Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Caminhos Percorridos por residentes de Enfermagem na Saúde da Família
Deborah Franscielle da Fonseca, Juliana Ferreira da Silva

Última alteração: 2015-10-29

Resumo


APRESENTAÇÃO: Nos últimos anos diversos esforços foram e têm sido desenvolvidos para racionalização da saúde no Brasil. Como resultado do Movimento da Reforma Sanitária, que envolveu debates e lutas democráticas pela sociedade, em 1988 a Constituição Federal determinou a “saúde como direito de todos e dever do Estado”. Ainda assim, mesmo dispondo de avanços significativos, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda enfrenta desafios para sua consolidação, dentre eles a mudança dos modelos de atenção, que inclui a transformação das maneiras em se produzir a gestão e o cuidado, sendo a formação dos profissionais de saúde, um dos importantes elementos desse processo. A partir disto, uma série de iniciativas de formação em saúde tem sido estabelecidas, com objetivo aproximar a formação profissional em saúde da realidade social e do trabalho no SUS, qualificando os profissionais para atuarem no sistema, como por exemplo as residências multiprofissionais e em área profissional da saúde. Criadas pela Lei n° 11.129 de 2005, estas modalidades de ensino de pós-graduação lato sensu são desenvolvidos sob a forma de curso de especialização caracterizado por ensino em serviço e orientados pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir das necessidades e realidades locorregionais. Frente a isto, objetiva-se relatar experiências de educação e promoção da saúde de Residentes de Enfermagem na Atenção Básica (AB) /Saúde da Família (SF), em um município do Centro Oeste de Minas Gerais. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência no contexto da Atenção básica, da prática profissional de duas residentes de Enfermagem, na educação e promoção da saúde, orientadas pelos princípios e diretrizes do SUS, a partir das necessidades e realidades locorregionais. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é o principal campo de prática do Programa de Residência em Enfermagem na AB/ SF da Universidade Federal de São João Del Rei/ Campus Centro Oeste Dona Lindu (CCO). Ao início das atividades pelo Programa, realiza-se o diagnóstico de saúde na ESF onde estão os profissionais residentes, a fim de conhecer e analisar a realidade e as necessidades locais, a dinâmica e os riscos em que a comunidade está inserida, a organização dos demais Serviços de Saúde, para então planejar e direcionar as ações de saúde. A partir disto, foram criadas e reafirmadas propostas de educação e promoção à saúde para a comunidade, junto à equipe de saúde. Enquanto atividades de educação à saúde para a comunidade tem-se a elaboração de temas e realização das Tardes Comunitárias, que são momentos de encontro para troca de conhecimentos e experiências de assuntos levantados pelos usuários, com a equipe de saúde, que ocorrem todas as quartas-feiras no período da tarde semanalmente. Os usuários participantes em sua maioria são do sexo feminino, adultos não jovens e idosos. Cada encontro acontece com uma metodologia diferente, há momentos de discussão sobre as condições de saúde, prevenção de doenças, fatos cotidianos da comunidade; momentos que englobam a saúde mental como “Pintura de mandalas”; momentos de distração e socialização como “Festa Junina na ESF”, “Cinema e pipoca na ESF”, “Tarde Dançante”, “Bingo na ESF”. Em parceira com uma Escola de ensino fundamental local, para a Campanha Nacional de Hanseníase, Verminoses, Tracoma e Esquistossomose (2015), do Ministério da Saúde, foi feita a primeira aproximação das residentes com os escolares e profissionais da educação. Inicialmente foi realizado um teatro junto à equipe de saúde sobre a Hanseníase, construção de um mural informativo sobre a doença pelos escolares na escola, e posteriormente, condução e finalização da Campanha. Outra ação em parceria com a Escola, neste momento por sua iniciativa, ocorreu a Mobilização Social “Dia M”, onde foram realizadas atividades para toda a comunidade, como música, brincadeiras, corte de cabelo, apresentações; a equipe de saúde distribuiu panfletos informativos, orientações sobre saúde da criança, da mulher, do homem, do idoso, saúde reprodutiva e saúde bucal. Quanto às atividades de promoção a saúde, destaca-se a realização do grupo de caminhada e o grupo de práticas corporais