Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PARTICIPAÇÃO, ALEGRIA, VÍNCULO, PESSOALIDADE E RESPEITO: ADOLESCENTES, FAMILIARES, PROFISSIONAIS DA SAÚDE E DA EDUCAÇÃO SE LIGAM NO #TAMOJUNTO
Eduardo Caron, Adriana Simonsen, Carla Cristina Santiago dos Santos, Ana Lucia Comino Funari, Claudete Pereira Rocha Guarnieri, Thiago de Oliveira Santos, Diego Roberto Cassimiro, Denise Souza Santos

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: Visto como público de risco, principalmente nas áreas de maior vulnerabilidade social, o adolescente sofre discriminação de várias ordens. Pesa sobre o jovem das periferias um preconceito relacionado a doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce, uso de álcool e outras substâncias, e até mesmo criminalidade, expresso nos apelos pela redução da maioridade penal. O público adolescente é o mais distante das Unidades Básicas de Saúde e trabalhar com a adolescência requer lidar com essa situação de iniquidade. Apresentamos uma experiência de prevenção de uso e abuso substâncias que envolve a participação jovens de 13 a 15 anos, alunos dos 8os anos do ensino fundamental, pais, familiares e comunidade, junto com profissionais das UBS e de Escolas Estaduais, realizada em 5 territórios no município de Taboão da Serra – SP em 2014 e 2015. Integrado na área metropolitana da Grande São Paulo, com uma população de 252 mil habitantes, a segunda maior densidade demográfica do país, apresenta grandes áreas com perfil de vulnerabilidade social típico da periferia dos grandes centros urbanos. O tema da prevenção ao uso e abuso de substâncias requer abordagens inovadoras alternativas aos métodos tradicionais verticalizados, focados na abstinência e baseados em preceitos morais. Abordagens que tenham em vista fatores pessoais, familiares e sociais que atravessam a adolescência, e deem conta de uma pluralidade de hábitos e comportamentos, onde o consumo de substâncias se faz presente, principalmente bebidas alcoólicas. O Programa #Tamojunto trabalha com habilidades de vida, recursos protetivos pessoais e protagonismo, bem como de fortalecimento de espaços de pertencimento coletivos, comportamento cooperativo e de respeito. As ações fortalecem o vínculo entre os jovens, entre professor/educando, saúde/educação, gestão local/trabalhador da ponta, como fator de construção de uma rede de proteção social. O programa apoia-se na parceria entre Secretaria Municipal de Saúde, Ministério da Saúde, Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e Diretoria Regional de Ensino. Estes atores são responsáveis pela formação continuada dos profissionais implementadores e por ações de acompanhamento e avaliação processual.   DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A base do trabalho é o território ao qual pertence uma UBS e uma escola estadual. O grupo intersetorial de trabalho, que faz o planejamento e avalia processos em conjunto é composto por gestores, enfermeiros, psicólogos, agentes comunitários de saúde, professores, coordenadores pedagógicos e diretores escolares. O professor e o profissional de saúde saem do lugar de transmissores de conteúdo e detentores de um saber e trabalham como mediadores de uma produção horizontal, relacionando-se com os alunos e familiares numa prática dialógica de respeito e cooperação. O #Tamojunto propõe ações em dois grandes eixos: 1) Encontros nas escolas, geralmente fora da sala de aula, que os alunos chamam de “Projeto”. A implementação das atividades com os alunos é responsabilidade do professor. 2) Oficinas de Pais e Responsáveis. A implementação destas oficinas é de responsabilidade compartilhada entre profissionais das UBSs e escolas. Encontros dos alunos: Nos encontros entre alunos e professores são utilizadas técnicas que favorecem a troca de experiências, a formação de vínculos, a experimentação de novas amizades. Inicialmente as expectativas conjuntas são trabalhas levando à produção de regras coletivas e de um ambiente seguro, no qual o respeito e o sigilo são fatores indispensáveis. A metodologia desses encontros é composta por dinâmicas em grupo, dramatizações temáticas, atividades em pequenos grupos e debates em roda envolvendo questões sobre socialização, família e comportamento. Essas ferramentas favorecem brincadeiras, atenção ao outro, aproximação e