Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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(IN) SEGURANÇA ALIMENTAR E CONDICIONALIDADES DE SAÚDE EM MULHERES BENEFICIÁRIAS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Sheila Kocourek, Aline Braido Pereira, Camila de Brum Scalcon, Patrícia Rodrigues, Ramão Rodrigo Stocker, Teresinha Heck Weiller

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A alimentação e a nutrição, enquanto requisitos básicos para a promoção e a proteção da saúde, possibilitam a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano, com qualidade de vida e cidadania. Além disso, contribuem sobremaneira para o enfrentamento da atual situação epidemiológica do país, representada pela tripla carga de doenças, que envolve: uma agenda não concluída de infecções, desnutrição e problemas de saúde reprodutiva; o desafio das doenças crônicas e seus fatores de risco, como tabagismo, sobrepeso, obesidade, inatividade física, estresse e alimentação inadequada; e o forte crescimento das causas externas. Os programas brasileiros de transferência de renda, tais como o “Bolsa Família”, incluem a garantia de uma renda mínima com vistas a superação da fome, pobreza e miséria extrema. Contudo, sua execução e sucesso demandam a atuação intersetorial. Neste sentido as ações de alimentação e nutrição podem e devem ser atribuição do Sistema Único de Saúde, especialmente por meio da Política Nacional de Atenção Básica. O presente estudo, emerge num contexto em que, empiricamente, inúmeras mulheres, chefes de família, ao buscarem a Estratégia de Saúde da Família, apresentam um quadro de insegurança alimentar associado ao sobrepeso e obesidade. Tal cenário instigou os Residentes do Programa de Residência Multiprofissional Integrado (PRMI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com ênfase na Atenção Básica/ESF a avaliarem o índice de Segurança Alimentar e Nutricional das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF), referenciadas em Estratégias de Saúde da Família – ESF, bem como suas condicionalidades de saúde a fim de impactar na qualidade de vida dos sujeitos deste estudo.   Desenvolvimento do trabalho: método do estudo     Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória com abordagem qualitativa que se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. A amostra constitui-se de 40 mulheres, maiores de 18 anos adstritas as ESF em estudo e beneficiarias do programa bolsa família. Para coleta de dados os residentes inseridos no local e familiarizados com o instrumento de coleta abordaram usuários que procuravam a ESF no espaço da unidade de saúde ou no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), levando cerca de trinta minutos para o preenchimento do instrumento de coleta de dados. Posteriormente os dados foram processados e analisados no Excel® 2007 e no software Statistical Package for Social Science 15.0 (SPSS). Apresentam o perfil sócio demográfico e identificam as condições e modos de vida dos sujeitos da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa exploratória.   Resultados encontrados na pesquisa Entre as mulheres que compuseram a amostra deste estudo, todas são beneficiárias do PBF, a maioria 62,5% (n=25) é autodeclarada de cor branca; 55% (n=22) são casadas/com companheiro, 80% (n=32) delas trabalham (formalmente ou informalmente) e 55% (n=22) possuem ensino fundamental incompleto. Das entrevistadas, 27,5% relataram ter algum tipo de doença. Das 40 entrevistadas, 14 (35,0%) disseram praticar algum tipo de atividade física e 31 delas referiram não ingerir qualquer tipo de bebida alcoólica. Pode-se observar que entre as beneficiárias do PBF a avaliação da Segurança Alimentar classificou-se a maioria 40% (n=16) que apresentam leve Insegurança Alimentar (IA), seguido pela Insegurança Moderada 25% (n=10), e Insegurança Grave com 22,5% (n=9). Segurança Alimentar apenas 12,5% (n=5) das entrevistadas apresentaram. Ao correlacionar a IA e variáveis sociodemográficas, observou-se que as proporções de IA foram maiores na classe econômica D ou E, nas casas com quatro ou mais pessoas, que não recebem outro benefício, com renda menor que um salário mínimo nacional, com moradia não própria, com água proveniente de poço/cacimbão, sem esgoto, com idade média, menor de 40 anos, as quais não trabalham com registro, com circunferência de cintura inadequada e excesso de peso. Ao correlacionar IA com o IMC pode-se observar que a grande maioria das mulheres apresentou Obesidade (67,5%).  Entretanto a presença de doenças não foi observada na maioria delas (63,3%). Contudo o sobrepeso e a obesidade contribuem de forma importante para a carga de doenças crônicas e incapacidades.30 As consequências para a saúde associadas a estes fatores vão desde condições debilitantes que afetam a qualidade de vida, tais como a osteoartrite, dificuldades respiratórias, problemas músculo-esqueléticos, problemas de pele e infertilidade, até condições graves como doença coronariana, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer30,31 O presente estudo aponta informações fundamentais para o planejamento de po­líticas voltadas a nutrição, mostrando uma alta prevalência de obesidade e sobrepeso na população beneficiária, sendo que tal condição está associada ao maior risco de doenças crônicas não transmissíveis. Neste sentido observa-se a necessidade de trabalhar com esses indivíduos por meio de ações de educação em saúde e nutrição, a fim de que sejam sensibilizados para a tomada de atitudes que podem modificar seu estado nutricional. Os resultados ora apresentados mostram-se como subsídio para construção e implantação de políticas públicas regionais ligadas à alimentação. Considerações Finais: Conclui-se que a grande maioria da amostra está em insegurança alimentar, esses achados demonstram a necessidade de ações integradas entre políticas de educação, saúde na Atenção Básica e os programas de transferência de renda. Considerando o não aparecimento de doenças entre as mulheres em IA, obesa, precisa-se que as mesmas estão no grupo de risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis, uma vez que a Obesidade e o Sobrepeso estão em maiores incidências. Em relação às associações entre excesso de peso e nível socioeconômico, há estudos que apontam que a renda e nível educacional estão inversamente associados à obesidade, principalmente no sexo feminino. De acordo com revisão teórica nas sociedades em transição, como o Brasil, a renda tende a ser um fator de risco, enquanto que a educação desempenha papel protetor. O avanço na implementação de ações de Alimentação e Nutrição vem sendo fortalecido pelas políticas de transferência de renda. O que desafia os profissionais da saúde atuarem de modo educativo e promocional no concerne a racionalidade do consumo, o que não é algo fácil, visto que estamos falando de uma população que há pouco tempo passava fome. Por fim, acredita-se que Educação Permanente é um importante dispositivo para qualificar os trabalhadores, agregando a racionalidade da organização do cuidado integral em assegurando a saúde nas redes de atenção do Sistema Único de Saúde.

Palavras-chave


Bolsa Família, Promoção da Saúde, Atenção Primária a Saúde, Segurança Alimentar e Nutricional

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