Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
UTILIZAÇÃO DO GENOGRAMA PARA CONSTRUÇÃO DO PLANO TERAPÊUTICO DE UMA FAMÍLIA
Roger Allan Vieira dos Santos, Kerle Dayana Tavares de Lucena, Matheus Crispim Mayer Ramalho, Rodrigo Paiva Alencar Miranda

Última alteração: 2015-10-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Genograma é um instrumento que deve ser utilizado para compreender as famílias, observando as estruturas internas e externas, podendo referenciar o futuro e demonstrar o passado, facilitando as interpretações alternativas da experiência familiar. O processo terapêutico utiliza o Genograma como ferramenta de suma importância, pois suas informações orientam a prática clínica, identifica vulnerabilidades, estrutura o planejamento das ações de saúde, promove a continuidade de cuidado. A construção de um Genograma tem por objetivo potencializar a comunicação, sistematização e organização do plano de cuidado de uma família, para que os profissionais de saúde da atenção básica possam ter maior eficiência no plano de cuidado das famílias. Nesse contexto, tal instrumento deve conter: dados pessoais, história clínica, padrões de relações familiares, símbolos que definam as relações interpessoais, data da sua realização. Para sua construção é necessário primeiramente um estudo aprofundado das interações da família estudada, principalmente, do seu paciente índice. O Genograma é uma representação gráfica da família que apresenta várias gerações, porém, além de características genealógicas inclui, também, as relações e interações familiares. Por isso, a eficiência desse instrumento é inquestionável, visto que ele é arquitetado sob as relações que unem uma família e as informações médicas e psicossociais que se ligam ao longo das gerações analisadas na fase presente de avaliação do cotidiano familiar, fato que lhe proporciona um enorme poder analítico sobre as mazelas que afetam a família estudada. Tais fatos possibilitam a criação de uma série de hipóteses sobre como o problema clínico da família pode conectar-se a um plano terapêutico criado pela equipe de saúde. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo: apresentar um genograma construído por discentes de medicina para um plano terapêutico visando uma melhor qualidade de vida para a família acompanhada. Método do estudo: Trata-se de um relato de experiência produzido por discentes de medicina do segundo período durante as práticas do Módulo de Atenção à Saúde II, componente obrigatório da grade curricular. O relato de experiência é um documento em que deve estar registrado todo percurso desenvolvido pelo aluno em sua experiência/vivência de estagio, de pesquisa de iniciação cientifica, de participação em movimento estudantil/associativo ou projeto de extensão. Os alunos foram divididos em grupos de duas e/ou três pessoas com a intenção de acompanharem famílias escolhidas previamente pela equipe de saúde de cada território, cenários das práticas do módulo supracitado. Cada grupo visitava uma família durante o semestre letivo para construírem vínculo e produzirem o Genograma e plano de cuidado para cada uma delas. A coleta de dados ocorreu no período de agosto a outubro de 2015 no território do Róger, bairro do município de João Pessoa-PB. Foram realizadas seis visitas, sendo a última para apresentação do Genograma e Plano de Cuidado para a equipe de saúde. Os alunos realizaram buscas na literatura para subsidiar o plano terapêutico, aliado às informações dos prontuários e ao diálogo com os profissionais da equipe. Apresentação da Experiência: as visitas eram realizadas a cada quinze dias, com objetivos traçados para que os discentes pudessem coletar os dados necessários para o genograma e poder, principalmente, criar vínculo com a família.  