Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Desdobramentos no processo de formação em serviço: dificuldades e possibilidades da atuação multiprofissional
GISELI BEZERRA OLIVEIRA, Fernanda Marques Sousa, Merilin Carneiro França

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: O trabalho em questão visa discorrer sobre o processo de inserção na Residência Multiprofissional em Saúde Hospitalar nos serviços da rede de saúde de um município da Paraíba, a partir da vivência dos residentes. DESENVOLVIMENTO: De acordo com Brasil (2009), sabe-se que as residências em saúde são formuladas com base nos princípios do Sistema Único de Saúde - SUS e a criação ocorreu mediante promulgação da Lei 11.129 de 2005, no intento de fomentar a especialização dos profissionais em serviço e atender as necessidades locais da população, ao passo que fortalece o processo de implementação do SUS, preparando-os para o trabalho no setor público de saúde prioritariamente. Os programas de residência multiprofissional surgiram como ferramenta da política nacional de educação permanente em saúde, as quais são voltadas aos profissionais recém-formados. Todavia se deparam com diferentes contradições desde sua formulação até a implementação, sendo questionadas quanto à jornada de trabalho e o reconhecimento para fins de inserção profissional. Contrária ao modelo tradicional de educação em saúde, no qual o conhecimento é transmitido do professor ao aluno- que até então não o detém, a proposta de educação permanente salienta a importância do aprendizado no cotidiano do serviço, considerando-o espaço de aprendizagem. Segundo Brasil (2009) ela representa uma importante mudança no processo de capacitação do trabalhador da saúde visto que, incorpora ensino e aprendizado no cotidiano das instituições, modifica as estratégias de educação, permite a problematização do fazer profissional, fomenta a reflexão dos atores não como meros receptores e sim como construtores do conhecimento, considera a importância da interação das disciplinas na equipe de trabalho e amplia os espaços educativos fora da aula. Nesse sentido as residências multiprofissionais corroboram no processo de educação apreendendo novas metodologias de aprendizado que vão ao encontro das necessidades sociais considerando a dialética dessas relações. Entende-se que o planejamento e a implementação das residências em saúde estão trincados de contradições, concomitante atrelada ao processo de mudança nas metodologias, ainda persistem nesses programas o modelo tradicional de educação reforçado por tutores, preceptores e coordenadores. Segundo Shikasho (2013) as residências em saúde apresentam dificuldades de organização e estruturação principalmente porque não tem um referencial pedagógico de educação permanente. Em sua pesquisa a autora supracitada aponta que a visão romancista que poderia permanecer no processo de residência entrou em choque com a centralidade médica nas decisões de saúde, salientando assim que o processo de busca pela interdisciplinaridade não exclui os conflitos. RESULTADOS E DISCUSSÕES: No tocante, ao programa de Residência Multiprofissional em Saúde Hospitalar de um município da Paraíba, foco do estudo, semelhante à pesquisa dessa autora apresenta algumas contradições das quais salientar-se-á as principais. Essa foi implementada no ano de 2010. Chama-se atenção às inúmeras dificuldades quanto à inserção dos programas nos serviços de saúde, desde as pactuações entre coordenações do programa e do setor que acolherá os profissionais, difícil aceitação dos coordenadores e profissionais dos serviços quanto ao recebimento de um grupo de profissionais no mesmo lócus. Além disso, percebe-se o não entendimento dos profissionais quanto ao processo de preceptoria; não entendimento dos atores sobre a proposta da residência multiprofissional; burocratização excessiva no tocante ao adentro das equipes de residentes e ao tempo de estágio; indefinições quanto ao financiamento para desenvolvimento de atividades; precárias condições de estudos e práticas; frágil implementação de ações interdisciplinares entre os residentes e entre esses e os profissionais do setor; não envolvimento dos professores para atividades de tutorias por não haver liberação de carga horária da graduação e nem remuneração, sendo esta mais uma atividade somada a sua extenuante carga de trabalho. Outra contradição