Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ATUAÇÃO NO SUS
KÁRISTON EGER DOS SANTOS, JAIR BRITO DA COSTA, AMANDA SOUZA BARBOSA, VIVIAN RAHMEIER FIETZ, ELAINE APARECIDA MYE TAKAMATU WATANABE

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Saúde Pública no Brasil vem passando por uma série de modificações e iniciativas que tiveram início na década de 70, como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) regulamentado pela lei 8.080/1990 (JUNQUEIRAI, 2009). Com o desenvolvimento do SUS a população teve o direito e acesso a um novo modelo de assistência a saúde pública que levava como características básicas a universalização do atendimento, a descentralização, integralização e regionalização nesse processo (RONZANI; SILVA, 2008). Em 1994 foi criado o Programa Saúde da Família (PSF) pela Portaria Ministerial nº 692/947 (BRASIL, 1994), tinha como objetivo consolidar o SUS e seu foco principal era a assistência da família abrangendo fatores físicos e sociais para promoção da saúde (LEITE; VELOSO, 2009 e FERREIRA; SCHIMITH, 2010). Contudo houve uma mudança de terminologia de PSF para programa Estratégia Saúde da Família (ESF), programa este composto por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, agente comunitários entre outros (KANTORSKI; JARDIM; PEREIRA, 2009). Como a demanda para a cobertura de atenção básica era muito extensa a ESF não foi capaz de suprir toda essa necessidade. Para que isso ocorresse de uma melhor forma o Ministério da Saúde criou os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) em 2008 através da Portaria G.M nº 154/2008, que possuem como proposta cumprir os objetivos estipulados pelo SUS e ESF. Assim o programa conta com uma equipe multidisciplinar, mas um pouco mais completa que o ESF. Fazem parte deste programa, profissionais como o médico acupunturista, assistente social, profissional de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico ginecologista, médico homeopata, nutricionista, médico pediatra, psicólogo, médico psiquiatra e terapeuta ocupacional (BRASIL, 2008). Três anos mais tarde a essa equipe acrescentou-se o médico geriatra, médico internista (clínica médica), médico do trabalho, médico veterinário, profissional com formação em arte e educação e profissional de saúde sanitarista (BRASIL, 2011) a fim de levar a população com essa equipe, o tratamento de doenças, a reabilitação e manutenção da saúde na comunidade (GOMES; DUARTE, 2008). Essas mudanças foram acompanhadas pela inserção do profissional de educação física no SUS como podemos observar no descrito do parágrafo acima. Isso se deu quando doenças que têm em sua origem o sedentarismo se tornaram uma epidemia global, onde políticas públicas voltadas para saúde necessitaram de um aporte para trabalhar contra esse processo de disseminação de doenças relacionadas à falta de atividade física, o que já podia ser observado com grandes taxas de pessoas acometidas por essas doenças em outros países (GOMES; DUARTE, 2008). As mudanças no currículo da educação física são algo extremamente complexo, tendo em vista que a atuação na área esta atrelada a pressupostos teóricos bem distantes do que se preconiza a atuação no SUS (FRAGA; CARVALHO; GOMES, 2012). Desta maneira o objetivo deste estudo é realizar uma pesquisa documental e da literatura sobre o currículo do curso de graduação em Educação Física, analisando a formação desse profissional para sua inserção no Sistema Único de Saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Para o desenvolvimento deste estudo será realizada uma pesquisa documental em artigos e publicações da área da Saúde e da Educação Física, analisando pareceres e resoluções além de outros documentos oficiais para a criação dos Programas de Saúde Pública e a inserção do profissional de educação física no SUS. Com base nas informações obtidas, torna-se possível a observação e discussão da atuação do profissional de educação física no Sistema Único de Saúde e sua formação para tal. RESULTADOS:O curso de educação física teve sua origem no século XlX, na época criado como um curso técnico, que só tempos depois recebeu o título de curso superior. A sua criação foi criada baseado no processo de higienização e mecanização dos corpos. Com as propostas do governo para o curso, ele foi se adaptando as mais diversas exigências para a formação do profissional de educação física, a partir de então o curso passou por várias modificações até chegar à formação que temos hoje (FRAGA; CARVALHO; GOMES, 2012). De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Física, de 18 de Fevereiro de 2004, o curso de Licenciatura em Educação Física passou a formar um profissional exclusivamente para a Educação Básica, ou seja, para atuar nas escolas de Educação Infantil e do Ensino Fundamental e Médio, bem como para desempenhar atividades de planejamento, coordenação e supervisão de atividades pedagógicas do sistema formal de ensino. O licenciado pode também atuar em pesquisas relacionadas ao ensino e suas interfaces com outras áreas de estudo, entretanto não podem atuar em academias, clubes e outros espaços não-escolares (BRASIL, 2004). O Bacharel em Educação Física forma profissionais para a área não-escolar (clubes, academias, centros comunitários, hotéis, associações recreativas, empresas e outros). Seu objetivo é formar o profissional de Educação Física para atuar no planejamento, orientação e avaliação de programas de atividades físicas e saúde para grupos de crianças, jovens, adultos e idosos em condições saudáveis ou integrantes de grupos especiais (com fatores de risco, pessoa com deficiência, gestantes e outros) (BRASIL, 2004), estas seriam características exigidas para a atuação no SUS. Para que esse profissional da educação física seja inserido e supra as necessidades exigidas pelo sistema de saúde, é necessário que o currículo da formação do curso acompanhe essas mudanças. Skowronski (2014) mostra em sua pesquisa feita com egressos do curso de educação física que o currículo da graduação contempla disciplinas que são inerentes a área da saúde como anatomia, fisiologia, primeiros socorros, sinésiologia, antropométrica e medidas de avaliação física; mas é falho ao preparar o profissional pra trabalhar no sistema de saúde não ofertando disciplinas que são específicas para preparar o profissional com o propósito de ser inserido no sistema de saúde. Fato esse também relatado anteriormente por outros autores como Pinho (2011) e Pasquim (2010), deixando clara a escassez de disciplinas voltadas à prática do profissional de educação física que irá atuar no campo da saúde pública. As mudanças no currículo da educação física são algo extremamente complexas, tendo em vista que a atuação na área está atrelada a pressupostos teóricos bem distantes do que se preconiza à atuação no SUS. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Na análise das publicações referentes ao currículo da graduação em educação física observou-se uma falha na formação do profissional de educação física para ser atuante de maneira eficaz no campo da saúde pública. O atual currículo tem sua conformação em um modelo direcionado a performance. Em estudos analisados ficou claro que na graduação o estudante tem contato com disciplinas que o preparam para atuar em escolas ou então em clubes, academias, ou seja, o esporte em geral. Porém notou-se a ausência de ações direcionadas ao preparo desse profissional para atuação no Sistema Único de Saúde.

Palavras-chave


Formação profissional; educação física; SUS.

Referências


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