Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Coletividades pedagógicas em saúde: Experiências da gestão do SUS como campo de aprendizado de residências multiprofissionais com ênfase em saúde coletiva
Alexandre Sobral Loureiro Amorim, Alessandra Wladyka Charney

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


APRESENTAÇÃO: Considerando os múltiplos desafios que compõe uma gestão comprometida com os avanços do Sistema Único de Saúde no que tange à constituição de estratégias formativas e pedagógicas nas Redes de Atenção em Saúde - e sua respectiva gestão -, surgiu a proposta de conformar a Diretoria de Políticas e Ações em Saúde (DPAS) da Secretaria Municipal de Saúde de Canoas como campo de prática para residências multiprofissionais com ênfase em Saúde Coletiva (a saber: Residência Integrada em Saúde Coletiva e Residência Integrada em Saúde Mental Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Residência Integrada em Saúde Mental Coletiva da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul). Como uma estratégia de integração ensino-serviço, a potência encontrava-se em aproximar os residentes (profissionais em processos de pós-graduação com possível atuação futura no Sistema Único de Saúde como trabalhadores e/ou gestores) da realidade vivenciada na gestão - e educação - da saúde.O tempo de duração do estágio e a área específica a ser vivenciada variou de acordo com as contratualizações feitas com as instituições de ensino. Foram campos vivenciais no DPAS para os residentes: a Coordenação de Educação Permanente e o Apoio Institucional para a Atenção Básica. Os profissionais da gestão destas áreas atuaram, então, como preceptores e, nesta função, houve a possibilidade de desacomodação de certas formas estanques e inertes de gerenciamento - compostas muitas vezes por atividades mecanizadas e “rotinas de setor” e por uma divisão entre teorias e práticas além de um atrelamento exclusivamente a saberes nucleares - para aprender a compor coletivos de aprendizagem mais vivazes e fluidos, tanto por parte dos residentes como por parte destes profissionais vinculados à gestão. Tais coletivos (formados por gestores, acadêmicos, trabalhadores da assistência e usuários) compuseram destarte “coletividades pedagógicas em saúde”, que por meio de diferentes conformações e combinando os tais atores - e suas potencialidades - ao longo do tempo possibilitaram expandir a gestão da Atenção Básica e da Educação Permanente em Saúde para ampliar a formação, coordenação e a atenção dos serviços à profusão de planos de necessidades em saúde não catalogáveis e que acabavam por pedir passagem no cotidiano do município.DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA:Ao promover a integração ensino-serviço de modo não fragmentário, desenvolvendo práticas pedagógicas que privilegiaram um processo de produção do conhecimento a partir da experiência - e não exclusivamente centrado em uma educação que se faz por treinamento-capacitação para procedimentos protocolares pré-definidos e modelizadores - a experiência de integração do ensino com o campo da gestão (e não apenas com os espaços de atenção em saúde) trouxe o desafio de desenvolver nos cotidianos de trabalho propostas que se movimentassem para a problematização de comportamentos prescritivos, para a construção de coletivos organizados produtores de saúde e principalmente para produção de experiências transformadoras na realidade presente (e futura) dos espaços de cuidado.A estratégia principal foi basear a experiência da aprendizagem no encontro cotidiano com os serviços, com os profissionais da gestão, com espaços de reunião, com textos de apoio, entre outros. Foram garantidos ainda espaços de supervisão e problematização sobre estes encontros - com o intuito da construção do conhecimento a partir das vivências - e espaços de compartilhamento de tais experiências e aprendizados entre os atores envolvidos nos processos pedagógicos em questão.Além da integração ensino-gestão propriamente dita, foi garantida ainda a integração entre os residentes das diversas instituições de ensino e cursos, tanto nos campos específicos de atuação na gestão como em seminários integradores mensais que tiveram temas amplos de discussão e problematização (território, apoio institucional e matricial, redes de atenção em saúde, educação permanente em saúde, acolhimento etc.) pactuados junto ao coletivo de residentes, conforme as demandas