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A CONSTRUÇÃO DE UMA HORTA COMUNITÁRIA COMO PROCESSO DE EDUCAÇÃO POPULAR PARA PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Última alteração: 2015-10-31
Resumo
O Programa de Extensão Universitária “Práticas Integrais da Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)”, vinculado ao Departamento de Nutrição e ao Departamento de Promoção da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atua desde 2007 comas comunidades Boa Esperança, Pedra Branca e Jardim Itabaiana no bairro do Cristo Redentor em João Pessoa – PB, desenvolvendo ações orientadas pela metodologia da Educação Popular com foco na Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e na Promoção da Saúde. O Programa está configurado em diferentes frentes de atuações, que buscam a promoção de processos emancipatórios e da autonomia dos sujeitos por meio da problematização da realidade local em espaços de construção compartilhada do saber e de trabalhos sociais. Dentre os diversos grupos, estão: HiperDia, Puericultura, Saúde mental, Espaço de diálogo(Conselho Local de Saúde) e a Horta Comunitária, a qual se localiza na nascente do Rio Jaguaribe. A construção da Horta se apresenta como espaço fundamental na promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, ocorrendo através de atividades educativas e de momentos de cultivo, cuidado e manutenção da Horta e seus produtos (ervas, plantas medicinais, frutas, legumes e hortaliças), a partir de abordagens que incentivam o diálogo e a construção compartilhada. O planejamento das ações e organização das ações de apoio do Programa à Horta ocorre através de reuniões semanais tanto na UFPB, como na Comunidade, onde se envolve a participação de estudantes e professores da extensão, profissionais de saúde das equipes de saúde da Unidade de Saúde da Família (USF) Vila Saúde (principalmente agentes comunitários de saúde), moradores e educadoras populares comunitárias, as quais compõe a coordenação comunitária do PINAB. As ações semanais na Horta Popular Boa Esperança (um nome escolhido pela própria comunidade) se caracterizam como atividades de cuidado com a terra, semeação, colheita, formação de canteiros com garrafas pet e limpeza do terreno, realizados pelos estudantes da extensão, moradores da comunidade (principalmente crianças e idosos) e um educador ambiental popular (membro do Movimento Popular de Saúde da Paraíba), com o objetivo de estimular o trabalho coletivo e a mobilização social. Dentre outras formas de mobilização presentes no espaço da Horta, destacamos a realização de mutirões para retirada do excesso de lixo nas proximidades da nascente do Rio Jaguaribe, que rodeia o espaço da Horta, onde também são acondicionados materiais dos catadores de reciclagem. Nesse sentido, foram feitas rodas de conversa com a população, com os catadores e com órgãos públicos que lidam com a questão do lixo e meio ambiente, como forma de problematizar a realidade local, propiciando a inclusão de indivíduos em assuntos comunitários e a buscando por melhorias no ambiente em que vivem. Também se desenvolvem, no contexto da Horta, estratégias divulgação desse espaço, de maneira contínua, pois a comunidade necessita de estímulo à participação e de maior divulgação sobre a proposta da Horta e seu potencial na construção da saúde e da qualidade de vida, demonstrando os potenciais e benefícios da horta. Como atividades educativas, foram realizadas oficinas de produção de chás e de lambedor, em que os diferentes sujeitos compartilharam saberes sobre os benefícios das diversas ervas e plantas medicinais cultivadas na própria horta, estimulando as mesmas a se preocuparem com a saúde, atraindo a participação de crianças. Tais momentos se configuraram como um ponto positivo, mostrando a importância de uma alimentação adequada, com alimentos de qualidade, formando assim cidadãos comprometidos com uma melhor alimentação. Outra oficina desenvolvida foi a de produção de sabão ecológico, em que, além da sua elaboração, foram problematizadas as questões ambientais causadas pelo descarte de óleo na natureza. Durante a atividade foram pensadas estratégias para o cuidado do meio ambiente. Além dessas atividades, ocorriam dinâmicas de integração e rodas de conversa, incentivando a valorização dos saberes dos sujeitos e a construção do vínculo afetivo, como pressuposto fundante do diálogo para a construção participativa do trabalho social. Um dos desafios que encontramos ainda nas nossas ações foi a tímida e inconstante participação da comunidade, devido à inúmeras questões como as fragilidades socioculturais, os problemas de segurança, além dos preconceitos vivenciados pelos próprios moradores, além da descrença nas alternativas e possibilidades de mudança social, sendo necessário tempo para que as pessoas quebrem as barreiras, acreditem nas propostas do Programa e se empoderem do papel social e dos benefícios presente nessas ações. Após as reflexões dessas ações, podemos perceber a importância da mobilização popular e do protagonismo da população na construção de esforços e trabalhos sociais compromissados com o enfrentamento da fome e da pobreza, incentivando a participação em espaços para exercícios emancipatórios na comunidade. Aprendemos, no caminho, que a participação comunitária precisa ser construída gradativamente, com cautela e entendimento dos desafios e situações-limite vivenciados pelos próprios moradores, como também os expostos pelo próprio ambiente. Como uma das estratégias para melhorar a participação, temos buscado intensificar o diálogo com a equipe de saúde da família, integrando, no contexto da Horta, os esforços dos trabalhadores da atenção primária em saúde. A Horta é de fácil acesso e sua manutenção de baixo custo. Contribui na valorização da cultura e do saber local, com o cultivo de ervas medicinais, reduzindo o uso abusivo de medicamentos alopáticos, e intensificando cada vez mais a participação da população local. Dentre outros resultados, podemos destacar a apropriação e o sentimento de pertencimento por parte da equipe de saúde do território, no qual destacamos os residentes de saúde da família, os médicos e os agentes comunitários de saúde, que contribuem diariamente no processo de divulgação do espaço, incentivando os usuários a terem hábitos de vidas saudáveis através do próprio plantio do alimento. Com essa experiência é possível perceber que é fundamental a existência de um espaço coletivo de aprendizado e de integração, em que todos os atores possuam voz e possam contribuir, opinar, e construir em conjunto um ambiente participativo e dialógico na busca por uma melhor qualidade de vida, além de ser um espaço estratégico de promoção da saúde, uma vez que são cultivadas ervas medicinais utilizadas como fitoterápicos e diversos tipos de frutas e vegetais sem uso de agrotóxico e fertilizantes, contribuindo no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis. Frente ao exposto, as ações na Horta Comunitária foi o espaço que mais contribuiu para viabilizar o aumento qualificado dos participantes da própria comunidade, em vista que este espaço foi construído com eles e para eles. Podendo, dessa forma, estimular com os mesmos um pensamento crítico e otimista sobre o modo de vida que levam,contribuindo diretamente para fortalecer o papel protagônico da comunidade, sensibilizando seus participantes para a importância da responsabilidade e do compromisso social. Para os estudantes da extensão, além de uma formação humanizada, como futuros profissionais, tendo em vista a experiência adquirida através da realidade vivenciada nas camadas populares da população, o significado pedagógico e pessoal desta experiência contribuiu para desenvolver o senso crítico, compreensivo, participativo e democrático, enquanto cidadãos.
Palavras-chave
participação, autonomia, saúde