Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS MAIS PREVALENTES ENTRE MULHERES PORTADORAS DE TRANSTORNOS MENTAIS E A PROCURA POR UM SERVIÇO DE PLANEJAMENTO FAMILIAR
Elis Muriel Marques Monti, Gislaine Eiko Kuahara Camiá

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


INTRODUÇÃO: Os transtornos mentais são diferentes na idade adulta para homens e mulheres. A mulher apresenta vulnerabilidade marcante a sintomas ansiosos e depressivos, especialmente associados ao período reprodutivo, sendo a depressão a doença que mais causa incapacitação e o suicídio, a segunda causa de morte no mundo entre 15 e 44 anos de idade(1). Há diferenças nas prevalências de alguns quadros mentais, no curso e prognóstico das doenças, comorbidades mais frequentes e, sobretudo, naqueles transtornos que parecem estar mais intimamente ligados ao ciclo reprodutivo feminino(2). A sexualidade das mulheres portadoras de transtornos mentais é um tema controverso, pois é comum pensar que são exibicionistas e exacerbam a sua sexualidade ou que são seres assexuados. Deve-se reconhecer sua sexualidade como uma pessoa normal, que sente, apaixona-se e ama como qualquer pessoa, tendo necessidade de se expressar sexualmente(3). Em estudo realizado com enfermeiros de hospitais psiquiátricos, constatou-se a negação da sexualidade do portador de transtorno mental, demonstrando as manifestações de sexualidade presenciadas nas unidades psiquiátricas como desvio, transgressão ou doença(4). Lidar com a sexualidade dessa população faz parte das atividades do enfermeiro que deve ter conhecimentos técnicos, científicos e culturais atualizados para atender a demanda de saúde sexual e reprodutiva(4,5). Vale ressaltar que, as mulheres portadoras de transtornos mentais são mais vulneráveis à gravidez não planejada, sendo sua ocorrência elevada devido à frequente falta de crítica, de autonomia e do controle do próprio comportamento, além da possível interação medicamentosa entre psicotrópicos e anticoncepcionais hormonais. A contracepção para essa população deve levar em consideração um método no qual o seu uso independa do controle pessoal (anticoncepcional hormonal injetável, dispositivo intrauterino e laqueadura), porém a conduta ética apropriada a essas mulheres pressupõe o respeito aos seus direitos sexuais e reprodutivos. Por isso é importante um atendimento em planejamento familiar específico e integral a essa população a fim de promover um atendimento adequado e efetivo(6). OBJETIVOS: Identificar os métodos contraceptivos mais utilizados por mulheres com transtornos mentais e verificar a procura por um serviço de planejamento familiar. MÉTODO: Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal e documental, onde foram utilizados prontuários e entrevistas com mulheres do Hospital-Dia Geral (HDG) de um Centro de Atenção em Saúde Mental localizado na zona sul de São Paulo. O estudo foi realizado através de dados dos prontuários e entrevistas com usuárias do serviço, no período de 04 a 30 de abril de 2013. A amostra foi constituída por 10 mulheres com os seguintes critérios de inclusão: ser portadora de transtorno mental com idade entre 20 e 40 anos, com matrícula no serviço. Foram excluídas as adolescentes devido à especificidade do planejamento familiar para esse grupo. Os dados foram coletados após a autorização dos responsáveis pelo serviço e das usuárias e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da instituição, sob o parecer de nº 234.770/13. Foi utilizado um instrumento específico, composto de dados de identificação, história ginecológica, obstétrica e psiquiátrica. As entrevistas foram realizadas individualmente e em local reservado. RESULTADOS: Das entrevistadas, 70% tinham idade entre 26 e 35 anos, todas eram solteiras, brasileiras, não realizavam atividade remunerada e residiam com familiares; 40% possuíam o ensino médio completo, 20% ensino fundamental incompleto, 20% ensino médio incompleto e 20% superior incompleto. Em relação ao transtorno mental, 80% com diagnóstico de esquizofrenia, 10% de transtorno afetivo bipolar e 10% outros transtornos (psicose não orgânica, não especificada e retardo mental). Em relação ao tratamento psiquiátrico, 70% com história de tratamento e internação psiquiátrica, 50% faziam tratamento psiquiátrico há mais de 11 anos e 90% acompanhamento no HDG há mais de um ano. Em relação à história sexual, 70% referiram coitarca após 17 anos, 29% mães com gestações não planejadas; 43% relataram, espontaneamente, história de abuso sexual por familiares. Quanto ao uso anterior de métodos anticoncepcionais: 43% nunca utilizaram algum método contraceptivo e 29% haviam utilizado somente preservativo masculino, 14% com anticoncepcional hormonal oral e 14% com anticoncepcional hormonal injetável. Quanto ao uso atual de métodos anticoncepcionais: 72% não utilizavam nenhum método, 14% faziam uso de anticoncepcional hormonal oral e 14% de anticoncepcional hormonal injetável. O uso da contracepção de emergência representou 43%. Todas as mulheres do estudo nunca frequentaram um serviço de planejamento familiar e nos prontuários não foram encontrados registros sobre contracepção. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As mulheres portadoras de transtornos mentais relataram que nunca frequentaram um serviço de planejamento familiar e nunca procuraram os serviços das Unidades de Saúde para falarem sobre concepção, anticoncepção e sexualidade. Quanto ao uso atual de métodos anticoncepcionais, 72% não utilizavam nenhum contraceptivo no momento da pesquisa, dado preocupante, por estarem mais vulneráveis à gravidez não planejada, 14% uso de anticoncepcional oral e injetável com mesmo porcentual. Diante desse panorama, verifica-se a necessidade de serviços em planejamento familiar específico para as mulheres portadoras de transtornos mentais, assegurando igualdade de direitos sexuais e reprodutivos, por meio de práticas educativas em anticoncepção, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de situações de abuso sexual, além da abordagem em aspectos da saúde integral, envolvendo as usuárias e seus familiares.

Palavras-chave


mulheres; transtornos mentais; planejamento familiar

Referências


1. Andrade LHSG, Viana MC, Silveira CM. Epidemiologia dos transtornos psiquiátricos na mulher. Rev. Psiquiatr. Clín. São Paulo, 2006; 33(2).

2. Tuono VL, Jorge MHPM, Gotlieb SLD, Laurenti R. Transtornos mentais e comportamentais nas mortes de mulheres em idade fértil. Epidemiol. Serv. Saúde. Brasília, 2007 jun; 16(2).

3. Moura ERF, Guedes TG, Freire AS, Bessa AT, Braga VA, Silva RM. Planejamento familiar de mulheres com transtorno mental: o que profissionais do CAPS têm a dizer. Rev. Esc. Enferm. USP. São Paulo, 2012 ago; 46(4).

4. Miranda FAN, Furegato ARF. Percepções da sexualidade do doente mental pelo enfermeiro. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, 2002 mar/abr; 10(2).

5. Moura ERF, Silva, RM.  Competência profissional e assistência em anticoncepção. Rev. Saúde Pública. São Paulo, 2005 out; 39(5).

6. Guedes TG, Moura ERF, Almeida PC. Particularidades do planejamento familiar de mulheres portadoras de transtorno mental. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Ribeirão Preto, 2009 set/out; 17(5).