Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO DE CASO CLÍNICO: UMA PROPOSTA DE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PARA PACIENTE COM HANSENÍASE
Nádia da Costa Sousa, Gabriele Pedroso Vasconcelos, Veridiana Barreto do Nascimento

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, ainda considerada um problema mundial de saúde pública, se caracterizando por apresentar lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente os da face, membros superiores e inferiores, podendo comprometer também articulações, gânglios, olhos, testículos e outros órgãos. Tem como agente etiológico o bacilo Mycobacterium leprae, que ao ser eliminado para o meio exterior por uma pessoa doente sem tratamento, pode infectar outras pessoas suscetíveis por meio das vias aéreas superiores. A maneira mais eficaz de prevenir o aumento de casos novos é o diagnóstico e o tratamento precoce dos casos existentes, assim como a detecção dos contactantes que ficam susceptíveis à doença devido ao contato prolongado e íntimo com os casos existentes. Atualmente, a Poliquimioterapia (PQT) instituída garante a cura dos pacientes, que diagnosticados precocemente não evoluem para incapacidades graves. A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é importante para o cuidado e tratamento adequado, que se dá através da identificação dos diagnósticos de enfermagem, seguido do planejamento, intervenção e avaliação dos resultados. METODO: O trabalho tem como objetivo sugerir a implementação da SAE para um homem com diagnostico de hanseníase, que não realiza o tratamento e não recebe acompanhamento da equipe de saúde. Os dados (entrevista, anamnese, exame físico) para o levantamento do caso clínico foram coletados por acadêmicos de enfermagem durante a aula prática da disciplina de Endemias da Amazônia no município de Santarém no Estado do Pará. Após avaliação clínica, elaborou-se um plano de cuidados individualizado conforme a NursingInterventionClassification (NIC) sugeridas para os diagnósticos de enfermagem para o caso específico. RESULTADOS: O entrevistado cujo codinome definimos L.C.S., 38 anos, pardo, brasileiro, solteiro, alcoólatra, ensino fundamental incompleto, carpinteiro, mas está desempregado à dois anos,  reside na Trav. Resistência, bairro do São Cristóvão,  no município de Santarém/PA, em casa de alvenaria com seis cômodos, localizada em uma rua pavimentada, com saneamento básico inadequado e pouca infraestrutura: o esgoto é à céu aberto e com presença de um depósito público de lixo ao lado de seu terreno, existem vários gatos que ficam próximo a sua residência. A água utilizada pela família é proveniente da rede pública. L.C.S. vive com a mãe, que é hipertensa e participante do Grupão da UBS do seu bairro. A renda familiar mensal é de um salário mínimo. L.C.S. queixa-se de artralgias frequentes nos membros na hora do repouso, presença de diversas lesões com perda de sensibilidade nos pés, o hálux do pé esquerdo foi amputado em conseqüência das lesões, possui ressecamento evidente da pele. L.C.S. é dependente de álcool o que o impossibilita de aderir ao tratamento, por conta disso não faz uso de nenhuma medicação.  A área de residência de L.C.S. é coberta pela a equipe de Estratégia da família, porém o paciente não aceita visita.  De acordo com a analise do caso clínico elencou-se seis diagnósticos e possíveis ações de enfermagem: Diagnóstico 01: Risco de contaminação por doenças infecciosas (hepatite A, leptospirose, dengue) relacionadas à presença de um acúmulo de lixo ao lado da residência, identificado após a observação de uma lixeira pública nas proximidades da residência, para que este problema seja amenizado propõe-se que a equipe de saúde realize junto a população ações educativa e de conscientização para a coleta seletiva do lixo, assim como a mudança da lixeira para outro ponto mais distante da residência do paciente. Diagnóstico 02: Risco de doenças intestinais (cólera, amebíase, giardíase, ascaridíase) relacionada à utilização de água para o consumo sem o devido tratamento, uma vez que a água utilizada pela família de L.C.S. não obtém tratamento adequado, para o qual foi determinado ao enfermeiro demonstrar por meio de analogias a quantidade de microorganismos que podem estar presentes em água contaminada expondo a necessidade de se utilizar cloro ou filtro na água antes do consumo. Além da importância de se lavar regularmente os depósitos de água, uma vez que estes podem acumular sujidades; Diagnóstico 03: Risco de transmissão da infecção para os contatos intradomiciliares relacionada a não adesão ao tratamento pelo paciente, a hanseníase é uma doença transmissível, o risco está ligado ao contato por  pessoas  com  formas contagiantes multibacilares que não estão em tratamento,  para diminuir o risco cabe a enfermagem o deve de explicar ao paciente a importância da adesão ao tratamento expondo as formas de contaminação da doença e explicitando a necessidade de uma higienização satisfatória para que as chances de contaminação seja diminuída. Diagnóstico 04: Risco de deterioração da cartilagem em MMSS e MMII relacionada a pouca lubrificação das articulações evidenciadas por artralgias o qual a principal medida de prevenção está justamente na detecção e tratamento precoce da doença, diagnosticando o paciente na forma inicial, quando o tratamento é feito em um tempo menor e com menor probabilidade de complicações reacionais. Diagnóstico 05: Diminuição ou ausência de sensibilidade em mãos e pés, em virtude de que a piora da sensibilidade de mãos e pés é uma das características marcantes dos agravos da doença, para isso foi determinado ao enfermeiro fazer avaliação e monitoramento sensitivo e motor monitorando o aparecimento de fontes de pressão e atrito além de cor e temperatura da pele. Diagnóstico 06: Ressecamento tissular nos membros superiores e membros inferiores, com risco de integridade da pele prejudicada devido desidratação e MMSS e MMII, sendo necessário o encorajamento para ingestão adequada de água a fim de garantir uma ótima hidratação e lubrificação da pele monitorando-a e documentando mudanças na pele e mucosas. Através da entrevista verificou-se a falta de informação referente ao diagnostico, manifestações clínicas e tratamento da hanseníase, fazendo-se necessárias a implementação e fortalecimento de ações educativas para amenizar o estigma, o medo, o preconceito e consequentemente exclusão social do paciente, ressaltamos ainda a ausência das visitas domiciliares da equipe multidisciplinar da Estratégia Saúde da Família-ESF, uma vez que o paciente é alcoólatra e representa para a comunidade uma fonte de contaminação, pois não realiza tratamento para hanseníase. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por meio deste trabalho observou-se a importância do acompanhamento dos casos de hanseníase pela a equipe de profissionais da ESF, uma vez que, por meio desta, é possível realizar o levantamento das reais necessidades do paciente assim como sistematizar a assistência de enfermagem para uma melhor qualidade dos cuidados. É primordial também que a equipe de saúde se conscientize do seu papel como educador objetivando um serviço de qualidade para a comunidade e minimizando os riscos de contaminação de diversas doenças.

Palavras-chave


Hanseníase; Diagnósticos; Sistematização da Assistência de Enfermagem

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