Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INTERCONSULTA: abordagem multiprofissional e interdisciplinar entre residentes em Saúde da Família na assistência ao pré-natal de baixo risco
Bianca Waylla Ribeiro Dionisio, Micaelle Oliveira Vieira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


A qualificação, a humanização e ampliação do cuidado a saúde da mulher por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) interligado a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher causam impactos significativos na redução das taxas de mortalidade materno e infantil. Para efetivar essa atenção qualificada, a principal estratégia é assistência pré-natal que visa à detecção e intervenção precoce das situações de risco (BRASIL, 2012). O pré-natal de acordo com Teixeira, Amaral e Magalhães (2010) é um espaço de suma importância para que as mulheres possam esclarecer suas duvidas e ansiedades, além de despertar o interesse para obter mais informações. Sendo assim, os autores ainda enfatizam que é indispensável que esses saberes sejam repassados de forma correta, a fim de sensibilizar e incentivar o autocuidado apoiado. A partir das legislações vigentes o enfermeiro tem entre suas responsabilidades realizar a consulta de enfermagem e prestar a assistência a gestante, parturiente e puérpera (BRASIL, 1986). Segundo Dotto, Moulin e Mamede (2006) esse profissional deve ser sensível, ter capacidade de ouvir, transmitir confiança e criar vínculos com a usuária. A atuação do profissional nutricionista nas ações do pré-natal de acordo com Mello e Marchiori (2001) é cercada por muitas duvidas sobre os procedimentos realizados individualmente e também a respeito de uma abordagem socioeconômico e cultural das gestantes. Nos resultados da pesquisa realizada pelas autoras acima fica nítido que as gestantes consideram essencial o atendimento com a nutricionista, sanando duvidas e trazendo alternativas para uma dieta balanceada e saudável. Partindo dessas concepções é notória a importância dos atendimentos de ambos profissionais da saúde a essa usuária, sendo assim as interconsultas possibilitam o dialogo interdisciplinar e multiprofissional com uma abordagem embasada nos princípios da clinica ampliada. As interconsultas são instrumentos que visam compreender, aprimorar e qualificar a assistência ao usuário rompendo as barreiras do sistema biomédico, abrangendo o contexto sociocultural e epidemiológico do individuo, promovendo saúde e prevenindo doenças, envolvendo ainda a família e equipe de saúde. A abordagem multiprofissional e interdisciplinar é “um novo trabalho, com um novo olhar, com uma nova forma de organização, constituindo-se um desafio, inclusive no que concerne à consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS)” (GELBECKE, MATOS, SALLUM, p.32, 2012).  Com isso, nosso objetivo geral é relatar a experiência de interconsultas durante a assistência pré-natal as gestantes de baixo risco acompanhadas por uma Estratégia Saúde da Família do município de Sobral- Ceará. As interconsultas foram realizadas pela Enfermeira e a Nutricionista, Residentes em Saúde da Família no período de maio a agosto de 2015 em um Centro de Saúde da Família, nas terças-feiras no turno da tarde e cada consulta durava em média de uma hora. Vale ressaltar, que essa nova abordagem é considerada essencial na prestação de um cuidado holístico ao usuário, contudo nunca tinha sido vivenciada por ambas profissionais no percurso acadêmico/profissional, diante disso o desconhecimento e a falta de prática acarretaram a principio insegurança e medo em relação dos benefícios desse atendimento diferenciado. As primeiras interconsultas foram iniciadas timidamente, causando um estranhamento tanto por parte das gestantes que eram acostumadas somente com a consulta de enfermagem e médica, quanto pelas profissionais. Entretanto, no decorrer de nossa prática, a leveza sensibilidade e conexão foram se moldando, e aos poucos as falas se complementavam, deixando as usuárias mais seguras, envolvidas e interessadas no pré-natal. Nas interconsultas realizamos as coletas de informações das usuárias, abordando seu histórico clínico, obstétrico e familiar, elaboramos diagnósticos situacionais, além de um acompanhamento da evolução da situação e plano de cuidados multiprofissional, ampliando nossos compartilhamentos para os demais profissionais que compõem a equipe como o cirurgião-dentista, massoterapeutas, médica da unidade e outras especialidades de acordo as particularidades de cada gestante, resgatando sempre o principio da clínica ampliada em reconhecer nossos limites de conhecimento e das tecnologias, buscando novos saberes e apoios, coresponsabilizando a equipe para trabalhar juntos e contribuindo assim para uma atenção humanizada e de qualidade. A enfermeira residente embasou os atendimentos das gestantes no protocolo municipal de Atenção Integral à Saúde da Gestante e da Puérpera de baixo risco onde foi realizado verificação da pressão arterial, peso e altura, anamnese, escuta das principais queixas, exame físico com medida da altura uterina, ausculta dos batimentos cardíacos fetais, cálculo da idade gestacional e data provável do parto, leitura e solicitação dos principais exames obstétricos de rotina, imunização e avaliando a estratificação de risco. A nutricionista residente atuou realizando avaliação nutricional das gestantes, usando as medidas antropométricas (peso, altura) e Índice De Massa Corporal (IMC), orientações quanto ao ganho de peso adequado durante a gestação e quanto ao manejo da dieta e a importância dos hábitos saudáveis durante esse período, tanto para a mãe quanto para o bebê. Além disso, realizamos o cadastro do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) para o monitoramento contínuo do estado nutricional das gestantes, acompanhando ainda por meio do gráfico de IMC por semana gestacional que de acordo com o Ministério da Saúde é de extrema importância o registro no prontuário e no cartão da gestante, pois é capaz de fornecer informações para prevenção e controle de agravos à saúde e à nutrição, ofertamos orientações quanto aos cuidados com as mamas, incentivo ao aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do bebê, orientações sobre parto e pós-parto, cuidados com recém-nascido entre outras abordagens. Todas as gestantes eram convidadas a participar do grupo, onde as residentes e equipe básica realizavam ações educativas semanais.  Os resultados foram surgindo ao passo que nossas consultas foram melhorando, nos atentando sempre no movimento da educação permanente no trabalho e para o trabalho, pois nossas usuárias sempre nos incentivam a ampliar nossos conhecimentos e principalmente cruzar nossos olhares a fim de possibilitar uma atenção mais humanizada que oportunize o diálogo, a expressão de dúvidas, anseios, medo, bem como trabalhar com ofertas e negociações, utilizando uma linguagem compreensível questionando sempre as usuárias sobre o entendimento das informações repassadas, ampliando esse espaço para que as gestantes se sintam seguras aderindo o pré-natal e todos os cuidados envolvidos.  Em nossa percepção as interconsultas são de suma importância para o enriquecimento na formação enquanto profissionais da saúde/ residentes ampliando e incentivando a integralidade do cuidado por meio da soma de diversos olhares, fortalecendo os vínculos, reconhecendo os contextos e apoiando a mulher nessa fase tão especial, resultando em uma maior eficácia dos serviços e ações ofertadas e um acompanhamento humanizado.

