Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VOZES DE MULHERES CUIDADORAS FAMILIARES DE IDOSOS (AS) DEPENDENTES: DIÁLOGOS SOCIOCULTURAIS PARA A SOCIEDADE
Edmeia Campos Meira, Camila Calhau Andrade Reis, Luciana Araújo dos Reis, Rita Maria Radl Phillip

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este estudo considera os dados demográficos que demonstram o aumento progressivo de pessoas idosas acompanhado de longevidade no Brasil. Este novo perfil populacional tem impacto significativo na morbimortalidade e na necessidade de cuidados devido à convivência com a fragilização e doenças crônicas, o que requer o apoio de outras pessoas. Na ocorrência de dependência de cuidados da pessoa idosa, a mulher tem assumido ao longo da história do cuidado humano, a responsabilidade por estas ações em espaço intrafamiliar, tornando-se a cuidadora familiar principal. Diante disso, nota-se que estas mulheres cuidadoras vivenciam o processo de cuidar em contexto de relação interpessoal com o idoso (a), com a família e com a sua condição de pessoa humana,a partir de uma identidade feminina construída ao longo da vida. Este estudo tem princípios teóricos que norteiam os processos de construção das identidades de gênero, a partir da compreensão do interacionismo simbólico, e o cuidado humano. O cuidado desempenhado pela mulher permite a identificação de um tipo de identidade de gênero e orientação para o cuidado com base nas expressões socioculturais, atitudes, significados, desafios e no espaço organizativo da instituição familiar, tendo em vista as construções e transformações que orientam suas relações sociais em contexto histórico de vida. Assim, o objetivo principal do estudo é descrever e analisar as repercussões das relações de cuidado intrafamiliar desempenhado pela mulher cuidadora, por meio das suas recomendações para outras mulheres, pessoas da sociedade em geral que vivenciam semelhante ação de cuidar e representantes governamentais,quanto ao compromisso com a realidade de cuidado do idoso (a) dependente na família. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO Este estudo constitui-se parte do projeto de tese: O sentido da memória de mulheres cuidadoras de idosos (as) dependentes: Identidade de gênero e orientação para o cuidado. Trata-se de uma investigação empírica de natureza qualitativa, guiada pelo método de História Oral de Vida. Foi realizado no município de Jequié, interior da Bahia, no período de janeiro a março de 2015. A amostra da investigação contou com a participação de seis mulheres, conforme critério de inclusão: mulheres que vivenciam o processo de cuidar ao idoso (a) dependente com tempo mínimo de três anos. As informações foram produzidas através de entrevistas semiestruturadas, a partir da realização de visitas nos domicílios. As informações produzidas foram gravadas, transcritas e analisadas de acordo com categorias oriundas das histórias de vida que utilizam princípios de interpretação da Análise de Conteúdo. Além disso, foi utilizado o Programa QSRNVivo 10-chave de licença: NVD10-L2000-KRU84.O estudo atendeu às normas da resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que dispõe sobre as pesquisas com seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), sob parecer nº 791.570. Todas as participantes foram instruídas quanto aos riscos, benefícios e objetivos do estudo, mediante apresentação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes das entrevistas.Foram garantidos o sigilo e o respeito ao anonimato das participantes. RESULTADOS E IMPACTOS A partir do campo temático: Compartilhando os desafios do cuidado: expectativas socioculturais da mulher cuidadora do idoso (a) dependente, os resultados foram organizados em três categorias: 1- Diálogos com outras mulheres: uma ética para o cuidado familiar com o respeito às diferenças; 2- Diálogos para as pessoas que vivenciam semelhante ação de cuidado: Motivação para a participação social, em pró- equidade de gênero com respeito às diferenças 3- Diálogos com representantes governamentais: validar no cotidiano do viver/envelhecer, políticas públicas para mulheres com ênfase na ética e equidade nas diferenças. Na primeira categoria, apresentamos recomendações desveladas pelas mulheres para um viver ético de cuidado, o que se constitui como um ato de respeito e dignidade humana, com sensibilidade para o sofrimento e ajuda para enfrentá-lo, superá-lo e aceitar o inevitável. As mulheres reivindicam a igualdade de oportunidades nas relações intrafamiliares, com incentivo ao autocuidado, acesso ao lazer e solidariedade do cuidado em partilha com outros membros da família. Este cuidado ético orienta uma prática humanizada entre as pessoas, considerando a necessidade de acolhimento e compreensão, enquanto escuta sensível, evitando, deste modo, o estresse no processo de cuidar. Na segunda categoria, discutimos que a motivação para a participação social, em pró-equidade de gênero com respeito às diferenças, se caracteriza pelo reconhecimento do desenvolvimento moral e suas diferenças naturais entre homens e mulheres, indicando uma ética de cuidado com a natureza da mulher e trazendo um perfil de responsabilidade, sensibilidade e possibilidade de adaptação para o homem. Isso se traduz por uma ação de justiça no processo de cuidar do idoso dependente, que alcança uma ética com justiça. Estas mulheres apontam a condição de cuidarem sozinhas dos seus idosos (as), embora em convivência familiar, o que as sobrecarrega e as deixam estressadas e doentes. Considerando que a maioria também vivencia a velhice, um quadro de comorbidades se revela enquanto consequência do cuidado solitário. Nesse contexto, as mulheres cuidadoras demonstram que desejam vivenciar um envelhecimento ativo com condições de ter saúde enquanto bem-estar, segurança física e emocional, e participação social junto aos grupos de interesse da sua comunidade. Por fim, na terceira categoria, as mulheres cuidadoras indicam a necessidade de políticas públicas que possibilitem as superações quanto às manifestações de cansaço físico e emocional, e consequente estresse para a demanda de cuidados vivenciados. Estas políticas apontariam para a equidade no acesso aos serviços públicos e privados com garantia de aplicabilidade da Política Nacional de Humanização, considerando a demanda de necessidades de cuidado em saúde para o binômio idoso (a)/cuidador (a). CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante resultados, constatamos que a realidade do envelhecimento populacional brasileiro nos desafia a produzir políticas que respondam às necessidades das pessoas idosas e respectivas famílias cuidadoras, representadas neste estudo pela mulher. Concluímos que o papel de solidariedade do Estado às famílias que vivenciam a velhice, não visualiza as questões de gênero, nem as políticas públicas no reforço a família enquanto “cuidadora”. Uma realidade dicotomizada do mundo social representado pela esfera macro, o público com a força e valorização do masculino, e a esfera micro,as famílias e as mulheres, ainda prevalece, e carece de reconstrução. Apesar da existência de legislações que reconhecem o domicílio como lugar de cuidado à saúde do idoso e que apoiam a capacitação dos cuidadores (as) familiares, muitas famílias encontram-se desamparadas, buscando suporte social para atender as necessidades de saúde vivenciada pelos idosos (as) e respectivo (a) cuidador (a). Concluímos ainda, que o cuidado,do ponto de vista moral, consiste em uma postura ética frente ao mundo, em que se considera relacionamentos, comportamentos e modos de interação entre as pessoas, o que assume características morais ou não morais. Desse modo, a prática de cuidado humano revela-se como adaptável a todos e que não necessariamente depende de questões de gênero.  

Palavras-chave


idoso; cuidadores; relações familiares

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