Tamanho da fonte: 

APRESENTAÇÃO: Este trabalho tem como objetivo principal apresentar um relato de experiência na área da gestão em saúde da rede psicossocial de cuidados à pessoa com risco de suicídio na região de saúde de Sobral/CE. O interesse por articular uma rede de cuidados surgiu após observar a inexistência de políticas públicas municipais e regionais voltadas para a temática em estudo, bem como se pode observar, através da revisão de prontuários no Hospital Regional Norte e das fichas de notificações dos casos de tentativa e suicídio encaminhadas pelos Hospitais Santa Casa de Misericórdia de Sobral e  Drº Estevam,   a existência de  97 casos  de tentativa de suicídio que deram entrada nas emergências da região, entre os anos de 2014  e outubro de 2015. Este levantamento epidemiológico realizado pela equipe técnica da 11ª Coordenadoria Regional de Saúde de Sobral/CE (CRES) juntamente com os residentes de saúde coletiva da Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará (ESP-CE), objetivou a coleta de informações que possibilitasse traçar o perfil epidemiológico das pessoas com risco de suicídio residentes na região de saúde de Sobral, composta por 24 municípios e que atualmente conta com 629.957 habitantes. DESENVOLVIMENTO: Os dados coletados referentes aos 97 casos notificados, permitiram preliminarmente identificar o perfil das pessoas com risco de suicídio, revelando a incidência de tentativa de suicídio entre 53,61 % de pacientes do sexo feminino e 46,39 % masculino, compreendidos em sua maioria nas faixas etárias de 18 a 24 anos, 29,90%; entre 30 a 50 anos, 24,74%; entre 12 a 17 anos foram 19,59% e entre 50 a 65 anos, 7,22%. A incidência de tentativas de suicídio entrehomens e mulheres jovens tem se revelado de forma expressiva nesse estudo, assim como nos estudos de Rapeli (2003), Gaspari (2002) e Feijó (1999), realizados, respectivamente, em São Paulo, Campinas e Porto Alegre. Quanto a ocupação 18,56 % são estudantes, 12,37% estão empregados e 9,28% são agricultores. Nos aspectos referentes ao tipo de agravo, 89,69% foram tentativas e 11,31% das fichas de notificação nada constam acerca do encaminhamento e desfecho do caso. Dessas notificações, 50,52% dos pacientes fizeram uso de medicações (antidepressivos e ansiolíticos), 32,99% utilizaram como meio de extermínio o envenenamento, sendo os conflitos familiares e separação amorosa, 49,48% conflitos com pacientes com transtorno psiquiátrico, 12,37% os principais motivos relatados que geraram a tentativa de suicídio. Desse modo, analisando esse grave problema de saúde pública que se configura nos territórios assistidos pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), dos Núcleos de Saúde da Família (NASF) e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), optou-se por articular, junto a rede de atenção psicossocial dos 24 municípios da região de saúde, ações e estratégias de suporte e cuidados em saúde mental para pacientes com risco de suicídio. Para isso, o lócus de debate e reflexão ocorreu, inicialmente, junto à Comissão Intergestora Regional (CIR), secretários municipais de saúde, através de uma gestão compartilhada e solidária, se propuseram a elaborar o plano de ação da rede de atenção psicossocial da região de saúde de Sobral, cujos pontos de atenção sediados pelos municípios (CAPS, Unidade de Acolhimento, leitos psicossociais, CAPS AD, UBS, NASF, etc.), apresentariam como prioridade atender os portadores de transtorno mental grave, ressaltando nessa articulação entre serviços e profissionais da saúde mental a importância de promover o cuidado integral dos usuários, priorizando os princípios éticos de valorização da saúde mental e da vida. Assim sendo, após a elaboração do plano de ação regional e de aprovação na Comissão Intergestora Regional/CE e Comissão IntergestoraBipartite/CE, cada município junto aos seus pontos de atenção da rede, elaborou um plano de ação local de prevenção ao suicídio, incluindo o perfil epidemiológico, estratégias de identificação e acompanhamento - através de projetos terapêuticos singulares de pacientes com risco de suicídio e de ações intersetoriais - além de ações sociais de mobilização e informação às populações sobre a temática, conjuntamente, com as diversas categorias profissionais e com os diversos setores governamentais e não-governamentais. A rede de atenção psicossocial da região é composta por 10 CAPS, sendo três CAPS II, 06 CAPS tipo I e um CAPS Álcool e Drogas. Conta, ainda, com Residência Terapêutica, Comunidades Terapêuticas, Unidades Básicas de Saúde e leitos hospitalares em Hospital Geral que articulam protocolos clínicos e de referência e contra-referência entre os diversos serviços de saúde, tendo como porta de entrada a atenção básica. No que concerne a coordenadoria regional de saúde coube a tarefa de fomentar junto aos hospitais estratégicos à notificação compulsória dos casos de tentativa e suicídio, o preenchimento da ficha de notificação, elaborada pela rede de atenção integral do município de Sobral, que através da portaria municipal 107/2007 instituiu a obrigatoriedade da notificação nos hospitais gerais existentes no município de Sobral, cujo fluxo de encaminhamento das fichas se dá dos Hospitais Gerais para a CRES/Sobral e desta para os pontos de atenção da rede na região, no prazo máximo de 72 horas, após a entrada do paciente nos serviços de emergência. Além disso, a 11ª Coordenadoria Regional de Saúde de Sobral presta assessoria técnica, acompanhando os planos de ação dos vinte quatro municípios da região, assim como administra um banco de dados e disponibilizar trimestralmente o boletim epidemiológico dos casos de tentativa e suicídio existentes na região, cujas informações coletadas podem subsidiar as estratégias municipais de saúde mental junto às populações, prevenindo o suicídio e promovendo ações de valorização da vida junto às comunidades. Ressalta-se, também, que cada município conta com um técnico de referência na área da gestão para organizar localmente junto aos serviços de saúde, de forma interdisciplinar e intersetorial, as ações de busca ativa, visita domiciliar e cuidados psicossociais, quando necessário, ao paciente com risco de suicídio. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS: Assim sendo, como resultado dessas articulações e ações desenvolvidas  na região estamos formalizando e divulgando a nível regional  o boletim epidemiológico dos dados coletados da ficha de notificação aos gestores municipais e profissionais de saúde. Oportunizando a criação de um banco de dados sobre a temática que nos permite fomentar pesquisas e estudos nas diversas  áreas da saúde de forma a garantir uma melhor atenção psicossocial as populações com risco de suicídio, como também,   poderá  subsidiar  propostas de educação permanente  para os profissionais de saúde de forma mais coerente e adequada à realidade da saúde mental das populações. Acredita-se poder  impulsionar e valorizar  a implantação de políticas públicas em saúde mental que fortaleçam as ações integradas dos serviços de saúde da atenção primária, secundária e terciária no enfrentamento desse agravo à saúde coletiva.

Rede psicossocial, suicídio, gestão em saúde