Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A CONSTRUÇÃO DE UMA HORTA COMUNITÁRIA COMO PROCESSO DE EDUCAÇÃO POPULAR PARA PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Maria José Pereira Tavares, Jéssica de Lima Spinellis de Carvalho, Ana Paula Maia Espíndola Rodrigues, Reginaldo Ferreira de Lima Júnior, Islany Costa Alencar, Pedro José Santos Carneiro Cruz

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


O Programa de Extensão Universitária “Práticas Integrais da Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)”, vinculado ao Departamento de Nutrição e ao Departamento de Promoção da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), atua desde 2007 comas comunidades Boa Esperança, Pedra Branca e Jardim Itabaiana no bairro do Cristo Redentor em João Pessoa – PB, desenvolvendo ações orientadas pela metodologia da Educação Popular com foco na Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e na Promoção da Saúde. O Programa está configurado em diferentes frentes de atuações, que buscam a promoção de processos emancipatórios e da autonomia dos sujeitos por meio da problematização da realidade local em espaços de construção compartilhada do saber e de trabalhos sociais. Dentre os diversos grupos, estão: HiperDia, Puericultura, Saúde mental, Espaço de diálogo(Conselho Local de Saúde) e a Horta Comunitária, a qual se localiza na nascente do Rio Jaguaribe. A construção da Horta se apresenta como espaço fundamental na promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável, ocorrendo através de atividades educativas e de momentos de cultivo, cuidado e manutenção da Horta e seus produtos (ervas, plantas medicinais, frutas, legumes e hortaliças), a partir de abordagens que incentivam o diálogo e a construção compartilhada. O planejamento das ações e organização das ações de apoio do Programa à Horta ocorre através de reuniões semanais tanto na UFPB, como na Comunidade, onde se envolve a participação de estudantes e professores da extensão, profissionais de saúde das equipes de saúde da Unidade de Saúde da Família (USF) Vila Saúde (principalmente agentes comunitários de saúde), moradores e educadoras populares comunitárias, as quais compõe a coordenação comunitária do PINAB. As ações semanais na Horta Popular Boa Esperança (um nome escolhido pela própria comunidade) se caracterizam como atividades de cuidado com a terra, semeação, colheita, formação de canteiros com garrafas pet e limpeza do terreno, realizados pelos estudantes da extensão, moradores da comunidade (principalmente crianças e idosos) e um educador ambiental popular (membro do Movimento Popular de Saúde da Paraíba), com o objetivo de estimular o trabalho coletivo e a mobilização social. Dentre outras formas de mobilização presentes no espaço da Horta, destacamos a realização de mutirões para retirada do excesso de lixo nas proximidades da nascente do Rio Jaguaribe, que rodeia o espaço da Horta, onde também são acondicionados materiais dos catadores de reciclagem. Nesse sentido, foram feitas rodas de conversa com a população, com os catadores e com órgãos públicos que lidam com a questão do lixo e meio ambiente, como forma de problematizar a realidade local, propiciando a inclusão de indivíduos em assuntos comunitários e a buscando por melhorias no ambiente em que vivem. Também se desenvolvem, no contexto da Horta, estratégias divulgação desse espaço, de maneira contínua, pois a comunidade necessita de estímulo à participação e de maior divulgação sobre a proposta da Horta e seu potencial na construção da saúde e da qualidade de vida, demonstrando os potenciais e benefícios da horta. Como atividades educativas, foram realizadas oficinas de produção de chás e de lambedor, em que os diferentes sujeitos compartilharam saberes sobre os benefícios das diversas ervas e plantas medicinais cultivadas na própria horta, estimulando as mesmas a se preocuparem com a saúde, atraindo a participação de crianças. Tais momentos se configuraram como um ponto positivo, mostrando a importância de uma alimentação adequada, com alimentos de qualidade, formando assim cidadãos comprometidos com uma melhor alimentação. Outra oficina desenvolvida foi a de produção de sabão ecológico, em que, além da sua elaboração, foram problematizadas as questões ambientais causadas pelo descarte de óleo na natureza. Durante a atividade foram pensadas estratégias para o cuidado do meio ambiente. Além dessas atividades, ocorriam dinâmicas de integração e rodas de conversa, incentivando a valorização dos saberes dos sujeitos e a construção do vínculo afetivo, como pressuposto fundante do diálogo para a construção participativa do trabalho social. Um dos desafios que encontramos ainda nas nossas ações foi a tímida e inconstante participação da comunidade, devido à inúmeras questões como as fragilidades socioculturais, os problemas de segurança, além dos preconceitos vivenciados pelos próprios moradores, além da descrença nas alternativas e possibilidades de mudança social, sendo necessário tempo para que as pessoas quebrem as barreiras, acreditem nas propostas do Programa e se empoderem do papel social e dos benefícios presente nessas ações. Após as reflexões dessas ações, podemos perceber a importância da mobilização popular e do protagonismo da população na construção de esforços e trabalhos sociais compromissados com o enfrentamento da fome e da pobreza, incentivando a participação em espaços para exercícios emancipatórios na comunidade. Aprendemos, no caminho, que a participação comunitária precisa ser construída gradativamente, com cautela e entendimento dos desafios e situações-limite vivenciados pelos próprios moradores, como também os expostos pelo próprio ambiente. Como uma das estratégias para melhorar a participação, temos buscado intensificar o diálogo com a equipe de saúde da família, integrando, no contexto da Horta, os esforços dos trabalhadores da atenção primária em saúde. A Horta é de fácil acesso e sua manutenção de baixo custo. Contribui na valorização da cultura e do saber local, com o cultivo de ervas medicinais, reduzindo o uso abusivo de medicamentos alopáticos, e intensificando cada vez mais a participação da população local. Dentre outros resultados, podemos destacar a apropriação e o sentimento de pertencimento por parte da equipe de saúde do território, no qual destacamos os residentes de saúde da família, os médicos e os agentes comunitários de saúde, que contribuem diariamente no processo de divulgação do espaço, incentivando os usuários a terem hábitos de vidas saudáveis através do próprio plantio do alimento. Com essa experiência é possível perceber que é fundamental a existência de um espaço coletivo de aprendizado e de integração, em que todos os atores possuam voz e possam contribuir, opinar, e construir em conjunto um ambiente participativo e dialógico na busca por uma melhor qualidade de vida, além de ser um espaço estratégico de promoção da saúde, uma vez que são cultivadas ervas medicinais utilizadas como fitoterápicos e diversos tipos de frutas e vegetais sem uso de agrotóxico e fertilizantes, contribuindo no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis. Frente ao exposto, as ações na Horta Comunitária foi o espaço que mais contribuiu para viabilizar o aumento qualificado dos participantes da própria comunidade, em vista que este espaço foi construído com eles e para eles. Podendo, dessa forma, estimular com os mesmos um pensamento crítico e otimista sobre o modo de vida que levam,contribuindo diretamente para fortalecer o papel protagônico da comunidade, sensibilizando seus participantes para a importância da responsabilidade e do compromisso social. Para os estudantes da extensão, além de uma formação humanizada, como futuros profissionais, tendo em vista a experiência adquirida através da realidade vivenciada nas camadas populares da população, o significado pedagógico e pessoal desta experiência contribuiu para desenvolver o senso crítico, compreensivo, participativo e democrático, enquanto cidadãos.

Palavras-chave


participação, autonomia, saúde