Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Atenção Básica e o cuidado em saúde mental no território da FÓ e Brasilândia: o itinerário do PET Saúde Mental PUC-SP (Cursos de Psicologia, Fonoaudiologia e Serviço Social) e Secretaria Municipal de Saúde São Paulo
Edna Maria Severino Peters Kahhale, Elisa Zanerato Rosa, Maria Cristina Vicentin, Mirian Ribeiro Conceição, Bianca Leal, Thainá Minici Greco, Emiliano de Camargo David, Isabella Almeida

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este trabalho apresenta o percurso e alguns efeitos da pesquisa-ação Atenção Básica e aprimoramento do cuidado em saúde mental no território da FÓ/Brasilândia (transtornos mentais e álcool e outras drogas), desenvolvida no âmbito do PET-Saúde (2012-2014) que focalizou o fortalecimento do trabalho em rede e a atenção em saúde mental na Atenção Básica (AB) no micro-território de duas UBS's, envolvendo a rede de atenção psicossocial. A pesquisa-ação orientou-se pelas questões: Quais são os casos/demandas em saúde mental (SM) neste micro-território? Como tem se dado o cuidado em saúde e a produção de redes, principalmente na relação AB e rede psicossocial?  Quais os principais desafios relativos à atenção integral em SM, a partir da compreensão dos itinerários de cuidado? Como o trabalho com itinerários pode ser instrumento de avaliação, monitoramento e intervenção nos casos? Descrição: A pesquisa-ação teve duas etapas. A primeira, realizada de agosto-setembro de 2012 teve o seguinte percurso: a) conhecimento dos micro-territórios e da trajetória das UBS's na atenção à SM; c) conhecimento da rede de SM e outras dimensões do território; d) aproximação aos casos de SM (por meio de amostra, com dados de prontuários e conversas em reuniões de equipe) com análise de algumas pistas relativas à estas demandas, às modalidades de atenção e ao processo de trabalho aí envolvidos. A segunda, realizada de outubro de 2012 a junho de 2014, visou: identificar os itinerários de cuidado/auto-cuidado dos usuários já inseridos em ações de SM e a rede em suas potências e desafios; construir subsídios para o aprimoramento do cuidado em saúde e para a construção de redes. Os itinerários foram compreendidos como práticas individuais e socioculturais de saúde em termos dos caminhos percorridos pelos indivíduos de forma a visibilizar suas redes de sustentação, suas referências na vida pessoal, familiar, comunitária e na cidade, seus itinerários singulares (Gerhardt, 2006; Dalmolin, 2006). Este instrumento foi trabalhado na perspectiva da reabilitação psicossocial, pautando-se pela invenção de estratégias para as singularidades de cada usuário/território, bem como para a produção de redes de negociação e trocas direcionadas a participação social e a construção de novas ordenações para a vida.  Optou-se pela estratégia de visualização dos itinerários na forma de mapas, com visualização gráfica das relações sociais e das  trajetórias de vida. Tal instrumento também potencializa a comunicação entre equipes, profissional-usuário e planejamento de ações individuais, locais e setoriais compartilhadas.  O itinerário é, assim, uma ferramenta da clínica ampliada no território, articulado à singularidade de vida do usuário, além de sinalizador da ação em rede, funcionando, portanto, como crivo de análise e de intervenção a um só tempo. Foram trabalhados os itinerários de treze casos - geridos por um preceptor e dois estudantes - que desafiavam a equipe pela complexidade das necessidades colocadas mas que também: evidenciam a potência dos serviços e da ação em rede. O caso opera como caso-traçador que permite examinar “em situação” as maneiras como se concretizam, na prática, processos de trabalho complexos, que envolvem um importante grau de autonomia dos profissionais (Feuewerker e Mehry, 2011). O caso foi trabalhado nas reuniões de equipe e/ou de matriciamento, com o próprio usuário e família, nas ações relativas ao seu PTS, nas relações no território e na articulação de redes, com procedimentos e tempos singulares em função de cada caso. De forma geral, os procedimentos consistiram de: - conversas com o usuário (pactuação da pesquisa e narrativa de história de vida/genograma; pesquisa sobre itinerários); - acompanhamento das