contato, autoexpressão, integração, coordenação e o conhecimento de outros pares. Os alunos produzem um diário individual relativo aos temas dos encontros. Temas: Grupalidade, expectativas, códigos de adesão e exclusão; Fatores de proteção e risco; Crenças Normativas; Assertividade e respeito; Apreciação de qualidades positivas em si e nos outros Expressão de sentimentos; Criatividade e solução de problemas; Projetos de vida. Oficinas de pais: As oficinas configuram-se como um espaço de troca, no qual os temas são elaborados em roda e os profissionais da saúde e da educação ocupam a posição de facilitadores. A metodologia utilizada é composta por dinâmicas, dramatizações, debates e atividades em pequenos grupos, e tem como objetivo o estreitamento de vínculos e o desenvolvimento de fatores de proteção grupais e comunitários. Temas: Como é um adolescente? Dificuldades de pais Fatores de risco e proteção Memórias da juventude Mudanças de papéis familiares com o crescimento dos filhos Comunicação, Assertividade, Negociação Permissividade, Autoritarismo, Superproteção, Distanciamento. RESULTADOS: Produção de Cuidado: O compartilhamento entre UBS e escola produz uma rede de apoio territorial. Profissionais da escola passam a solicitar apoio do psicólogo da UBS para lidar com casos difíceis. O encaminhamento de alunos para atendimento na UBS é facilitado e abre a possibilidade de um trabalho de promoção de saúde e prevenção à gravidez e DSTs. A participação de Agentes Comunitárias nas oficinas de pais propicia uma maior proximidade com a comunidade, favorecendo a formação de vínculos e consequente ampliação da atenção das equipes de Saúde da Família como promotoras de saúde.   Vida escolar: Os alunos valorizam a experiência no #Tamojunto, o que gera motivação e vontade de participar. Dessa maneira o absenteísmo diminui e a escola passa a ter um significado diferente para os adolescentes. O aluno fica mais participativo também nas aulas regulares uma vez que a aproximação com os professores em um contexto diferente facilita a criação de vínculos. A relação aluno-professor se transforma, gerando maior receptividade por parte dos alunos, tornando-os mais cooperativos e interessados. O #Tamojunto proporciona vivências cooperativas, nas quais professor também aprende, muda a maneira de enxergar os alunos e perceber suas habilidades e potencialidades. Olhado pelo professor, o aluno passa a valorizar-se e desperta para suas próprias qualidades como agente de sua vida. Despertam, assim, iniciativas criativas, individuais e grupais, como a confecção dos cartazes e convites para as oficinas de pais, gravação de videoclipe com participação coletiva, criação de músicas e descoberta de novos interesses. O espaço protegido de confiança criado pelo #Tamojunto promove o compartilhamento de experiências pessoais, estimulando a vinculação entre os alunos e formando uma rede de apoio protetiva. Relações familiares: Os alunos se sensibilizam em relação às questões familiares compartilhadas, mudando a forma de se relacionar em casa por meio de conversas com os pais sobre o projeto, passando a convidá-los para as Oficinas de pais. As reuniões de pais na escola são geralmente associadas a aspectos negativos da educação como notas baixas, faltas e problemas de comportamento dos filhos. Dessa maneira os alunos sentem-se desestimulados a convidar os pais para virem à escola. A participação dos pais nas oficinas somada à nova percepção dos alunos ajuda superar essas barreiras e mudar o significado da escola para esses pais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Não somente os implementadores da saúde e da educação se surpreendem com os resultados alcançados, mas os próprios alunos percebem as transformações ocorridas na escola e nas suas vidas. O conjunto de interações, parcerias e vinculações entre uma pluralidade de atores – adolescentes, familiares, pessoas da comunidade, professores, psicólogos, enfermeiros, agentes comunitários, coordenadores pedagógicos, gestores de escolas e de unidades de saúde – favorece a construção de uma rede de proteção social com efeitos de prevenção, dentre outras vulnerabilidades, nos comportamentos abusivos de uso de substâncias.

Palavras-chave


educação permanente em saúde; prevenção do abuso de drogas; intersetorialidade saúde-educação