Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Odontologia extensionista – um instrumento de integração social entre “Dois Mundos”
Fernanda Ramos de Faria, Ana Carolina Organista Cörner, Luiz Sérgio Pacheco Santos, Marnene Soares de Souza, Antônio Carlos Pires Ferreira, Juliana Matos, Angela Scarparo

Última alteração: 2015-11-02

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este trabalho tem por objetivo reportar a experiência de uma proposta de extensão “odontológica” junto à ONG Amazonas Visão, durante uma expedição à Comunidade São Domingos (GO). Considerando a premissa de que educação em saúde é prática fundamental do trabalho em saúde, e que, em se tratando da Odontologia o tecnicismo mecânico (curativismo e/ou assistencialismo) se faz presente na grande maioria das ações, a extensão, por sua vez, tem proporcionado uma vivência integral e humanística ao acadêmico. Por essa razão, o PET Odontologia tem buscado parcerias com outras Instituições e Entidades, no intuito de promover o encontro destes “dois mundos”. Em setembro de 2015, uma comunidade (São Domingos - GO), dois projetos (PET Odontologia FOUFF/NF e ONG Amazonas Visão), três objetivos (melhorar a qualidade de vida, contribuir com a saúde preventiva e terapêutica, promover educação em saúde), e um “viés” (vivência para a vida toda). Considerando que a descrição da experiência está baseada no acesso à saúde, faz-se relevante contextualizar a região assistida. Desta forma, o projeto foi desenvolvido em uma comunidade a 60 km da cidade de Cavalcante (GO). A estrada que liga o povoado à cidade é de terra e possui algumas passagens através de rios, o que dificulta o acesso por carros comuns. Não há transporte público disponível para a população, apenas o particular e o informal, este último denominado pau-de-arara. A taxa cobrada pelo transporte informal é alta, disponível um dia da semana com apenas um horário, tornando seu uso inviável e pouco acessível. Neste povoado, existem aproximadamente cem casas, em torno de setecentas pessoas; além disso, dois espaços de convivência comum, a escola e a igreja. A maior parte das construções é de adobe. A população não possui energia elétrica, água tratada e coleta de lixo. A agricultura é de subsistência, e a alimentação é predominantemente de arroz, feijão, frango e legumes. Por vezes, pode-se observar o consumo de sucos industrializados, na ausência da fruta; e, o frequente consumo de chá. Durante os dias de ação, pode-se constatar a ausência de unidade básica de saúde, sendo todos os atendimentos realizados na escola. Foram realizados tratamentos atraumáticos (TRA), exodontias simples, raspagens, orientações de higiene bucal, aplicações tópicas de flúor.  A promoção da saúde foi alcançada através de palestras, rodas de conversa, teatro com fantoches, tendo como premissa abordar os seguintes eixos temáticos: doença cárie, doença periodontal, alimentação e higiene bucal, importância da pasta com flúor. Como resultado, pode-se constatar que a população está desassistida, carente de acesso e informação, vulnerável ao transporte informal para só então ter acesso à saúde em um “grande centro”. Sabendo-se da ausência de tratamento da água de abastecimento, bem como da dificuldade de acesso aos centros urbanos, teve-se a certeza do pouco ou nenhum acesso ao flúor, principal agente preventivo à doença cárie. Em virtude do pouco tempo disponível não foi possível conhecer mais sobre os núcleos familiares e suas relações com a saúde bucal., o que se pode constatar foi a utilização em grande quantidade de açúcares, porém baixa ingestão de carboidratos fermentáveis. Observou-se também, com grande frequência, que a inflamação gengival é notória; isso se deve à ausência do entendimento de promoção da saúde, isto é, conhecimento sobre a importância da escovação para manutenção de gengiva e dentes saudáveis. Infelizmente sabe-se que a cronificação deste quadro levará a população à perda precoce dos dentes. Em função das instalações, isto é, ausência de equipamentos de esterilização, energia elétrica, pouco pode ser realizado considerando-se os procedimentos odontológicos existentes de média e alta complexidade (esterilização de materiais, utilização de caneta de alta rotação, etc.). Mas, muito foi observado, anotado, e vivenciado. Em 5 dias, teve-se a certeza de que algo precisa ser feito, com uma frequência “razoável” para que a saúde seja incutida nesta comunidade. A odontologia precisa de cuidados diários, frequentes, incessantes, pois o processo de instalação da doença é lento e contínuo; quando não diagnosticado e tratado em tempo, muito se perde, por vezes, de forma mutiladora. Promover saúde precisa ser frequente, principalmente para aqueles que não tem esse significado tão esclarecido e pungente em suas vidas. Após nossa chegada, pode-se perceber a carência da população por profissionais da saúde; além de nós, havia um médico pediatra, que também realizou atendimentos clínicos. A população demonstrou-se receptiva, pronta a receber orientações e já saudosa por saber que partiríamos em alguns dias, sem a certeza exata de quando voltaríamos. Esta incerteza, por sua vez, dizia respeito à Odontologia, pois nestas parcerias nem sempre se consegue verba suficiente, rotina que desejamos mudar. A medicina pediátrica tem “chegado”, mensalmente, por bel-prazer do médico e sua esposa, e também pela obstinação da ONG Amazonas Visão que acolheu a comunidade de Cavalcante e seu entorno. Fomos designadas a esse desafio: viajar para o desconhecido com a proposta de levarmos a nossa "bagagem" de conhecimento, contribuir com as necessidades odontológicas e promover educação em saúde, para que os moradores do povoado compreendessem a responsabilidade e a necessidade de terem autonomia em relação aos cuidados de saúde. A experiência nos propiciou ganhos tanto profissionais quanto pessoais. Retornamos com a "bagagem" mais sólida, humana e valiosa, e com certeza mais “pesada” comparada a que levamos. Exercer a odontologia de “primeiro mundo” dentro desta realidade é viver verdadeiramente a extensão universitária, é compreender a prática em saúde em um país com tamanha diversidade sociocultural, é finalmente compreender que profissional preciso ser, e que profissional esperam de mim. É preciso que mais e mais pessoas se engajem nesta busca por aproximar os “dois mundos”, mesmo que por momentos (mensais que sejam), mas momentos de troca, de aprendizagem bilateral, de integração verdadeiramente sociocultural, de ouvir e ser ouvido. O importante é que não seja pontual, único, unidirecional, distante, momentâneo e assistencial. Populações como esta precisam de mais que isso. Tivemos a certeza de que eles precisam do nosso olhar atento e cuidado fraterno. E por fim, apesar de não ser comum, mas um movimento importante diante de tudo que estamos vivendo, convidamos todos a assistirem a este vídeo que retrata parte da nossa vivência: https://www.facebook.com/jumatosmelo/videos/998491613546311/ .

Palavras-chave


educação em saúde; extensão; odontologia;cidadania