como uma resposta integrada a demanda por cuidados, definindo-se como um processo terapêutico à saúde e de apoio social, ativo e contínuo centrado no paciente. Em Estrutura institucional NHS ContinuingHealthcare prestam os cuidados no domicílio ou no lar de idosos. O modelo Cuidados Continuados Integrados possuem unidades de internação, unidades de ambulatório, equipes hospitalares e equipes domiciliares; o modelo Kaiser tem 35 hospitais e 431 consultórios médicos; o PACE opera em estrutura hospitalar, comunitário e domiciliar; o SIPA apresenta estrutura institucional e comunitária e o PRISMA atende nos domicílios, hospitais, hospital dia, centro dia. Todos os modelos oferecem os cuidados através de uma equipe multidisciplinar e serviços de exames complementares, laboratoriais e radiológicos. Em relação ao financiamento no modelo Cuidados Continuados Integrados depende de quatro fatores: dos sistemas e das populações; das medidas nacionais de financiamento público; do grau de participação do financiamento privado; e da demarcação da responsabilidade entre setor público e setor privado em matéria de CCI, o NHS é financiado exclusivamente pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Kaiser Permanent (KP) é considerado um modelo de saúde privado, sendo constituído por três entidades interdependentes que organizam, financiam e prestam cuidados médicos; o modelo PACE é financiado por dois programas, o Medicare que é um programa de seguro de saúde para pessoas com 65 anos de idade ou mais e o Medicaid que beneficia a população de baixa renda. Em relação aos custos e benefícios a implantação dos Cuidados Continuados Integrados em Portugal (RNCCI) sobrepôs uma nova estrutura necessitando de novos recursos financeiros para manter a estrutura e os custos hospitalares, porém os Cuidados Continuados Integrados não reduziu os desperdícios hospitalares. No entanto, o seu crescimento subsequente parece ser rigorosamente acompanhado de uma diminuição da ocupação dos leitos hospitalares. Já o programa PACE foi avaliado em comparação com o Wisconsin PartnershipProgram (WPP) um modelo de cuidados que atua de forma desconectada. Foram analisadas as taxas de internação, dias de internação, tempo de internação, atendimentos de emergência e urgências evitáveis. Concluíram que os resultados melhores foram para o programa PACE do que para o WPP e que os médicos têm uma participação mais ativa no modelo PACE. No modelo SIPA, foi realizado um ensaio clínico randomizado, em que foi demonstrado que não houve aumento e nem redução dos custos, mas diminuiu a utilização de todos os serviços nos hospitais, e principalmente, a internação. Um projeto quase-experimental foi utilizado para avaliar o PRISMA apresentado de forma subentendida, houve a diminuição de custos, através de achados relacionados a reduções de readmissões hospitalares, na institucionalização e na taxa de declínio funcional. O modelo Kaiser mostrou que as reduções de custos foram indescritíveis, comparando os grupos de gestão de doenças crônicas com o grupo de pacientes sem doenças crônicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Mediante a revisão realizada, pode-se afirmar que os Cuidados Continuados Integrados foram desenvolvidos como estratégias para responder às crescentes demandas de cuidados. O modelo Cuidados Continuados Integrados que esta em fase de implantação no Brasil é semelhante ao modelo desenvolvido em Portugal, oferece serviços para todos os indivíduos que estejam em situação de dependência, independentemente da idade, o NHS ContinuingHealthcare do Reino Unido proporcionam os seus serviços para todas as pessoas maiores de 18 anos que necessitem de cuidados continuados, enquanto os modelos PACE, SIPA e o Prisma oferecem os cuidados somente para os idosos. Os serviços são executados por equipes multidisciplinares e os principais profissionais mencionados são os médicos, enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicológicos e nutricionistas, sendo que o plano terapêutico é realizado pela equipe multidisciplinar com auxílio do indivíduo e a família. As formas de financiamentos dos modelos apresentaram disparidade, variando de financiamentos mistos (público e privado), públicos e privados. Em relação aos custos e benefícios todos os modelos de Cuidados Integrados mostraram redução no número dos leitos hospitalares, melhora na qualidade do cuidado e acessibilidade do sistema, diminuição dos cuidados fragmentados, porém não conseguiram atingir a redução de custos. A literatura carece de estudos sobre os modelos de Cuidados Integrados, principalmente no Brasil, tornando necessário novos estudos sobre o tema, ou ainda, é preciso que sejam divulgadas as experiências ocorridas dentro dos modelos de Cuidados Integrados para minimizar as dificuldades de estabelecer parâmetros de comparabilidade e revelar os impactos do cuidar de forma integrada.
BÉLAND, F.; BERGMAN, H.; LEBEL, P.; DALLAIRE, L.; FLETCHER, J. CONTANDRIOPOULOS,A. P.; TOUSIGNANT, P.;Integrated services for frail elders (SIPA): a trial of a model for Canada. Canadian Journal on Aging, v. 25, n. 1, p. 25-42, 2006.
BÉLAND, F.; HOLLANDER, M. J. Integrated models of care delivery for the frail elderly: international perspectives. Gaceta Sanitaria, v. 25, n. s, p. 138 – 146, 2011.
COSTA, M. C.; MONTEIRO, M. C.; SANTOS, O. Continuous care units: a response to aging and dependency in Portugal. Biomedical and Biopharmaceutical Research Jornal de Investigação Biomédica e Biofarmacêutica, v. 10, n. 2, p. 163-178, 2013.
