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O profissional de Educação Física na assistência à saúde no SUS: experiência do município de Campo Grande-MS
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
APRESENTAÇÃO: Nesse início de século XXI as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) representam um grave problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, o conjunto das DCNT é responsável por 72% dos óbitos no país, sendo que relatórios da Organização Mundial da Saúde destacam as doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias crônicas e diabetes, como aquelas com maior prevalência. Sabendo da gravidade desse quadro epidemiológico e seus impactos nos sistemas de saúde e na sociedade, o Ministério da Saúde do Brasil vem fortalecendo a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do enfrentamento dos fatores de risco modificáveis das DCNT, dentre os quais está o baixo nível de atividade física habitual da população. No município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, uma medida tomada pela gestão local foi a inserção de profissionais de Educação Física na Rede Municipal de Saúde (REMUS), visando a promoção de atividades físicas no âmbito do SUS. Considerando a situação mencionada, o objetivo do presente trabalho é descrever o processo de inserção de profissionais de Educação Física na assistência à saúde no SUS, no município de Campo Grande-MS, bem como as ações decorrentes dessa proposta. METODOLOGIA: Apoiada em dados epidemiológicos e fundamentada na PNPS, a Secretaria Municipal de Saúde Pública do Município de Campo Grande (SESAU), por meio da Atenção Básica à Saúde e da Vigilância Epidemiológica, iniciou no ano de 2005 a proposição de ações de promoção da saúde, utilizando-se das práticas corporais e atividades físicas como forma de intervenção nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF). O início da execução das práticas corporais e atividades físicas deu-se em maio de 2005, quando a gerência da UBSF Mário Covas, de comum acordo com gestores da SESAU, disponibilizou a sala de espera da unidade para o desenvolvimento de aulas de capoeira, ministradas por voluntários, em horário alternativo, das 17h30min. às 19h30min., duas vezes na semana e aos sábados. Tal atividade despertou o interesse da população adstrita naquela UBSF, em especial dos adolescentes. Ao final do primeiro mês de atividades, aproximadamente 20 pessoas frequentavam a UBSF para a prática das atividades físicas, sendo que nesse mesmo período agregou-se o desenvolvimento de oficinas de teatro e dança, ministradas por Arte-Educadores voluntários. As atividades foram direcionadas, prioritariamente, para dois grupos populacionais: adolescentes e idosos. Já em relação às condições clínicas de doenças, as atividades físicas foram mais procuradas por pessoas com hipertensão arterial, diabetes mellitus e obesidade. Passados poucos meses do início da intervenção com atividades físicas e práticas corporais, já havia participantes de quatro UBSF da região sul do município de Campo Grande. Com isso, um projeto foi encaminhado à SESAU e ao ser analisado pela Coordenação da Atenção Básica, foi prontamente encaminhado para setores responsáveis pela viabilização de recursos financeiros, visando a implementação daquilo que estava sendo executado e a implantação de novas ações. Esse projeto foi denominado “Projeto Viver Legal”. No início do ano de 2006 foi estabelecida parceria intersetorial com várias secretarias e fundações municipais, objetivando ampliar as ações do Projeto Viver Legal. Uma dessas ações foi a inclusão de profissionais de Educação Física, cedidos pela Fundação Municipal de Esportes, para o planejamento e execução de atividades físicas nas UBSF. A partir desse momento, passaram a fazer parte do rol de ações do projeto as intervenções de educação em saúde e caminhadas orientadas, as quais tiveram grande adesão, especialmente da população idosa cadastrada nas UBSF da região sul do município. No ano de 2007 a gestão da SESAU vislumbrou a possibilidade de captação de recursos por meio de um edital do Ministério da Saúde, que selecionaria projetos em todo o território nacional, voltados à vigilância e prevenção de doenças e agravos não transmissíveis, com ênfase em ações relacionadas às práticas corporais e atividades físicas. O Projeto Viver Legal concorreu e foi um dos selecionados, sendo contemplado com recursos que garantiram a continuidade do projeto naquele ano. Nesse mesmo período teve início a prática de avaliação física dos participantes do projeto. No ano de 2009 a SESAU adquiriu 10 Academias da Terceira Idade (ATI), para serem instaladas em área interna das UBSF do município. Com isso, a gestão municipal decidiu incorporar profissionais de Educação Física ao quadro de servidores efetivos da SESAU. Essa decisão resultou na nomeação e posse de profissionais de Educação Física que haviam realizado concurso público no ano de 2006 e que ainda estava em validade. Esses profissionais passaram a desenvolver ações nas UBSF com ATI, atendendo também novas demandas das unidades de saúde, a partir do diagnóstico que faziam junto às equipes da Estratégia de Saúde da Família, nos quatro distritos sanitários do município. Com a incorporação dos profissionais de Educação Física na SESAU, o conjunto de ações no âmbito das atividades físicas e práticas corporais foi ampliado. Desde o ano de 2010 passaram a ser desenvolvidas atividades específicas dos profissionais de Educação Física também nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), nos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), Centro de Especialidades Infantil (CEI) e Unidade Especializada em Reabilitação e Diagnóstico (UERD). Além das atividades já mencionadas, também passaram a ser oferecidas atividades de ginástica, fortalecimento muscular, condicionamento físico, diversos tipos de danças, exercícios da Medicina Tradicional Chinesa (Tai Chi Chuan; Lian Gong; Xiang Gong), intervenções no Programa Saúde na Escola (PSE) e apoio matricial. RESULTADOS: Ao final do ano de 2015, a rede municipal de saúde de Campo Grande conta com profissionais de Educação Física diretamente vinculados à saúde pública, os quais desenvolvem atividades em aproximadamente 35% das UBS ou UBSF do município, além de atuarem em outras unidades de atenção à saúde que compõem a REMUS, mas em menor proporção que na atenção básica. Consolidou-se na SESAU a Gerência Técnica de Atividade Física, responsável especificamente pelo planejamento, coordenação e execução das ações de promoção de atividades físicas no âmbito do SUS em Campo Grande, fato esse que pode ser compreendido como um reconhecimento da relevância dessas ações para o enfrentamento das DCNT no campo da saúde pública. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O SUS, por meio de seus princípios e diretrizes, vislumbra um atendimento holístico do ser humano, que seja voltado às pessoas e não às doenças, o que requer intervenções profissionais que não se restringem ao modelo biomédico tradicional. Com isso, a experiência de incluir profissionais de Educação Física no quadro efetivo da rede municipal de saúde de Campo Grande mostrou-se uma estratégia com grande aceitação por parte da população e com boas perspectivas para o controle de fatores de risco das DCNT. Nesse momento, passado o processo de implantação e consolidadas várias ações, parece ser natural a demanda por estudos que avaliem os efeitos da promoção de atividades físicas no âmbito do SUS em Campo Grande, de forma que se conheçam os fatores associados ao comportamento ativo ou sedentário da população atendida pela política pública de saúde no município. Com isso, a gestão municipal poderá dispor de dados que subsidiarão as decisões que envolvem o campo das atividades físicas e práticas corporais na REMUS, potencializando intervenções futuras nessa área. Para tanto, o caminho mais promissor parece ser a aproximação da SESAU com instituições de pesquisa.
Palavras-chave
promoção da saúde; exercício físico; sistema único de saúde.
Referências
Não foram incluídas citações e referências, conforme orientações contidas no site da Rede Unida.