atividades relativas ao caso (visita domiciliar; reuniões; consultas); conhecimento do PTS; - construção do mapa de itinerários (na forma de ecomapa) com sugestões e desdobramentos no PTS;  - conversa final com usuário e com a equipe sobre o Ecomapa e o percurso da pesquisa, sendo, deste modo, ações indissociadas do produção do cuidado. Os casos foram trabalhados nas seguintes perspectivas: a) análise dos mapas de itinerários (ecomapas), na perspectiva das redes de saúde/sociais e outras e do cuidado no território; b) análise do processo de trabalho: integralidade da atenção e gestão do cuidado; c) relação pesquisa-assistência; d) perspectiva(s) singular(es) do caso (tais como questões etárias, de gênero, vulnerabilidades) . Na perspectiva da pesquisa-participativa/interventiva (Campos et al, 2008), que orientou este trabalho, fez parte do percurso a proposição de encontros formativos (oficinas e seminários de metodologia do cuidado e do trabalho em saúde), envolvendo docentes, discentes e profissionais de saúde nos quais as ferramentas da pesquisa bem como as questões dela desdobradas foram partilhadas e debatidas. Resultados Os principais efeitos do encontro da pesquisa com o serviço, bem como as questões suscitadas pelos casos foram: reaproximação e mesmo vinculação de casos distantes/esquecidos ou difíceis para as equipes; complexificação dos Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) e ampliação dos itinerários de cuidado; elaboração de PTS mais articulados entre UBS e outros serviços de saúde/SM; ampliação da visão de profissionais e estudantes sobre a realidade do usuário; ampliação da reflexão dos modos de fazer o cuidado em saúde; produção de novos arranjos organizacionais para a gestão do cuidado (criação da reunião interprofissional na equipe UBS Tradicional, com matriciamento;  ampliação da periodicidade do matriciamento bem como dos modos de realização do apoio matricial); estreitamento das relações entre profissionais nos serviços e entre serviços, potencializando o trabalho em rede e a corresponsabilização; pesquisa como instrumento de ampliação da participação dos usuários na gestão do seu PTS. O final da pesquisa suscitou o diálogo com diferentes desafios na forma da produção de novos projetos: a) projeto de formação e intervenção integrada entre a AB e rede atenção psicossocial para a linha de cuidado álcool e outras drogas por meio de um trabalho em cogestão em rede; b) construção da Oficina de Itinerários no Caps Adulto que ampliou a participação dos usuários nas atividades do serviço, por meio da co-gestão da atividade e da ampliação da apropriação dos recursos do território pelos usuários; c) apoio da UBS ao desenvolvimento de projetos comunitários de idosos e adolescentes. Considerações Finais:Em tal processo de formação compartilhada, a universidade vem ampliando seu papel de apoio às equipes nos processos de trabalho, em relação de cumplicidade com os agentes das práticas, o que tenciona a reinvenção e ampliação de estratégias pedagógicas que superem a mera transmissão de conhecimentos e considerem as especificidades de cada realidade, a construção de modos de agir frente à complexidade dos desafios na saúde, a ampliação da grupalidade e da corresponsabilização, as transformações de concepções e a construção de novas referências, bem como de laços afetivos e afinamento de um projeto coletivo.

Palavras-chave


cuidado; saúde mental; itinerário

Referências


Referências

Campos, R.O; Furtado, J.P; Passos, E; Benevides. R. Pesquisa avaliativa em saúde mental. Desenho participativo e efeitos de narratividade. São Paulo, Hucitec, 2008.

Dalmolin, B. M. Esperança Equilibrista. Cartografias de sujeitos em sofrimento psíquico. Rio De Janeiro: Editora Fiocruz; 2006. 214 Pp.

Feuerwerker, L. C. M.; Merhy, E. E. Como temos armado e efetivado nossos estudos, que fundamentalmente investigam políticas e práticas sociais de gestão e de saúde?  In MATTOS, R. A.; BAPTISTA, T. W. F. Caminhos para análise das políticas de saúde, 2011. p. 290-305. Online: disponível emwww.ims.uerj.br/pesquisa/ccaps.

Gerhardt, T. E.  Itinerários terapêuticos em situações de pobreza: diversidade e pluralidade. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(11):2449-2463, nov, 2006.