Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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AVALIAÇÃO DAS REDES E CUIDADOS INTEGRADOS DE ATENÇÃO À SAÚDE: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Ana Laura Brandão, Paulo Eduardo Xavier de Mendonça, Eduardo Fernandes Felix de Lima

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: As redes de cuidado integrado são uma questão central para a efetividade de um Sistema de Saúde. A despeito do consenso do importante papel das redes, suas definições, formas de organização e operacionalização não são consensuais. Tais redes estão fundamentalmente centradas nos usuários e são desenvolvidas para aumentar, através da redução da fragmentação, a integração dos cuidados e melhorar os resultados clínicos, a satisfação, eficácia e eficiência do cuidado além de reduzir custos. O impacto da integração nos resultados em saúde e no bem-estar tem sido difícil de ser aferido e avaliado. Por esta razão, autores apontam para o importante papel do monitoramento e avaliação da integração da atenção à saúde. Para o funcionamento e organização das redes de cuidados, são importantes os conceitos de integração, coordenação e continuidade do cuidado. A coordenação do cuidado entre níveis assistenciais se dá através da articulação entre os serviços e ações de saúde. Segue desde a APS aos prestadores de maior densidade tecnológica. A continuidade dos cuidados deve ser entendida como o resultado da coordenação, do ponto de vista do paciente. É definida como o grau de coerência da experiência recebida no atendimento pelo paciente ao longo do tempo. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivos compreender como os estudos, tanto nacionais como internacionais, avaliam as redes de cuidados integrados de atenção à saúde e identificar o papel da Atenção Primária à Saúde nas redes.   DESENVOLVIMENTO Partiu-se das seguintes perguntas norteadoras: Como se caracterizam os estudos voltados para avaliação das redes e cuidados integrados de atenção à saúde? Qual é o papel da APS?  A busca literária foi realizada na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) onde foram consultadas as bases de dados Medline, Pubmed, Lilacs, PAHO e IBECS. A expressão de busca foi: “Delivery of Health CareIntegrated” OR “Delivery of Health Care” OR “Comprehensive health care” OR “Network health”) AND (evaluation OR assessement). A busca foi realizada de agosto a novembro de 2013. Na busca, surgiram 2548 artigos. Com a aplicação do filtro de idiomas (inglês, português e espanhol), 2255 artigos foram selecionados para análise de título. Destes, 299 foram selecionados para leitura dos resumos. Após novo filtro, resultado da leitura dos resumos, restaram 75 artigos para leitura integral. Três artigos eram repetidos e 24 foram considerados que não se aplicavam aos critérios estabelecidos. Desta forma, obteve-se um total de 48 artigos.   RESULTADOS   A produção sobre o tema se ampliou ao decorrer das décadas com maior ênfase a partir dos anos 2000. Em relação aos tipos de estudo, os que apresentaram maior número foram os estudos de caso com 52,1 %, seguidos dos de revisão de literatura (45,8%) cujo foco era basicamente a definição conceitual de rede de cuidado, integração e coordenação do cuidado. A maior parte dos artigos (41,7 %) apresenta um modelo próprio de avaliação. Em segundo lugar são os artigos que avaliam a rede de cuidados integrados através dos conceitos da qualidade (16,7%). Depois são dos que não mencionaram nenhum método ou instrumento específico (14,6%). Na sequência temos os que utilizaram os atributos da APS para avaliar a rede em 12,5% dos estudos. E por fim os artigos que utilizaram o Balanced Score Card como metodologia de avaliação das redes (10,4%). Quase metade dos artigos não mencionou o papel da APS (47,9%). Os artigos que apenas incluíram a APS no modelam de avaliação forma 27,1%, representada através de alguns indicadores. Na sequência temos os artigos que além de incluir a APS a colocaram como fundamental no processo de integração das redes de cuidados (25,0%). O conceito de desempenho das redes de cuidados integrados é centrado em três objetivos: melhorar a saúde, melhorar a capacidade de resposta às expectativas da população e garantir a equidade. A medição do desempenho se relaciona ao alcance de metas com os recursos disponíveis. No caso dos artigos que apresentaram modelo próprio de avaliação, eram estudos de caso (52,1%), o que contribuiu para muitos desses estudos descreverem modelos lógicos próprios. Em geral os modelos baseavam-se em matrizes analíticas compostas por dimensões amplas relacionadas ao sistema de saúde. Essas dimensões, por sua vez, são representadas por indicadores que consideram a experiência do paciente, a eficácia do cuidado, a segurança dos pacientes, etc. Os artigos que empregaram na avaliação a perspectiva da Qualidade se basearam em indicadores para avaliar a qualidade do processo de atenção para assim avaliar o sistema como um todo. Um terceiro artigo baseou-se em documento da OMS de 2000, responsável por introduzir um marco conceitual para avaliar desempenho do sistema de saúde, composto por dimensões como: cobertura das ações em saúde, utilização da atenção e acesso aos serviços. Os artigos que não apresentaram método de avaliação se deve ao fato de que na busca bibliográfica, muitos artigos eram do tipo de revisão (45,8%). Logo, sua maioria, não apontou uma metodologia específica ou mesmo algum instrumento de avaliação. Balanced Score Card tem sido utilizado no monitoramento e avaliação dos cuidados em saúde, tanto em nível distrital como em nível nacional. A OMS aprovou a abordagem do BSC na avaliação em saúde para o fortalecimento dos sistemas de saúde. Sucessos na sua utilização foram relatados nos sistemas de saúde da Holanda, Itália, Canadá, Afeganistão, China e Zambia. Dentro dos estudos que incluíram a APS na avaliação, alguns a pontuaram como fundamental para integração do sistema. Tal conclusão foi obtida segundo dois diferentes aspectos. O primeiro deles foi a importância da continuidade do cuidado na integração e a longitudinalidade.Outro aspecto destacado é a importância da gestão da informação e da comunicação.   CONSIDERAÇÕES FINAIS A falta de especificidade e clareza na definição de cuidados integrados prejudica a compreensão sistemática, sua aplicação e gerenciamento. A atenção integrada está associada a resultados positivos na melhora do desempenho do sistema. No entanto, as evidências acumuladas sobre a eficácia são derivadas de estudos de diferentes modelos e componentes, o que traz menos certezas com relação a cada estratégia e seus resultados. As avaliações são desenvolvidas de forma pulverizada, isto é, estratégias e métodos distintos empregados na avaliação da atenção integrada. Dos métodos descritos, ressaltou-se o uso da avaliação da qualidade, que é considerado um conceito multifacetado, assumindo assim vários significados, que podem variar de acordo com os atores. A APS vem exercendo importante papel na organização das ações e serviços dos sistemas de saúde desde meados do século XX. Porém, na revisão realizada a APS foi incluída na concepção de avaliação de redes em menos da metade dos estudos. Um grande desafio é enfrentar a fragmentação, ordenando os sistemas de saúde com base na APS, constituindo sistemas universais de saúde que garantam a atenção integral. Neste sentido, o presente estudo conclui que é importante reforçar o papel dos serviços de APS como a porta de entrada do sistema com ação resolutiva, assim como aclarar o papel das equipes da APS na condução, coordenação do processo do cuidado, integração com os outros níveis assistenciais e a regulação dos fluxos de atendimento.    

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