Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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“Mutirões” como estratégias de Territorialização e Cadastramento: experiência de uma Equipe de Saúde da Família do município de Porto Alegre/RS
Gabriela Favero Alberti, Diogo Vaz da Silva Junior, Fabiana Aparecida Oliboni Minuzzo, Camilla Ferreira do Nascimento, Daniel Canavese de Oliveira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O presente relato de experiência versa sobre o apoio técnico-pedagógico de Residentes de Saúde Coletiva às estratégias de sistematização do cadastramento de pessoas adstritas no território de atuação de uma Unidade de Saúde da Família (USF) do município de Porto Alegre/RS. Objetiva-se discorrer sobre o planejamento, a sistematização dos cadastramentos e o processo de territorialização a partir da elaboração estratégica de "Mutirões", realizados com a colaboração dos trabalhadores de uma equipe de saúde da família conjuntamente com os Residentes de Saúde Coletiva. O Programa de Residência Integrada e Multidisciplinar em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/EducaSaúde envolve a aproximação dos profissionais-residentes com os cenários de prática vinculados as Redes de Atenção em Saúde (RAS), com ênfase no planejamento setorial, gestão de processos, organização e avaliação de sistemas e serviços, entre outros. Em abril de 2015, dois Residentes integraram as atividades de uma USF que recentemente adotou a Estratégia de Saúde da Família como modelo de atenção à saúde vigente. Para contextualizar, a Saúde da Família representa o contato preferencial de usuários na RAS do município, sendo composta por uma equipe multiprofissional responsável pelas demandas sanitárias de um território de abrangência pré-definido e pelo enfrentamento de determinantes e condicionantes do processo saúde e doença, a partir do desenvolvimento de ações de assistência à saúde das famílias que vivem em sua área de atuação. A transição de Unidade Básica de Saúde (UBS) para USF implica na mudança da gestão do processo de trabalho da equipe. Com isso, as práticas de saúde deixam de enfocar a assistência à queixa principal de uma pessoa no viés biologicista e passam a incorporar a lógica da vigilância em saúde de uma área específica, de modo que esta seja base do planejamento das ações de saúde coerentes com o perfil populacional e as necessidades de saúde dessa comunidade. Nesse sentido, a inserção dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) nas equipes de Saúde da Família possibilitou o acompanhamento direto no âmbito domiciliar, com vista a conhecer as características dessa população e identificar grupos prioritários, além de realizar o processo de territorialização. Esse processo consiste no cadastramento e adscrição de uma população a ser assistida e na delimitação do território em microáreas, a fim de facilitar a organização dos processos de trabalho e das práticas em vigilância em saúde. Ainda que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibilize o número de pessoas do território e este seja usado para delimitar as áreas de atuação de cada unidade de saúde, é responsabilidade das equipes mapear e conhecer as pessoas que efetivamente vivem em sua área de abrangência. Visto isso, duas estratégias foram planejadas e executadas com a finalidade de contribuir com o trabalho iniciado pelos ACS, que consistem no Mutirão dos Prontuários e no Mutirão do Cadastramento. Ressalta-se que o termo "Mutirão" foi utilizado neste trabalho na compreensão de mobilização coletiva, de caráter voluntário, para auxílio mútuo de determinada ação. O Mutirão dos Prontuários consistiu no levantamento dos 1300 prontuários de famílias que buscaram, em algum momento de suas vidas, o atendimento na USF, desde o período que esta atuava como UBS. Vale destacar que cada prontuário possui um número de identificação que se refere ao número da família e não ao endereço domiciliar. Os endereços de cada família, por sua vez, estão identificados nas fichas de evolução médica anexadas ao prontuário em questão. Sabendo disso, os prontuários foram revisados um a um, sendo identificado: as famílias cadastradas pelos ACS; as famílias não cadastradas moradoras do território de abrangência; as famílias fora de área; as famílias que continham mais de um endereço registrado nos prontuários médicos; e os prontuários não encontrados. Todas essas informações foram sumarizadas em um arquivo de Excel, possibilitando a visualização do quantitativo de prontuários familiares ativos e pessoas que acessam (ou não) a unidade de saúde. Concomitante a essa estratégia foi realizado o Mutirão de Cadastramento. Para auxílio dessa atividade, o mapa vivo do território foi bastante útil, uma vez que consiste em um instrumento didático construído pelos ACS para representar, além das delimitações geográficas do território, sua situação social, ambiental e os grupos populacionais com condições de saúde estabelecidas (hipertensos, diabéticos, gestantes e crianças). Nesse mapa, as casas pintadas equivalem aos domicílios já cadastrados e as demais se referem a casas fechadas, ou seja, quando os moradores não se encontraram na ocasião. Para a realização deste Mutirão, os ACS, Residentes e demais membros da equipe, organizaram uma escala semanal em que cada turno seria destinado a um recorte do território-área a ser percorrido de modo a efetivar os cadastros àqueles domicílios até então não realizados. Acredita-se que com o avanço oportunizado por estas duas estratégias, seja possível imprimir uma representação mais precisa do território e, assim, possibilitar o remanejamento da divisão das microáreas considerando os aspectos de: acesso, população adscrita, determinantes sociais de saúde, característica dos grupos populacionais com condições de saúde estabelecidas. É importante evidenciar que o levantamento realizado pelo Mutirão dos Prontuários deu subsídios para o planejamento das ações do grupo responsável pelo Mutirão de Cadastramento, uma vez que se tinha em mãos o endereço das famílias com prontuários ativos na USF, mas que não possuíam cadastramento efetuado. Além disso, o grupo envolvido na tarefa identificou outras situações que puderam facilitar o processo de cadastramento no território. Os Mutirões acima descritos foram formas de sensibilizar os trabalhadores frente à pluralidade dos modos de viver das pessoas residentes no espaço de atuação. Ainda que os ACS sejam os trabalhadores imersos no cotidiano da vida das pessoas não é sua atribuição exclusiva conhecer o território e a população de responsabilidade sanitária. Por fim, o envolvimento dos trabalhadores da equipe de saúde a participar do processo de territorialização e mapeamento do território de atuação possibilitará a construção de indicadores que expressem as condições de saúde da população atendida pela USF, conforme a legislação vigente indica como atribuição comum entre os membros de uma mesma equipe. Estas informações sobre as áreas e seu potencial de risco e vulnerabilidade serão consideradas quando a etapa de remanejamento da divisão das microáreas for iniciada. O resultado da sistematização pôde ser utilizado como instrumento de trabalho, pois permitiu a atualização e alteração das informações inseridas referente ao cadastramento, formando, assim, um banco de dados para toda equipe ter acesso.

Palavras-chave


Territorialização; Saúde da Família; Trabalho em Equipe.