na ESF. A idealização do grupo de caminhada e sua realização ocorreram através das residentes, inicialmente participavam apenas os profissionais da equipe e depois de algum tempo, pouco a pouco, mais um usuário se integra. Como proposta inicial, o grupo aconteceria todas as quartas-feiras pela manhã, com duração de trinta minutos, o número de participantes varia, bem como a frequência de participação e faixa etária, alguns caminham todos os dias, outros apenas na quarta-feira. O local para caminhada é plano, asfaltado, com pouco movimento automobilístico e em frente à Unidade de Saúde, propiciando a participação da comunidade e da equipe de saúde. O grupo de práticas corporais de fortalecimento musculoesquelético, já ocorria previamente na Unidade de Saúde com auxílio do profissional fisioterapeuta, as residentes agora, somam mais um saber a esta prática, na busca pela interdisciplinaridade na ESF. Algumas estratégias também foram desenvolvidas para a promoção da saúde da equipe da ESF, como a participação no grupo de caminhada, como dito anteriormente, a realização do “Dia da fruta/ ou do Suco verde”, etiquetação de recadinhos de ingestão de água e frutas e prática da “Terapia Comunitária”. Após uma reunião sobre saúde do trabalhador, a equipe de saúde levantou e pactuou propostas para o melhoramento da qualidade de vida no ambiente de trabalho, assim surgiu a ideia em participar do grupo de caminhada ao menos uma vez na semana; trazer para o ambiente de trabalho qualquer tipo de fruta ou ingrediente para preparo do suco verde (desintoxicante) para o “Dia da fruta/ ou do Suco verde”; e etiquetar locais visíveis com recadinhos lembrando a sobre a ingesta de água e frutas. Ainda para a equipe de saúde foi realizado um momento de abordagem a partir da Terapia Comunitária (TC) junto a outros residentes do programa. A TC tem por finalidade promover saúde mental, fomentando a cidadania, fortalecimento das redes sociais e a identidade cultural. Criada e sistematizada pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto em 1987 na Favela de Pirambu, Fortaleza – CE. Consiste em um espaço propiciador para a fala e expressão do sofrimento, conflitos, dúvidas, possibilidades de soluções, sem risco de exclusão e sim de valorização da diferença e do referencial positivo de cada um, oportunizando a união de grupos sociais, resgate cultural e da autoestima. Assim, ao realizá-la com a equipe, os profissionais mediante o cenário da saúde macro e microrregional, puderam refletir suas práticas, reafirmar a importância do trabalho em equipe e valorizar do outro na sua singularidade. Resultados: Durante a criação e realização das propostas de educação e promoção à saúde junto à comunidade e equipe de saúde, foi possível perceber o estabelecimento de vínculo dos usuários com a equipe de saúde, o fortalecimento do trabalho em equipe e o reconhecimento do outro pelos profissionais. Além disto, as residentes puderam vivenciar a realidade social da comunidade e o processo de trabalho na ESF. Considerações finais: A criação de espaços para formação profissional em saúde tem sido amplamente discutida e valorizada na atualidade, visto a importância em se produzir saúde de qualidade para toda a população. Vivenciar a AB/ SF através da residência possibilitou a aproximação das residentes com as necessidades e realidades locais, a construção de conhecimentos em saúde e a micropolítica da equipe de trabalho, contribuindo assim para a formação profissional em saúde qualificada.

Palavras-chave


Estratégia de Saúde da Família; Educação em saúde; Promoção da Saúde

Referências


SORATTO, Jacks et al. Percepções dos profissionais de saúde sobre a Estratégia Saúde da Família: equidade, universalidade, trabalho em equipe e promoção da saúde/prevenção de doenças. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 2015; 10 (34): 1-7.

LIMA, Valeria Vernaschi et al. Ativadores de processos de mudança: uma proposta orientada à transformação das práticas educacionais e da formação de profissionais de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 2015; 20 (1): 279-288.

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PAIM, Jairnilson Silva. A Constituição Cidadã e os 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2013; 29 (10): 1927-53.

Luiza Helena Cadorim. Terapia Comunitária. Disponível em:< http://www.fclar.unesp.br/#!/unidade-auxiliar/terapia-comunitaria/>. Acesso em: 15 set. 2015.