Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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ITINERÁRIOS DE FORMAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DO PET SAÚDE PUC-SP E TERRITÓRIO DA FÓ/BRASILÂNDIA (2012-2014)
Edna Maria Severino Peters Kahhale, Maria Cristina Vicentin, Mirian Conceição, Elisa Zanerato Rosa, Debora Saes, Bianca Leal, Marcos Amaral, Andreia Fischer

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: A formação dos profissionais de saúde implica acolher a complexidade que permeia o SUS, aproximando-se dos cotidianos de trabalho e da experiência concreta dos sujeitos. Os Ministérios da Saúde e da Educação têm implementado políticas de formação que privilegiam, dentre outros aspectos, a integração ensino-serviço, como o Programa Nacional de Reorientação Profissional para a saúde (Pró-Saúde) e o Programa Educação pelo Trabalho em Saúde (PET-Saúde). Neste trabalho nos propomos a discutir alguns encontros produtivos entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e serviços da Supervisão Técnica de Saúde Fó/Brasilândia do município de São Paulo, no âmbito do Programa PRO PET SAÚDE III (saúde mental), mais especificamente aquelas derivadas do desenvolvimento na pesquisa- ação Aprimoramento do cuidado em saúde mental no território da Freguesia do Ó e Brasilândia: a presença da Atenção Básica (PET-Saúde 2012-2014) que buscou apoiar o aprimoramento do cuidado em saúde e  da construção de redes, por meio da produção de mapas de itinerários de cuidado/autocuidado dos usuários inseridos em ações de saúde mental. Trabalhar com os itinerários de cuidado e autocuidado implica considerar: os modos de vida das pessoas; as singularidades dos territórios e a articulação de redes comunitárias, de saúde e intersetoriais.  Deste modo, os “mapas” podem funcionar como metodologia de produção e avaliação do cuidado. Ou dito de outra forma, como crivo de análise e de intervenção a um só tempo, ativando o protagonismo de usuários, trabalhadores/preceptores, alunos e outros atores envolvidos no processo. Nesta apresentação destacaremos: a experiência como dimensão central da formação, o que nos fez trabalhar com a ideia de itinerários de formação; a cogestão da pesquisa e da formação que supõe a ampliação do protagonismo dos atores. COGESTÃO Na perspectiva da participação que nos orientou no desenvolvimento da pesquisa-ação, o principal desafio era o de “transformar a prática em saúde sobre sujeitos em uma prática com os sujeitos”, com base nos princípios da indissociabilidade entre gestão e cuidado, da transversalidade (ampliação da comunicação; produção do comum) e do fomento do protagonismo das pessoas, preconizados pelo Sistema Único de Saúde. Esse princípio também nos foi válido para a tríade pesquisa-formação-assistência.  Deste modo, surgiram alguns desafios: a inserção da pesquisa nos espaços cotidianos dos serviços; a criação de dispositivos de cogestão do planejamento e da execução das atividades entre preceptores/trabalhadores, tutores/docentes e alunos/bolsitas; a análise permanente dos efeitos do percurso e a produção da formação e do conhecimento como itinerário vivo. Tal direção ética-política fez com que a pesquisa-ação se desse de forma cogestionária, exercitando diferentes planos de pactuação, realização e avaliação ocorridos no comitê gestor (gestores dos serviços e supervisão técnica de saúde, controle social, universidade), na rede (matriciamento); nos serviços e junto às mini-equipes (reuniões). Do mesmo modo, a cogestão da pesquisa se deu no grupo tutorial, de forma que as reuniões sistemáticas entre preceptores, bolsistas e tutores e coordenação PET ampliavam a análise e os compromissos com as ações de assistência. Na direção da participação do usuário na pesquisa, não apenas a pactuação do ponto de vista ético foi bastante trabalhada, mas foi incentivado o seu engajamento na construção dos itinerários, de forma a refletir sobre o cuidado e o autocuidado em saúde com as equipes de saúde. A constituição de um grupo coeso e com processos coletivos de gestão permitiram rearranjos organizacionais no território em que algumas intervenções da pesquisa-ação extrapolaram os serviços de origem do preceptor, constituindo equipe de trabalho em compartilhamento entre diferentes serviços. ITINERÁRIOS DE FORMAÇÃO A aproximação dos discentes ao território privilegiou a experiência prática: junto com preceptores e demais trabalhadores dos serviços envolvidos, os discentes vivenciaram os diferentes cuidados em saúde produzidos pela Rede Freguesia do Ó/Brasilândia, assim como seus dispositivos de trabalho (reuniões de equipe, reuniões de matriciamento, fóruns, plenárias de saúde, dentre outros). A imersão nas experiências do cuidado em saúde mental e o acompanhamento dos itinerários de cuidado dos usuários inseriram os atores num processo de estudo e reflexão permanente tanto sobre a complexidade das condições de vida de pessoas com transtornos psíquicos e/ou abuso de álcool e outras drogas, quanto dos recursos do território e do processo de trabalho em saúde. A partir das inquietações e questionamentos vivenciados na prática, traçamos diferentes estratégias para aproximação das produções teóricas capazes de referenciá-las, como leituras, conversas com gestores e trabalhadores, oficinas, seminários e entrevistas.  As trocas e processamento sobre as atividades foram garantidos e acolhidos sistematicamente em encontros dos grupos tutoriais na Universidade. Tais reuniões abriram espaço para a compreensão em conjunto das políticas públicas, dos programas e estratégias desenvolvidos nos serviços, sendo assim, lugar de troca e formação. Também utilizamos como estratégia a realização de seminários e oficinas de metodologia do cuidado e do trabalho em saúde, envolvendo docentes, discentes, profissionais de saúde e gestores. Estes se organizaram em torno das questões que os temas, situações e casos acompanhados na pesquisa colocavam:  mapas de itinerários, função apoio, cuidado em rede, entre outros. A noção de itinerário de formação se impôs a nós como uma metodologia de formação que privilegia a produção de um plano comum, o da experiência formativa, reunindo a diversidade dos atores na singularidade de seus percursos e no plano intensivo dos mesmos. A ideia de itinerários de formação (Jean Oury) ressalta que a formação implica numa transformação do sujeito que se engaja neste trabalho. Isso desloca o aprendizado somente relacionado a ideia de conteúdo ou de uma transmissão cognitiva. Neste encontro de saberes, não saberes e entre saberes, a construção dos mapas de itinerários de formação (de alunos, profissionais, docentes) suscitaram conexões entre as pessoas e produziram questões que orientaram os estudos, trabalhando a relação teoria-prática. O itinerário de formação permitiu experimentar a um só tempo as ideias de território, de singularidade, de produção de comum, dialogando com o itinerário de cuidado.     CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste percurso:  a) a relação com o território orientou-se não apenas pelo desejo de um aprendizado técnico e específico de cada área, mas pelo contato com outros fluxos: administrativos, políticos, sociais, comunicativos e afetivos; b) o estreitamento das relações e de espaços de compartilhamento entre profissionais nos serviços e entre serviços, entre IES e serviços, potencializou e qualificou as possibilidades do trabalho compartilhado, bem como construiu gradativamente outras pistas para a formação em saúde. c) O estreitamento das relações e os modos cogestionário da pesquisa-ação, fomento à produção de conhecimento científico e composição nos espaços de formação acadêmica dos saberes produzidos na prática cotidiana dos cuidados em saúde.

Palavras-chave


itinerários; protagonismo; cuidado