que se pode apontar diz respeito ao processo de trabalho multiprofissional existente nas unidades de saúde, visto que nelas os diferentes profissionais não conseguem atuar de forma sinérgica, nesse sentido são os residentes que são tomados enquanto únicos responsáveis em fomentar nos espaços onde não há tomadas de decisão multiprofissional. E aqui, destaca-se a problemática quanto a essa incumbência, visto que quando os residentes saem desses serviços, as atividades multiprofissionais são negligenciadas pelos profissionais do setor. Semelhante a essa questão, tem-se que o modelo presente em algumas residências que afirmam trabalhar de forma multiprofissional, mas na verdade reforçam a fragmentação da prática dividindo a equipe de residentes para intervirem exclusivamente em seus núcleos profissionais omitindo-se o objetivo de trabalhar de forma conjunta com as diferentes categorias sendo usual o desmembramento da equipe. Outro ponto a ser ressaltado trata-se da não liberação de carga horária dos coordenadores, tutores e preceptores que acumulam funções e desempenham seu papel sem o suficiente apoio institucional, o que torna difícil a continuidade das atividades assim como a disponibilidade de profissionais para desempenhar essas funções. Como não há apoio suficiente também são percebidas diferentes interpretações sobre o papel do preceptor, o que repercute nas atividades visto não haver clareza de que a intenção não é substituir os funcionários, mas repensar a prática ao mesmo tempo em que a executa. Essa questão é tão presente no hospital universitário no qual o programa está lotado como nos cenários de práticas de estágio externo. Nesses últimos houve outros agravantes, a comunicação do programa com a coordenação do hospital e dessa com os setores onde os residentes ficaram lotados, o que traz melindres na relação com a equipe. Questionamentos quanto às atribuições profissionais foram constantes entre residentes e são reflexos do não conhecimento a respeito do que faz o outro, fator corriqueiro no cotidiano dos hospitais. A carga horária excessiva dos residentes multiprofissionais, 5.760 horas/aula e a tarefa de aliar a prática com o ensino e produção científica representam um grande desafio para o avanço das práticas qualificadas e críticas em saúde. A esse respeito Shikasho (2013) defende uma assistência mais integral e humana aos residentes, pois alguns apresentam dificuldades de lidar com os desafios da saúde pública. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dessas fragilidades o programa de residência tem apresentado muitos avanços e incentivado entre os profissionais o repensar das práticas vislumbrando a assistência integral aos usuários da saúde. Algumas das ferramentas utilizadas foram o Projeto Terapêutico Singular (PTS), projetos de trabalho com famílias e cuidadores, acolhimentos multiprofissionais, momentos de educação em saúde, arranjos intersetoriais, check-list multiprofissional, além de momentos de visita aberta e estendida e discussão de casos multiprofissionalmente. Ações como essas são divulgadas no momento do seminário integrador, no qual os funcionários dos setores têm a oportunidade de conhecer profundamente como as intervenções foram construídas, implantadas e desenvolvidas. Ratifica-se a importância desse programa sem desconsiderar que mudanças são urgentes e necessárias, as quais podem permitir um melhor aproveitamento dessas ferramentas nos serviços e uma melhor qualificação dos profissionais para o trabalho no setor público da saúde.

Palavras-chave


INTEGRALIDADE EM SAUDE; EDUCAÇÃO PERMANETE; SISTEMA UNICO DE SAUDE

Referências


BRASIL. Ministério da Educação. Residência Multiprofissional. 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/busca-geral/247-programas-e-acoes-1921564125/residencia-medica-2137156164/12501-residencia-multiprofissional > acessado em: 07 out. 2015.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: <http://www.saude.es.gov.br/download/PoliticaNacionalEducPermanenteSaude_V9.pdf> acessado em: 07 out. 2015.

 

SHIKASHO, L. Os Programas de Residência e a Integralidade da Atenção: um estudo sobre a micropolítica do trabalho e da formação em saúde. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva - Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2013. Disponível em: <http://www.ufjf.br/pgsaudecoletiva> Acessado em: 07 out. 2015