No primeiro dia, o objetivo era para conhecer a família. Utilizou-se por questões éticas, nomes fictícios para família acompanhada. Lá moravam quatro pessoas, sendo todos homens, dois irmãos e dois sobrinhos desses irmãos, todos já adultos ou idosos, sendo o mais novo com 42 anos e o mais velho com 80 anos. No segundo dia de visitas, o objetivo era coletar os dados pessoais dos integrantes da família, além disso, aferimos a pressão arterial dos mesmos. Todos os moradores da casa possuíam algum tipo de doença, uns mais graves, outros menos. Seu M.B.C., de 80 anos, tinha histórico de colesterol alto e hipertensão, e apresentava uma atrofia nos membros inferiores, o que lhe deixava com dificuldades de caminhar. Sua PA foi de 120x90 mmHg, apresentando uma pressão controlada por medicamentos e alimentação, fator esse que era comemorado por ele, visto que era hipertenso. Seu J.B.S., de 74 anos, é hipertenso e possuía um histórico de hipertrofia na próstata que nunca foi acompanhado por nenhum médico após o diagnóstico, pois afirma não querer se submeter mais ao exame de toque retal. Sua PA foi de 160x80 mmHg, mostrando que sua pressão estava alta. Ele relatou que costumava ingerir bebidas alcoólicas e às vezes não tomava a medicação por esquecimento. Dessa forma o paciente foi orientado sobre a importância do medicamento ser tomado regulamente para que evitasse problemas mais graves de saúde, assim como foi esclarecido sobre os malefícios da ingestão de bebidas alcoólicas. Seu J.S.C., de 42 anos, era o que apresentava mais patologias na casa, pois tinha: hipertensão, diabetes, e epilepsia, com recorrência de convulsões a cada 15 dias, mesmo ele afirmando tomar todos os remédios corretamente. Sua PA foi de 110x70 mmHg, mostrando estar controlada por meio dos seus medicamentos. Seu A.S.C., de 52 anos, era alcoólatra e apresentava quadros de depressão, segundo relato dos outros integrantes da família. Sua PA foi de 130x100 mmHg, mostrando estar um pouco alterada, porém, dentro da normalidade. No terceiro dia de visitas, o objetivo foi para identificar o tipo de família e sua funcionalidade. Dessa forma, a família foi classificada como sendo do tipo “outros”, adotando o referencial teórico de Ventura, pois não se encaixara em nenhum outro tipo de classificação (nuclear, alargada, monoparental, reconstruída e unitária). O grau de funcionalidade da família era disfunção moderada, pois havia pequenos atritos entre os irmãos e sobrinhos, muitas vezes por seus estilos de vida e por seus descuidados com a sua saúde. No quarto dia de visita, o objetivo foi para coletar alguns dados adicionais para construção do genograma, como data de nascimento e profissão dos integrantes da família, além de outras pessoas da terceira geração familiar, todavia, tivemos muita dificuldade de realizar essa busca, tendo em vista que os integrantes da casa não tinham amplo conhecimento dos seus familiares, pois todos mantinham uma relação distante com esses ou já haviam morrido. No quinto dia de visita o objetivo foi construir um plano de cuidado para os integrantes da família e, para tanto, orientamos quanto o uso dos medicamentos, o uso de equipamentos de proteção individual por seu J.S.C., já que ele era catador de latinhas, recomendamos quanto ao cuidado com os alimentos, para que os hipertensos e diabéticos tivessem menos complicações, além de tentar aproximar mais os integrantes da casa com os cuidados que a USF pode oferecê-los, pois muitos deles não realizavam exames há anos, o que se torna preocupante devido ao grande  número de doenças que eles possuem. No sexto dia de visita o objetivo foi apresentar o Genograma familiar junto à equipe de saúde. Para isso, confeccionou-se um banner com o genograma para apresentar a equipe da unidade de saúde e aos alunos de medicina que estavam presentes. Dessa forma, todos puderam ter uma visão de forma detalhada de todas as relações daquela família. CONSIDERAÇÕES FINAIS: a partir disso, poderão melhorar e direcionar um plano de cuidado satisfatório aos pacientes, se baseando nos relacionamentos e dificuldades que cada um possui. Com isso, ficou evidente a eficácia do genograma para a construção de um plano terapêutico de uma família.

Palavras-chave


Genograma; Família; USF; SUS; Plano Terapêutico

Referências


REBELO, Luís. Genograma Familiar. O bisturi do médico de família. Revista Portuguesa de Clínica Geral. N. 23, p. 309-317, 2007.

CERVENY, C. M. O. A família como modelo: influência da repetição de padrões internacionais das gerações anteriores nos problemas da família atual. Tese de doutorado – Pontifícia Universidade Católica – SR, 1994.

McGoldrick, M., & Gerson, R. Genetogramas e o ciclo de vida familiar (M. A. V. Veronese, Trad.). In B. Carter & M. McGoldrick, M. (Eds.). As mudanças no ciclo de vida familiar – Uma estrutura para a terapia familiar. (2. ed.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1995.