Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Experiência profissional junto às pessoas vivendo e convivendo com HIV/Aids: Uma análise a partir do estágio obrigatório em Serviço Social no SAE/ Campina Grande/PB
Milca Oliveira Clementino

Última alteração: 2015-10-23

Resumo


No Brasil, o  serviço social é uma profissão que completa mais de oitenta anos surge mais precisamente na passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, os fundamentos da gênese dessa  profissão se deu devido a necessidade de um profissional que lidasse com as expressões da questão social que emergiam no momento.  A profissão se consolidou no interior das lutas de classe e tem a realidade social e seus agravantes sociais como objeto de intervenção profissional. As demandas vindas a esta profissão são as mais variadas possíveis, decorrentes de uma sociedade desigual e com graves problemas sociais. Particularmente no campo da saúde, a ação do profissional de serviço social incide sobre o processo saúde/doença da população, exigindo de tal profissional uma intervenção qualificada na perspectiva de contribuir para efetivação dos direitos sociais de cidadania dos usuários de tais serviços. O presente trabalho busca descrever a experiência do trabalho do assistente social junto às pessoas que vivem e convivem com HIV/Aids (PVHA) em tratamento no Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids e hepatites virais (SAE) do município de Campina Grande-PB, destacando desafios e possibilidades dessa atuação, a partir da experiência de estágio obrigatório (período de julho de 2012 à julho de 2014), obtida durante o processo de graduação em serviço social pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). No que concerne ao estágio supervisionado em serviço social, importa referir que este é de suma importância para a formação, pois é neste espaço de desafios e contradições que o aluno irá ter o primeiro contato prático com a profissão escolhida, as atividades e atribuições desenvolvidas buscam interligar teoria e prática. Ao chegar ao estágio, o aluno se depara com situações que muitas vezes  não são perceptíveis na universidade, estamos cheios de sensações,  ansiedade, angústias, inquietações e dúvidas quanto ao fazer profissional. No tocante a isso, também estamos inquietos para agir, buscar viabilizar direitos, orientar, ou seja, por em ação, o que foi  discutido e aprimorado em sala de aula[1]. Sendo uma profissão de caráter generalista, o profissional de serviço social se insere em diversas políticas públicas com destaque para a assistência social, saúde, previdência, habitação, dentre outras. Historicamente a área da saúde, foi a que mais empregou assistentes sociais no Brasil, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, aumentou quantitativamente o número de profissionais nesta política. Na cidade de Campina Grande - PB, o SAE foi fundado em 2003 e está  subordinado a secretaria Municipal de Saúde. É uma unidade de saúde que presta assistência às pessoas vivendo com HIV/Aids a nível secundário com  intuito de prestar atendimento integral aos usuários por meio de uma equipe multiprofissional,  formada por médicos, assistentes sociais, psicólogas, secretárias, recepcionista, dispensadora de medicamentos, farmacêutica, técnicas de enfermagem, dentistas, e coordenador(a). Algumas das atividades principais são: atendimento em infectologia; ginecologia; pediatria; odontologia; apoio psicológico e social; distribuição de insumos e preservativos; dispensação de medicamentos; atividades educativas que visam incentivar a adesão ao tratamento a prevenção e controle das Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Assim, como em todas as outras áreas de atuação, na saúde pública o assistente social encontra vários dilemas na ação profissional, na atual conjuntura de desmonte dos direitos sociais. Dilemas estes que  perpassam pelas condições de trabalho, pelas  demandas impostas a profissão, e pelas necessidades dos usuários. Particularmente junto as pessoas que vivem com Aids, antigos e novos desafios estão postos, lidar com um doença permeadas por estigmas e preconceitos é desafiados tanto pra os profissionais que atuam nesta área e principalmente para quem descobre está com a doença. A Aids surge no Brasil na década de 1980, sendo identificado primeiramente nos grandes centros urbanos, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, rapidamente torna-se um problema mundial, atingindo a todos sem discriminação e exigindo medidas urgentes de prevenção e tratamento. A doença inicialmente atingiu homossexuais, usuários de drogas ilícitas e prostitutas, esse perfil foi se modificando e atualmente a doença apresenta características como: feminização, juvenilização, interiorização, envelhecimento e palperização. Importa destacar que as demandas advindas deste público são as mais variadas possíveis. Lidar com usuários cuja doença ainda não tem cura, embora tenha tratamento,  exige do profissional total atenção na abordagem individual e/ou em grupo, demandando qualificação e aprofundamento profissional, principalmente, no que diz respeito a algumas questões, a exemplo do aconselhamento e do acolhimento. Além de todas as atribuições e competências inerentes a profissão, a atuação do assistente social junto as PVHA, deve se pautar na orientação e informação para a garantia de direitos  que perpassa por  questões trabalhistas, previdenciárias e jurídicas e aqueles previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)[2]. A atuação deve se dá através de abordagem individual ou em grupo, com enfoque  educativo/reflexivo, informando  sobre o tratamento e os serviços responsáveis pela demanda a este público. Construir estratégias eficazes de enfrentamento da epidemia na área da prevenção é um dos desafios que se coloca na atualidade. O principal instrumento dessa estratégia é o processo educativo. Dessa forma, entendemos que a educação para a saúde enquanto processo de interação e formação de sujeitos passa necessariamente pela inclusão de temas como cidadania, gênero, sexualidade, etnia, direitos humanos, entre outros, buscando a construção de valores e atitudes saudáveis que promovam o desenvolvimento da autonomia e do senso de responsabilidade individual e coletivo. Quanto às possibilidades, a atuação do assistente social, se dar por várias vias, e seu conhecimento reflete cotidianamente na sua atuação.  Ao mesmo tempo em que participava das oficinas; salas de espera; refletia comigo mesmo (em cada tema abordado) sobre tudo que aprendemos em sala de aula, sobre a dinâmica desse sistema capitalista tão excludente. A atuação junto as PVHA,  mostrou que muitas possibilidades para se atuar área, que perpassa pelo acolhimento; informação; dar suporte para o enfretamento das dificuldades sociais; Incluir os usuários nas políticas sociais; estimular o usuário a reivindicar por seus direitos; e atuar de forma interdisciplinar para que o trabalho na instituição tenha resultados positivos. Portanto, a experiência foi de suma importância para a formação, uma vez que neste espaço encontramos desafios e possibilidades de atuação que farão parte de toda e qualquer fazer profissional, seja na área da saúde ou em outra área de atuação. [1] Importa frisar que, o serviço social, não deve ser uma profissão tecnicista, ou seja, o trabalho do assistente social, não deve ser orientado de forma mecânica e técnica, mas, sobretudo, atuar de forma crítica, buscando associar totalidades e particularidades das demandas oriundas das expressões da questão social. [2] A LOAS, é uma lei federal 8.742/07 de Dezembro de 1993, que define em seu  Art. 1º “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”.  A LOAS regulamentou dois artigos  da Constituição Federal/88 (203 e 204 que tratam da assistência social)  garantindo o modelo de gestão e de controle social de forma descentralizada.

Palavras-chave


Estágio; Serviço Social; HIV/AIDS