Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O PET-Redes como potente indutor de ações interprofissionais e reflexivas
Gabriele Lucas Ferrarezi, Juliane Seger Falcão, Alessandro Diogo De-Carli

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: O seguinte relato de experiência descreve o cotidiano das ações de duas acadêmicas de Odontologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), durante as atividades do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - Redes de Atenção (PET-Redes). Os encontros foram desenvolvidos no período de agosto de 2014 a março de 2015, no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) de Campo Grande (MS), sendo estas ações registradas em um diário de campo. O presente relato tem por objetivo chamar a atenção para a relevância da inserção de discentes na vivência de cenários de práticas como o CAPS-AD, em contato direto com os usuários e profissionais de saúde, gerando experiências para além do cotidiano acadêmico. Este tipo de oportunidade interfere na formação pessoal e profissional dos acadêmicos, além de aguçar a percepção destes para com as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Descrição da experiência O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-SAÚDE) foi direcionado às Instituições de Educação Superior (IES), abrangendo cursos de graduação da área da Saúde e as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, designado a fomentar o processo de ensino-aprendizagem, promovendo a Integração Ensino-Serviço-Comunidade (IESC), por meio da educação pelo trabalho com vistas ao fortalecimento do SUS¹. Nestas circunstâncias, o Ministério da Saúde publicou uma série de editais de PET-Saúde como parte integrante do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) que objetivou a conexão entre as instituições de ensino superior e o servidor público de saúde.² Inseridas neste contexto marcado pela pluralidade,  as atividades descritas neste trabalho foram contempladas durante as ações do PET- Redes/UFMS. Ao iniciarem as atividades do PET Redes/UFMS, com o convívio entre os estudantes, profissionais e pacientes nas oficinas terapêuticas durante o período de permanência no CAPS-AD, foi possível explorar a dinâmica interprofissional adotada neste espaço pelos atores envolvidos. Nessa perspectiva, o CAPS-AD disponibiliza um atendimento exclusivo para a atenção completa e continuada, oferecendo à população com necessidade de tratamento em virtude do uso de álcool, crack e outras drogas. O acompanhamento clínico tem como objetivo revigorar laços familiares e comunitários, reinserir o usuários possibilitando o acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis³. O PET-Redes/UFMS contou com uma equipe de acadêmicos nas áreas de: Enfermagem, Medicina, Farmácia, Nutrição e Odontologia; para o inicio das atividades, foram realizadas reuniões com os preceptores, acadêmicos, tutor e coordenador, assim como com outros membros do serviço de saúde, afim de pactuar e construir, colaborativamente, um roteiro de ações que contemplassem os objetivos do projeto e respondesse, também, às necessidades do serviço e dos usuários em questão. Como as demandas do serviço eram muitas, foram previstas ações interprofissionais, comuns a todos os acadêmicos, enquanto o desenvolvimento de certas atividades foi delegado a grupos específicos, conforme disponibilidade de horário dos estudantes. Aos acadêmicos de Odontologia,Enfermagem e Psicologia, coube o acompanhamento das oficinas terapêuticas, cujos temas foram muito abrangentes. Nestas oportunidades, houve a abordagem de orientações básicas à saúde, até discussões sobre paz, confiança e a maneira pela qual os pacientes reconhecem a própria identidade no presente. O início do debate era o mais embaraçoso, o primeiro depoimento sempre o mais árduo, em seguida as discussões seguiam com todos querendo compartilhar ideia e opiniões, e cada qual refletindo o que fosse necessário para o seu crescimento pessoal. Durante os debates, foi possível notar a batalha entre a razão e a emoção de cada um dos pacientes, que demonstravam solidariedade para ajudar o colega, que se emocionava ao desabafar suas fraquezas e sua luta contra o vício/recaídas. Foi de grande relevância estabelecer diálogos com os pacientes, especialmente quando se trata dos recém chegados, quando ainda é difícil aceitar que estão doentes e conversar sobre o assunto, pois o primeiro passo para iniciar o tratamento é o usuário reconhecer que está com problemas relacionados ao uso de determinadas substâncias, sendo elas lícitas/ilícitas, e precisa de ajuda. Nesse aspecto, ficou claro que o acompanhamento familiar é de suma importância durante o período de recuperação; percebemos que o familiar mais presente em todos os casos foi à mãe de cada um, e todos se apegam ao amor materno e se motivam para poder largar o vício,afim de recuperar a confiança dela. Havia diversas histórias de vida, cada paciente com sua particularidade, alguns compareciam ao CAPS-AD diariamente, pois buscavam uma melhora de vida, companhia, pois o tempo que permanecem sozinhos, funciona como uma brecha para recaídas, principalmente, nos casos em que estão sozinhos, sem a presença da família. Por outro lado, outros estavam presentes devido à ordem judicial ou imposição de algum parente próximo. O combate ao vício é constante e por isso as rodas terapêuticas são fundamentais para a retomada da ressocialização do usuário, dirimindo as desigualdades nas quais estes estão inseridos. Impactos: Os efeitos percebidos decorrentes da experiência No decorrer dos dias, o prejulgamento que tínhamos dos usuários ia se moldando a cada história de vida contada nas rodas de conversa. A visão equivocada que tínhamos anteriormente ao início das atividades do PET-Redes, de que as pessoas com problemas referentes ao uso de drogas lícitas/ilícitas estão marginalizadas, descuidadas, negligenciadas por vontade própria foi suplantada, o que tornou a experiência mais impactante. “Família”, sempre foi a palavra mais pronunciada durante as rodas de conversa terapêuticas, a ausência dela ou a sua desestruturação, frequentemente foi relacionada como estopim para o início do caos e a entrada no mundo dos entorpecentes. A fragilidade psicológica dos usuários tornou as conversas mais minuciosas e detalhadas, fazendo necessária a presença de profissionais com sensibilidade aguçada para compreender e acolher tais sujeitos com a dignidade que se faz necessária para a retomada da vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através das vivências no CAPS-AD fomos apresentadas à situações com as quais dificilmente nos depararíamos se nossas atividades ficassem restritas aos muros acadêmicos. Dessa forma, o PET-Redes foi importante para nossa formação, tendo em vista que saímos dessa experiência vendo o problema da utilização das drogas com outro olhar, mais atentos ao ser humano e dispostos a entender a complexidade que será trabalhar na área da saúde, futuramente.

Palavras-chave


educação; odontologia; atenção psicosocial;

Referências


¹Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Portaria Interministerial MS/MEC nº. 1.802/08, de 29 de abril de 2009. Destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial no âmbito da Estratégia Saúde da Família. [portaria na internet] [acesso em 02 setembro 2015] Disponível em: http://www.prosaude.org/noticias/prosaude-maio2009/resumoPET-SAUDE-29-04-09.pdf

 

2Duarte MLC, Ferreira AM, Torres OM, Bulhosa M, Moreira CM. Programa de educação pelo trabalho: relato de experiência sobre a formação de trabalhadores.Cogitare Enfermagem 2014; 19(1): 166-169

 

³Observatório Crack, é possível vencer [homepage na internet]. Centro de Atenção Psicossocial- CAPS Àlcool e Drogas 24horas [acesso em 06 setembro 2015]. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/observatoriocrack/cuidado/centro-atencao-psicossocial.html