Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RELATO DE EXPERIÊNCIA: INTERVENÇÃO COM EQUIPE DE ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Luciene Antunes Barbosa, Maiara Aparecida Nunes da Silva, Catia Paranhos Martins, Conrado Neves Sathler

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O trabalho a ser descrito faz parte do Projeto Extensão "Acompanhamento e apoio técnico ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ AB)" e foi se delineando durante as Supervisões do Estágio Supervisionado em Psicologia Social e Comunitária I da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Nas discussões sobre as observações feitas nas unidades de Atenção Básica destacou-se a necessidade de se trabalhar com a Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF), principalmente com as Agentes Comunitários de Saúde (ACS), sobre temáticas voltadas a humanização do serviço prestado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Percebe-se que muito está sendo feito em políticas públicas, em busca da melhoria da qualidade do atendimento do serviço oferecido pelo SUS. Contudo, ao exercerem seus trabalhos rotineiramente, muitos profissionais esquecem que o acolhimento e respeito para com os usuários são práticas fundamentais no processo de humanização. Deste modo, emergiu a necessidade de um olhar mais atento sobre os modos de trabalho realizado por esses profissionais. Frente a essa questão, fez-se válido que o tema humanização fosse abordado durante as reuniões de equipe, especialmente com os ACS's, técnicos de enfermagem e trabalhadores da recepção.  Acredita-se, que conhecendo melhor os princípios norteadores da proposta Humaniza SUS e as práticas de atuações que obtiveram um retorno positivo, novas práticas assertivas de trabalho sejam adotadas para melhorar a relação entre a Equipe ESF e usuários do SUS. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA Durante três meses a equipe de ESF foi acompanhada por duas estagiárias de Psicologia que participaram das reuniões de equipe, das visitas médicas, das visitas domiciliares com enfermeiros e ACS's, das observações dos grupos de Hiperdia e Puericultura. Observaram o relacionamento entre usuários do SUS e equipe ESF, com o intuito de compreender o funcionamento do trabalho da equipe de ESF. Durante os acompanhamentos, às estagiarias utilizaram a Observação Direta e Relatos de Experiências para coleta de dados, e a partir de então foram feitas discussões sobre observações realizadas e elaborou-se um projeto de intervenção de acordo com a demanda identificada na equipe acompanhada. Na equipe de ESF em questão percebeu-se que alguns integrantes da equipe exercem seus trabalhos de modo inadequado, muitas vezes faltando com o respeito para com o usuário do SUS e acabam por prejudicar todo um trabalho de vinculação que anteriormente vinha-se sendo trabalhado pelo ACS. Deste modo optou-se por intervir durante as reuniões de equipe para que todos os profissionais participassem. As reuniões, de acordo com a equipe de ESF seriam o momento de se discutir as dificuldades e possíveis soluções dos problemas relatados e deveriam ocorrer quinzenalmente. Contudo frequentemente ocorrem contratempos que impedem que as reuniões ocorram quinzenalmente, sendo realizadas uma vez ao mês ou em intervalo maior. As ACS's apesar de não concordarem com atitude de alguns profissionais, para evitar conflitos com os outros profissionais, se calam. Muitas vezes por receio, medo de serem colocadas à disposição, serem realocadas para um posto de trabalho que não seja do seu bairro e também porque acreditam que sua opinião não tem valor. Com este argumento as ACS's frequentam as reuniões de equipe, mas não participam ativamente expondo seu ponto de vista e suas dificuldades. SOUSA et al (2010), diz que cabe ao ACS fazer parte de um saber popular ao científico e que sirva de mediador entre a equipe e o usuário, de modo que a aproximação com a comunidade suscite a vivência e a transformação do contexto social, compartilhadas por meio das estratégias adotadas para assistir o usuário e sua família, por meio de um cuidar acolhedor e humanizado.  Desta maneira as intervenções foram pensadas com o intuito de empoderar as falas das ACS's e fomentar a discussão de modos de trabalho com um olhar mais humanizado. As intervenções ocorrem nas reuniões da equipe de ESF, a princípio eram feitas apenas observações, a pedido dos integrantes da equipe. Com o tempo as estagiárias foram solicitadas a participar expondo suas observações e até mesmo pontos ainda falhos que pudessem ser melhorados por meio de discussões e troca de ideias entre os membros da equipe. As discussões ocorrem de modo que as ACS's possam participar ativamente das discussões. As temáticas sobre humanização trabalhadas durante as reuniões salientam a necessidade de um olhar diferenciado a cada ação com o usuário e nos modos de acolhidas tanto nas visitas, como acolhimento quando o usuário procura a Unidade Básica de Saúde. RESULTADOS: Observou-se que as reuniões de equipe ocorriam de maneira não planejada, sem pautas, com problemas trazidos apenas pelo Enfermeiro chefe, sem a participação efetiva das ACS's e os problemas relatados não eram discutidos coletivamente. Durantes as reuniões ninguém apresentava meios de contornar as situações conflitantes, apenas reclamavam da condição de trabalho ao qual eram obrigados a trabalhar, como; a falta de materiais, desrespeito e desvalorização dos profissionais pelos usuários do SUS. A partir das intervenções realizadas durante as reuniões de equipe, a organização das reuniões foi se modificando. Notou-se que as reuniões estão sendo melhor planejadas, os problemas são relatados em tópicos e discutidos entre os membros. O Enfermeiro Chefe agora pede a cada integrante da equipe que exponha as dificuldades que estão enfrentando durante o exercício do seu trabalho e se discute sobre o problema enfrentado. Contudo ainda não se discute possíveis soluções coletivas para os problemas, alguns membros da equipe utilizam a falta de recursos e respaldo por parte dos gestores, para justificar o modo como desenvolve o trabalho.  Todavia o discurso de alguns membros da equipe é contrário, eles acreditam que as dificuldades existem no exercício da profissão, mas que é preciso adaptar-se a realidade e criar estratégias para driblar os problemas com os recursos que dispõem, sempre priorizando ética e respeito para fornecer aos usuários SUS um melhor acolhimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS. As ações realizadas com esta equipe ESF demonstraram-se satisfatórias na ótica da mudança de pensamento e discurso referente ao trabalho desenvolvido. Porém muito ainda precisa ser discutido com alguns profissionais que usam a negação dos problemas evidenciados como justificativa para desempenhar um trabalho inadequado. É preciso que entendam que o atendimento humanizado não é um ato de solidariedade, mas um direito do usuário do SUS. O processo de fortalecimento da fala das ACS's ainda esta sendo trabalhada. Acredita-se que seria preciso um contrato ético entre a equipe para permitir um espaço de fala protegida de modo a não gerar um sentimento persecutório, o que impediria a equipe de falar de si e promover mudanças em suas práticas profissionais (BRASIL, 2010).

Palavras-chave


Relato de Experiência;Educação;Reunião de equipe

Referências


SOUSA. A.T.O; et al. O cuidar humanizado na estratégia saúde da família. Rev.Saúde.Com 2010; 6(2):  Pag.146.

BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de HumanizaSUS. Vol.2,Brasilia-DF,2010.