Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM CUIDADOS PALIATIVOS: ENTRAVES E POSSIBILIDADES
Silvio Barros do Nascimento, Ana Géssica Costa Martins, Flavia Sônaria da Silva, Lucídio Clebeson de Oliveira, Tatiane Aparecida Queiroz, Francisca Patrícia Barreto de Carvalho, Clélia Albino Simpson, Deyla Moura Ramos Isoldi

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Introdução: O termo paliativo é derivado do latim pallium e significa manto, a terminologia envolve a ideia de proteger e amparar, quando a cura da doença já não é mais possível. Como o termo propõe, não deve se restringir aos últimos momentos de vida e sim promover o alívio do sofrimento durante todo o processo de enfrentamento de uma doença potencialmente fatal. Os cuidados paliativos superam o modelo assistencial tradicional, uma vez que são embasados em uma abordagem holística, humanizada, interdisciplinar e sem ações para antecipar ou atrasar a morte do paciente. A equipe de enfermagem é primordial para a realização destes cuidados, uma vez que desde a formação profissional desenvolve a capacidade de cuidar do outro, no entanto estes profissionais muitas vezes não desenvolvem uma assistência humanizada. A humanização configura-se em cuidado diferenciado e envolve compromisso, responsabilidade, respeito ao outro como sujeito, boa comunicação, orientação ao paciente e a família e, sobretudo, acolhimento. A Política Nacional de Humanização ressalta a importância da construção de posturas éticas e políticas por parte dos profissionais, qualificação dos vínculos entre os profissionais e destes com os usuários. Atualmente, os cuidados paliativos constituem uma questão de saúde pública e em nome da ética e da dignidade dos sujeitos é preciso torná-los uma realidade no país e no mundo. Objetivo: analisar a assistência de enfermagem a pacientes fora de possibilidades de cura em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Metodologia: A pesquisa é do tipo exploratória, de caráter descritivo e abordagem qualitativa. O estudo foi realizado na UTI de um hospital geral do Rio Grande do Norte (RN), com população corresponde à equipe de enfermagem, sendo a amostra composta por seis técnicos de enfermagem e três enfermeiros. Os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada, com perguntas elaboradas pela pesquisadora. O instrumento compreendeu o perfil da equipe de enfermagem, tipo de formação e tempo de trabalho na instituição. A coleta ocorreu no período de agosto a setembro de 2013. As entrevistas foram realizadas após a leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pelos participantes.  O presente estudo foi enviado e submetido à avaliação do Comitê de Ética e Pesquisa da FACENE/FAMENE e aprovado sob o parecer n° 410.683 e CAAE: 20854513.3.0000.5179. Resultados: Dentre os nove indivíduos da equipe de enfermagem que prestavam assistência na UTI, seis eram técnicos de enfermagem e três eram enfermeiros. O sexo predominante dos participantes foi o feminino, com 67% da amostra, e o sexo masculino representou 33%. Considerando a faixa etária dos profissionais, 22% tem entre 26 e 35 anos, outros 22% tem entre 36 e 45 anos e os demais, 44%, dos entrevistados tem entre 46 e 55 anos. Quanto ao estado civil, 67% dos entrevistados são casados, 11% solteiros e 11% divorciados. Quanto ao tempo de atuação no serviço, 33% dos entrevistados possui um tempo inferior à 3 anos, 11% possui de 4 à 14 anos de atuação, 33% tem o tempo de atuação no serviço de 15 à 24 anos e 22% dos entrevistados possui entre 25 e 34 anos de experiência. Os cuidados paliativos requerem mudança significativa na abordagem dos profissionais nos serviços de saúde para que, além de cuidar da vida, preocupem-se em cuidar do processo de morrer, haja vista o paciente está em situação de fim de vida e necessitar da amenização do sofrimento, bem como de cuidado humanizado e integral. Nas falas dos entrevistados, verificam-se as lacunas existentes nas respostas, evidenciando o vago conhecimento sobre o assunto abordado. Os profissionais enfatizam controle de aspectos físicos, no entanto não abordam a importância do diálogo com o paciente, os aspectos psicológicos ou espirituais que estão relacionadas à promoção da saúde, uma vez que não existe a criação do vínculo entre profissionais e paciente. A humanização em cuidados paliativos envolve o toque, o ouvir, o apoio psicológico, o respeito à dor do outro, segurar-lhe a mão e o confortar em diversas situações. Tais cuidados são essenciais na fase final, tanto ao paciente quanto aos familiares, sendo enfatizados por diversos pesquisadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Através das falas, observa-se que a equipe de enfermagem demonstra dificuldade e fragilidade na competência de realizar o cuidado humanizado e integral, proposto pela abordagem de cuidados paliativos, e volta-se para uma conduta de trabalho relacionada a sua formação profissional que costuma priorizar a cura e a saúde humana. As medidas terapêuticas desenvolvidas para os pacientes em cuidados paliativos envolvem atos de responsabilidade, solidariedade e dedicação, além de competências e habilidades relativas ao relacionamento interpessoal dos profissionais com os pacientes, assim a assistência e o cuidado devem ser pensados de forma mais abrangente e integral, possibilitando a superação da prática mecanizada e resgate da valorização da existência humana. A humanização do cuidado, pautada no acolhimento e a valorização da dignidade humana, perpassa pelo compromisso ético com os sujeitos nos quais é realizado o cuidado. Para tanto, exige-se além da modificação na postura profissional, alteração na atitude dos profissionais como seres humanos, no intuito de que compreendam, respeitem e acolham o sofrimento do outro. No contexto dos cuidados paliativos, a família também necessita do profissional de saúde para orientá-la e suprir suas necessidades. O conhecimento e a participação da família nos cuidados ao final da vida são conduzidos por meio da comunicação de notícias difíceis pela equipe de saúde, no entanto, quando existente, essa comunicação mostra-se muitas vezes ineficaz, acompanhada de informações duvidosas e imprecisas. Para a categoria da enfermagem, a comunicação constitui-se em estratégia de relevância na prática de cuidados paliativos, uma vez que a criação de vínculo com a família do paciente também facilita a comunicação de más notícias. Portanto, a família também precisa receber o cuidado, uma vez que auxilia nas atividades de cuidado ao paciente, configurando-se como fundamental uma assistência voltada para os familiares e para o paciente que envolva os aspectos biológicos, emocionais, sociais e espirituais. 

Palavras-chave


Cuidados Paliativos; Enfermagem; Humanização da Assistência

Referências


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