CROSSON, F. J.; MADVIG, P. Does population management of chronic disease lead to lower costs of care? Health Affairs, v. 23, n. 6, p. 76-78, Nov./Dec., 2004.
DEPARTAMENT OF HEALTH. NHS Continuing Healthcare and NHS-funded Nursing Care. Mar. 2013. Disponível em: <https://www.gov.uk/government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/193700/NHS_CHC_Public_Information_Leaflet_Final.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2015.
DIAS, A.; SANTANA, S. Cuidados integrados um novo paradigma na prestação de cuidados de saúde. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão [online], v. 8, n. 1, p. 12-20, out. /mar. 2009. Disponivel em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/rpbg/v8n1/v8n1a03.pdf. Acesso em 01 jul. 2015.
EUROPEAN COMMISSION, Long-term Care in the European Union. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities, 2008.
FERREIRA, P. L.; MENDES, A. P.; FERNANDES, I. R. Tradução e validação para a língua portuguesa do questionário de planejamento da alta (PREPARED). Revista de Enfermagem Referência [online]. n. 5, p. 121-133, dez. 2011.
FIREMAN, B.; BARTLETT, J.; SELBY, J. Can Disease Management Reduce Health Care Costs By Improving Quality? Health Affairs, v.6, n. 23, p. 63-75, 2004.
GOLDEN, R. N.; SMITH, E. M. The Wisconsin Partnership Program: investing in a healthier state. Dean’s Corner. v. 4, n. 111, ago., 2012.
GROL, R.; HERMENS, R.; HULSCHER, M.; OUWENS, M.; WOLLERSHEIM, H.; Integrated care programmes for chronically ill patients: a review of systematic reviews. International Journal for Quality in Health Care, v. 17, n. 2, p. 141-146, Jan. 2005.
HÉBERT, R.; DURAND, P. J.; DUBUC, N.; TOURIGNY, A. Frail elderly patients new model for integrated service delivery. Canadian Family Physician, v. 49, p. 992-997, Ago/Out. 2003.
HÉBERT, R.; RAÎCHE, M.; DUBOIS, M.F.; GUEYE, N.R.; DUBUC, N.; TOUSIGNANT, M.;THE PRISMA GROUP. Impact of prisma, a coordination-type integrated service delivery system for frail older people in quebec (Canadá): a quasi-experimental study. Journal of Gerontology: Social Sciences, v. 65B, n.1, p. 107–118, May, 2009.
HIRTH, V.; BASKINS, J.; DEVER-BUMBA, M. Program of All-Inclusive Care (PACE): Past, Present, and Future, Jamda, v. 10, n. 3, p. 155-160, Mar., 2009.
LOPES, M.; MENDES, F.; ESCOVAL, A.; AGOSTINHO, M.; VIEIRA, C.; VIEIRA, I.; SOUSA, C.; CARDOZO, S.; FONSECA, A.; NOVAS, V. C.; ELISEU, G.; SERRA, I.; MORAIS, C. Plano nacional e saúde 2011 – 2016 Cuidados Continuados Integrados em Portugal – analisando o presente, perspectivando o futuro. Évora, 2010. Disponível em: <http://www.observaport.org/sites/observaport.org/files/CSC1_8.pdf> Acesso em: 15 jul. 2015.
MCCARTHY, D.; MUELLER, K. ; RESEARCH, J. W. I. Kaiser Permanente: bridging the quality divide with integrated practice group accountability, and health information technology. The commonwealth fund , v. 17, n. 1288, Jun., 2009.
MENDES, K.D. S.; SILVEIRA R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto e Contexto Enfermagem., v. 17, n. 4, p.758-764, Out./Dez. 2008.
MOURA, B. P. O impacto da rede nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) na demora média hospitalar, 2014. 103 f. Dissertação (Mestre em Gestão da Saúde) - Universidade Nova de Lisboa / Escola Nacional de Saúde Pública, Lisboa, 2014.
NHS CONFEDERATION. NHS continuing healthcare: detailing what NHS organisations need to know and do. Community health services forum. Nov. 2012.
PEREIRA, J. – Economia da saúde: um glossário de termos e conceitos. Associação Portuguesa de Economia da Saúde, Lisboa: 2004.
PORTUGAL (País). Decreto – lei n. 101/2006, de 6 de Junho de 2006. Diário da República Eletrônico, n. 109 SÉRIE I-A, p. 3856 - 3865, 2006. Disponível em: <http://www.dre.pt/pdf1s/2006/06/109A00/38563865.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2015.
PORTUGAL. Relatório final grupo técnico para a reforma hospitalar. Os Cidadãos no centro do Sistema. Os profissonais no centro da mudança. Despacho N.º 10.601/2011, Diário da República, n.º 162, 2ª Série, de 24 de Agosto de 2011. Disponível em:<http://www.acss.min-saude.pt/Portals/0/RelatorioGTRH_Nov2011.pdf>. Acesso em: 05/08/215.
ROWLAND, D.; LYONS, B. Medicare, Medicaid, and the Elderly Poor. Health Care Financing Review. v. 18, n. 2, p. 61-85, 1996.
VERAS, R. P.; CALDASII, C. P.; MOTTA, L. B.; LIMA, K. C.; SIQUEIRA, RODRIGUES, R. C.; R. T. S. V.; SANTOS, L. M. A. M.; GUERRA, A. C. L. C. Integração e continuidade do cuidado em modelos de rede de atenção à saúde para idosos frágeis. Revista de Saúde Pública, v 48, n. 2, p. 357-365, 2014.