Tamanho da fonte:
MEMÓRIA E COMUNICAÇÃO: Estratégia para o cuidado de idosos com doença de Alzheimer
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: Com o envelhecimento da população, há o aumento das doenças crônicas e incapacitantes. Entre essas, a doença de Alzheimer (DA) tem maior prevalência. É uma doença cerebral degenerativa com perda progressiva da memória e de outras funções cognitivas que prejudicam o paciente em suas atividades de vida diária e em seu desempenho social e ocupacional. A DA é doença que afeta não somente o paciente, mas também toda a família, que sofre com o paciente e acaba provocando conflitos no processo de organizar os cuidados. Este contexto coloca para a sociedade, para os gestores das políticas e em especial para os profissionais de saúde grandes desafios. Um deles refere-se ás possibilidades de trabalhos e intervenções que prolonguem a autonomia e melhore o desempenho cognitivo e qualidade de vida dos pacientes com DA e com isso melhore também as relações familiares. Considerando esse cenário foi pensado o Projeto do grupo Memória e Comunicação que tem o objetivo desenvolver atividades de orientação, informação e exercícios de estimulação cognitiva contribuindo para melhoria da qualidade de vida dos pacientes e melhora nas relações familiares. Descrição da experiência: O trabalho foi criado em outubro de 2013, coordenado pelo serviço social, com viés multidisciplinar; direcionado ao público alvo: familiares cuidadores de pacientes com DA e pacientes com DA atendidos na clínica de Alzheimer, da Policlínica Municipal de Londrina o qual possui estrutura adequada para as atividades com cadeiras com suporte para escrever e soltas permitindo trabalhar em grupos , em círculos maiores e menores e mesa longa que é utilizada conforme o tipo de atividade proposta. Inicialmente ocorre a reunião com cuidadores; são três encontros, semanais com a duração de três horas cada. O essencial neste momento é o apoio, orientação, troca de informações entre os participantes e também a capacitação dos mesmos para dar continuidade às atividades no ambiente doméstico. No desenvolvimento do trabalho são utilizadas as metodologias ativas no sentido de elaborar módulos processuais que permitem aos familiares vivenciar situações, expressar sentimentos trocar informações, refletir sobre as dificuldades cotidianas e buscar alternativas de superação de forma coletiva. Em alguns casos ocorre a necessidade do atendimento familiar individualizado, e os membros da família são chamados para um encontro específico. O atendimento individualizado permite identificar problemas e assim auxiliar os membros na organização do cuidado esclarecendo sobre procedimentos e outros serviços de apoio conforme a necessidade apresentada. Este momento constitui-se num espaço para escuta, mediação, resolução de conflitos, orientação e encaminhamentos. Após o encerramento dos três encontros com familiares inicia-se nova fase com dez encontros semanais com duração de duas horas direcionado aos idosos, mas em geral o cuidador também acompanha o desenvolvimento do grupo. Neste grupo são desenvolvidas diversas atividades de estimulação cognitiva as quais possibilitam o desenvolvimento ou a redescoberta de capacidades e habilidades que devido à doença foi deixada de lado ou mesmo esquecida. No processo há o cuidado e preocupação de analisar a singularidade de cada caso permitindo que as atividades não provoquem frustrações, inibições e sentimentos negativos nos pacientes. Em todos os momentos as ações são avaliadas e redirecionadas caso seja verificado a necessidade. Os participantes, no máximo dez, são selecionados com apoio da médica geriatra considerando alguns critérios como: diagnóstico de DA em fase inicial ou moderada, e com condições motora, visual, de compreensão e comunicação que possibilitem sua participação. Antes da inserção no grupo realiza-se uma entrevista social que permite conhecer a situação geral do paciente e do contexto familiar. Não há módulos formais estabelecidos apenas o formato de condução o qual está baseado na metodologia da comunicação que foi criada pela autora do projeto e envolve os participantes numa espiral de construção que possibilita um envolvimento dos participantes em todo o processo e também a corresponsabilidade dos cuidadores. As atividades e dinâmicas são criadas de acordo com a necessidade e o perfil de cada grupo. As atividades ocorrem de maneira gradual em termos de dificuldades e mesmo em relação ao tempo de exposição no grupo, pois alguns chegam com bastante dificuldade de comunicação e expressão. Nos encontros iniciais o essencial é o acolhimento, no sentido de passar segurança e tranquilidade; no decorrer das reuniões percebe-se um envolvimento natural nas atividades. Em cada encontro são apresentadas formas diferentes de estimulação: entre elas dança, musicas, trabalho com fotografias jogos de compras, uso de telefone, jogos de memorização desenhos para colorir, uso do microfone com atividades para falar em público, poesias, construção de frases e textos entre outras. Ao final dos encontros os participantes levam tarefas para serem realizadas em casa o que possibilita, levar a lembrança do grupo e também envolver familiares nas atividades. Em geral os idosos gostam de participar e não há faltas. No décimo encontro do grupo ocorre uma integração festiva com a presença dos amigos e familiares, momento este que é apresentado um vídeo final dos trabalhos realizados o que provoca grande alegria o fato de se verem nas atividades. Também ocorre em geral uma amostra de talentos para os presentes, são apresentações individuais ou em duplas com temas escolhidos conforme as habilidades de cada um. Este é um fator importante pois além das atividades em si que promovem a estimulação, o fato de vencer barreiras e se expor, se fazer ouvir pelos demais proporciona segurança e superação. Resultados percebidos A realização dos trabalhos de forma lúdica possibilitou que os pacientes pudessem se envolver e se expressar com naturalidade melhorando a comunicação tanto no grupo como em outros ambientes. A valorização da singularidade permitiu que cada um se sentisse aceito com suas limitações e dificuldades e assim puderam deixar suas preocupações de errar e deixaram fluir as suas habilidades e potencialidade que muitas vezes julgavam perdidas. As atividades desenvolvidas ao promover a alegria, e o empoderamento despertou vários idosos para realizar outras atividades. Um feedback importante do trabalho foram os depoimentos de familiares que apontaram melhoria no quadro geral do paciente, elevação da autoestima, melhor comunicação e atitudes mais positivas no ambiente familiar demonstrando mais confiança e amorosidade. A metodologia proposta tem atingido o objetivo do projeto no que concerne da melhoraria da qualidade de vida dos pacientes e com isso espera-se que possa contribuir para diminuir a velocidade do avanço da doença mantendo os pacientes com independência por maior tempo possível. Um ponto bastante importante, mas que necessita de estudos é a melhora que muitos dos pacientes vem apresentando no teste mini mental, avaliados pós grupo pela geriatra. Considerações finais: vários estudos apontam que a intervenção multidisciplinar de estimulação cognitiva de forma combinada ao tratamento farmacológico promove melhora e potencializa o desenvolvimento do paciente reduzindo com isso a velocidade da progressão da DA. Um aspecto importante é a postura profissional que possibilita a compreensão do cuidado numa visão transdisciplinar tendo como pano fundo o afeto e o diálogo como força motriz desta condução. O projeto é inicial, mas verifica-se que tem cumprido os objetivos propostos, mas muito a avançar em termos de melhoria de estrutura, envolvimento de outros profissionais e também a realização de estudos que possam dar maior visibilidade e melhorar essa nova estratégia de cuidado de idosos com DA
Palavras-chave
Alzheimer;idoso , estratégia de cuidados