Palavras-chave


Interconsultas; Saúde da Família; Multiprofissional; Pré-natal

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Clínica ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.

 

MARCHIORI, M. R. T.; MELLO, S. S. Atuação do nutricionista nas ações do pré-natal: prática de saúde a serviço da vida. Disciplinarum Scientia. série: Ciên. Biol. e da Saúde, Santa Maria, v.2, n.1, p.1-15, 2001.  Disponível em:< http://sites.unifra.br/Portals/36/CSAUDE/2001/atuacao.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2015.

 

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GELBECKE, F. L.; MATOS, E.; SALLUM, N. C. Desafios para a integração multiprofissional e interdisciplinar . Revista Tempus Actas de Saúde Coletiva, 2012.  Disponível em: <http://www.tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/viewFile/1202/1087>. Acesso: 20 ago. 2015.

 

TEIXEIRA, I. R.; AMARAL, R. M. S.; MAGALHÃES, S. R. Assistência de enfermagem ao pré-natal: reflexão sobre a atuação do enfermeiro para o processo educativo na saúde gestacional da mulher.e-Scientia, v.3, n.2, 2010.

 

DOTTO, L. M. G.; MOULIN, N. M; MAMEDE, M. v. Prenatal care: difficulties experienced by nurses. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto,  v. 14,  n. 5,  2006.  Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692006000500007 >. Acesso em: 20 ago. 2015.