reais com as quais estes estavam lidando em suas cotidianos de vivências.Nesta perspectiva, coube à gestão produzir múltiplos espaços de encontros, conexões e fluxos criando zonas de troca entre os agentes da gestão, academia, trabalhadores e usuários, visto que eram a fonte de produção de realidade, considerando esta como produtiva, organizada pelas relações e conexões compostas pelas pessoas nas instituições.A avaliação dos processos de aprendizado dos residentes foi realizada de forma contínua a partir de planos de aprendizagem singulares a cada indivíduo (com nuances determinadas pela instituição de ensino proveniente e pelo campo específico vivenciado no estágio em gestão no DPAS) que foi  retomado semanalmente nos momentos dedicados à preceptoria (de modo a compor uma análise compartilhada do cotidiano vivenciado e seus percursos) e mensalmente (de maneira mais sistemática) nas reuniões de supervisão realizadas em coletivo, tendo contribuído deste modo para o melhor desenvolvimento do grupo e da integração ensino-gestão. Os dados produzidos foram embasados nas avaliações dos próprios residentes a partir de suas vivências do campo e dos profissionais com quem interagiram (nos serviços de saúde e nos espaços de gestão) bem como a partir das narrativas produzidas pelos residentes e registradas em seus planos de ação, relatórios de atividades e diários de bordo. Avaliou-se ainda os processos de aprendizado dos gestores-preceptores, em rodas de conversa destes com os supervisores, momento onde são também resolvidas questões de nuances operacionais relativas aos campos. RESULTADOS E IMPACTOS: Utilizando a Educação Permanente em Saúde - a partir da teorização de Ceccim e Feuerwerker sobre o “Quadrilátero da Formação em Saúde: Gestão, Atenção, Formação, Controle Social” - pode-se pensar sobre esta integração na perspectiva de movimentos de melhoria da qualidade das ofertas de cuidado à população e dinamização de seus processos de gestão, bem como no direcionamento de uma maior democratização do espaço da Universidade, principalmente no tocante à sua relação com a formação em Saúde. Desta maneira aumenta-se radicalmente a possibilidade de construir teorias e práticas para a educação na saúde - cada vez mais próximas da realidade cotidiana das  redes: coletivos, serviços, dispositivos e territórios - como um potente movimento de avanço científico, tecnológico, pedagógico e relacional para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde.CONSIDERAÇÕESFINAIS:Entendendo que é veementemente estratégico transformar os espaços formativos de onde provêm futuros profissionais da rede, torna-se essencial incluir a universidade nos espaços de construção das teorias e práticas advindas das experiências de gestão das políticas de saúde, dos profissionais nos serviços de saúde e dos itinerários traçados pelos usuários do sistema pelas redes de saúde, assim como também retroalimentar os espaços de formação com uma pedagogia advinda das experiências e vivências em cenários onde o cotidiano das práticas se expressa, trabalhando deste modo uma construção compartilhada e solidária de sentidos (informações, ações, planos, metas, desejos etc.).Para a produção destas “coletividades pedagógicas em saúde” é preciso que, para além de um alinhamento teórico ou a mera cedência de espaços - sejam estes nos territórios, nas unidades de saúde ou mesmo na gestão -, possam ser desenvolvidas estratégias políticas de gestão que partam da implicação de estudantes, profissionais (gestores e trabalhadores) e usuários do sistema de saúde, atuando na ressignificação dos territórios de experimentação para que estes possibilitem a construção de conhecimentos em saúde capazes de disputar - ética, estética e politicamente - o modelo hegemônico de formação na saúde (atualmente centrado em um cuidado mercantilizado e biomedicalizado).

Palavras-chave


Educação na Saúde; Saúde Coletiva; Residência Multiprofissional

Referências


AMORIM, A.; CHARNEY, A.; CECCIM, R.B. Percursos para a produção do aprender e atender na Atenção Básica desde a gestão estadual do sistema de saúde. In: FAGUNDES, S. et al. (Org.) Atenção básica em produção: tessituras do apoio na gestão estadual do SUS. Porto Alegre : Rede UNIDA, 2014.

CECCIM, R. B. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v.9, n.16, p.61-177, 2005a.

CECCIM, R.B.; FEUERWERKER, L. C. M. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.14, n.1, p.41-65, 2004.